“O Manchester United não nos deixava jogar sem termos boas notas na escola”


Esteve no Manchester United, jogou na Hungria e em Angola e está a formar-se em gestão do desporto.

Está a tirar o curso de Gestão do Desporto. O que o motivou a voltar a estudar?
Desde logo por ter familiares formados e foi uma das promessas que tinha feito à minha mãe e às minhas tias: quando sentisse que era a altura certa da minha carreira, não só do futebol, mas também fora, para voltar aos estudos que ia fazê-lo. Senti que neste momento era a altura certa, voltei agora neste ano letivo.

Como é que está a ser esta fase de adaptação?
Está a ser uma boa experiência. Não está a ser fácil, mas está a ser bastante agradável. Sou uma pessoa que gosta de desafios e para mim está a ser um bom desafio.

E como foi antes desta pausa? Terminou o 12.º ano e só depois parou ou já tinha desistido noutra altura? É que, além do compromisso com o futebol, também viveu em Inglaterra, em Angola e na Hungria….
Sim, consegui fazer o 12.º ano seguido até porque tinha de o fazer. O Manchester United não nos deixava jogar sem termos boas notas na escola e tinha de focar-me nesse sentido. Durante algum tempo tive de suspender os meus estudos porque quis apostar na minha carreira desportiva, naquilo que é o meu sonho, mas agora voltei e estou a conseguir conciliar as duas coisas.

Onde está a estudar?
Estou no ISMAI.

Tirar uma licenciatura era um objetivo que sempre teve?
Sim, para mim sempre foi um objetivo. Gosto de trilhar o meu caminho e de ter os meus objetivos bem traçados. Sempre tive a ideia de regressar aos estudos e tirar o meu curso quando tivesse os meus 27/28 anos porque não quero acabar a carreira e sentir-me perdido. Infelizmente, nem todos podemos ganhar dinheiro suficiente durante a carreira, não vou dizer para depois não trabalhar, mas até para fazer investimentos.

O que é que se vê a fazer quando terminar o curso?
Para já escolhi a licenciatura de Gestão do Desporto, mas depois quero continuar e fazer um mestrado de dois anos na área de Gestão Empresarial. Ainda é cedo para falar, mas não quero estar diretamente ligado ao futebol, posso estar ligado a outro tipo de desporto ou em termos de organização dentro do desporto. Mas, para já, ainda não me passa pela cabeça estar ligado ao futebol.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Penso que neste momento já há mais apoio nesse sentido e nesta fase passa mais por uma opção do próprio jogador, que tem de tomar a iniciativa e ter força de vontade para poder conciliar os estudos com o futebol.

A família e o Leixões apoiaram-no relativamente aos estudos?
Sim. Foi uma enorme alegria para a minha família por me verem, passados alguns anos, tomar a iniciativa de voltar a estudar sem qualquer tipo de pressão, e também para o clube, porque é satisfatório verem um atleta preocupar-se com o futuro, abrir novos horizontes e estar preparado para o que vier.

Sente que é visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Por alguns, sim. Há muitos jogadores que pensam em dar continuidade aos estudos, mas às vezes há aquela falta de iniciativa e de incentivo por pensarem que é difícil. É difícil, sim, mas parte muito da força de vontade do jogador. Temos de aproveitar agora que temos bastante tempo para poder estudar do que mais tarde, quando a carreira terminar. Aí já não é só o tempo, é também o facto de o jogador acabar a carreira e sentir-se perdido porque tem de procurar trabalho, depois conciliar com o trabalho diário, que não é a mesma coisa que o nosso trabalho de jogadores de futebol, e é tudo mais difícil.

E os colegas da faculdade olham para si com alguma admiração pelo esforço de conciliar os estudos com o futebol?
Noto em alguns, sim, mas o bom de estar na universidade é que nem toda a gente acompanha o futebol e também serve como um escape para desligar um bocadinho do futebol, para falar de outras coisas. Também é um bom recanto para nos refugiarmos.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Sim, cada vez mais. O futebol é um mercado muito difícil e, infelizmente, sinto que os pais cada vez menos incentivam os filhos a continuar os estudos. Chega a uma altura em que o futebol é um sonho muito complicado, é uma ilusão muito grande. É preciso ter muita sorte, trabalhar muito, e se pudessem conciliar as duas coisas seria muito bom.

Aconselha os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Sim, isso de certeza. Podem não dar continuidade já, mas metam na cabeça esse objetivo e vão em frente com isso porque é muito importante.

Sabe se há mais jogadores do Leixões a estudar?
Sei que o Bernardo Martins está a tirar Engenharia. Acho que está no terceiro ano. É novo e está no bom caminho, não só no sentido académico, mas também no futebol.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Acredito que possa ajudar. Falo pela pequena experiência que tenho tido. Uma pessoa acaba por dar mais prioridade a certas coisas e também acaba por se focar mais no futebol. Os estudos dão muita responsabilidade que, de certa forma, vai ajudar-nos dentro do campo. Mesmo no dia-a-dia como jogadores profissionais. Acaba por ajudar muito.

Qual é a sua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
Acho que, ano após ano, tem sido muito importante e tem vindo a melhorar bastante. Já tive casos em que o Sindicato me ajudou, tal como a colegas meus, e só posso dar os parabéns pelo trabalho que têm feito. Continuem a representar-nos que estão a fazê-lo muito bem.


Perfil
Nome: Evandro Elmer de Carvalho Brandão
Data de nascimento: 7 de maio de 1991
Posição: Avançado
Percurso como jogador: Walsall (Inglaterra, formação), Manchester United (Inglaterra, formação), Benfica (formação), Fátima, Gondomar, Videoton (Hungria), Olhanense, Tondela, Recreativo do Libolo (Angola), Kabuscorp (Angola), Benfica e Castelo Branco, Fafe e Leixões.