Sólido como uma Rocha

Com a camisola do Dínamo Minsk (Bielorrússia), o defesa cumpre a primeira experiência fora de Portugal.
Aos 32 anos, Luís Rocha emigrou pela primeira vez. Trocou o Feirense pelo Dínamo Minsk e mudou-se para uma realidade completamente diferente. Apesar da boa adaptação, diz que se puder regressa ao nosso campeonato, até porque, segundo ele, não há dinheiro que pague ouvir a nossa língua.
Que balanço fazes dos primeiros meses fora de Portugal?
A adaptação tem sido algo fácil porque tenho aqui alguns jogadores que falam Inglês, nomeadamente o capitão de equipa, que é croata, e andamos sempre quatro ou cinco jogadores juntos: dois croatas, dois sérvios e um ganês. Durante os treinos, o capitão traduz-me qualquer coisa que precise dizer ao treinador, quando vou às compras também vamos juntos, por isso tem sido algo fácil.
Mas o idioma tem sido um problema então…
Aqui dificilmente encontras alguém na rua que fale Inglês. Até nos bancos! Podes ter a sorte de apanhar um ou outro funcionário que fale, mas é difícil.
Já aprendeste algumas palavras em Russo?
Já, claro. Aprendi a cumprimentar, a despedir-me e depois termos futebolísticos, a dizer esquerda, direita, frente, trás, sozinho, homem….
Estás a ter aulas?
Por acaso não. O capitão deu-me dois ou três programas que ele também aprendeu quando veio para cá, para falar em Russo, e vou todos os dias vou tendo umas lições em casa. Vou sempre aprendendo qualquer coisa.
Qual é o fuso para Portugal?
São mais duas horas na Bielorrússia.
Como é viver em Minsk?
É uma cidade porreira para se viver, uma cidade bonita que está em fase de renovação total porque eles vão ter aqui um torneio de hóquei no gelo no próximo ano e estão a fazer muitas infraestruturas, muitos prédios, pavilhões, também temos um estádio novo…. Estão a melhorar muito a cidade. O clima, para já, tem sido bom. Disseram-me que a partir de novembro é que vem o frio. Agora tem estado sol e parece um bocado tropical, de vez em quando chove, mas mantém-se a temperatura.
Vives mesmo no centro?
Vivo a uns quinze minutos do centro. Só que aqui os acessos são muito fáceis, é só retas. E aqui é tudo plano, não há altos e baixos. Mas conduzir aqui é completamente diferente. Aqui tens de estar mesmo concentrado a olhar para a estrada. Eles ultrapassam pela esquerda, pela direita, não há regras nesse aspeto. Estás parado num semáforo e de repente vem um que se mete à tua frente à espera que fique verde. E é tudo normal.
E nunca te perdeste?
Até agora correu sempre tudo bem. Mas posso-te admitir que todos os dias vejo um acidente! Todos os dias! Eles a conduzir são um bocado animais, tens de estar mesmo concentrado. Depois estão sempre ao telefone enquanto conduzem. É sempre a andar.
Emigraste pela primeira vez aos 31 anos. Jogar no estrangeiro era um objetivo por cumprir?
Se calhar nunca pensei que fosse jogar fora do país. Sempre tive oportunidades, mas nunca se concretizou por um ou outro motivo. Sempre ouvi dizer que se ganhava mais no estrangeiro e a verdade é que consegui fazer um contrato mais vantajoso para mim.
Mas não sentias esse espírito de aventura? De descobrir novos países e culturas?
Sim, também, mas nunca imaginei emigrar para um país como este. O pessoal fala sempre do Chipre, da Roménia, por aí, agora Bielorrússia….
Se pudesses escolher, em que liga gostarias de jogar?
Na Premier League, sem dúvida. É o meu destino de sonho. Identifico-me muito com o futebol que se joga lá.
Nos poucos jogos que já fizeste pelo Dínamo Minsk está a eliminatória de loucos com o Zenit. São jogos que vais recordar para sempre?
Sempre. Um porque na primeira mão chegámos ao céu: 4-0, um ambiente fantástico, estádio cheio, fizemos um jogo de loucos. Depois um segundo jogo que não dá para explicar. Já jogo futebol há alguns anos e sei que é possível isto acontecer, mas ninguém conseguia prever que fosse uma diferença tão enorme [n.d.r.: derrota por 8-1 após prolongamento]. Nos últimos três golos a equipa já tinha perdido o foco no jogo e aquilo já foi de cabeça muito quente e a equipa completamente perdida.
Como é que foi estreares-te este ano nas competições europeias?
Foi incrível! Entrar em campo e ouvir a música da Liga Europa foi arrepiante, uma sensação maravilhosa, que nunca vou esquecer. Foi na Eslováquia [no terreno do FC DAC 1904], num estádio espetacular, cheio, e ganhámos 3-1. Foi fantástico!
Que diferenças existem entre a Liga bielorrussa e a nossa?
Há muitas. Eles aqui trabalham muito a nível físico. OK, podem não ser tão bons tecnicamente, mas são muito fortes. São jogos sem pausas, não vemos as equipas a manter a posse de bola à espera que o adversário erre. Aqui a bola está sempre em andamento, eles estão sempre a correr, há muitos confrontos ao nível aéreo. O futebol aqui é muito físico.
Sentes que te cobram mais por ser estrangeiro ou, por outro lado, és mais protegido por isso?
Às vezes noto que podem olhar para mim um bocado de lado por ser estrangeiro. Não percebo o que possam dizer porque não percebo Russo [risos], mas protegido não sou, até porque aqui a mentalidade é um bocado fechada. Pelo que me parece, nos últimos anos mudou um bocado e estão a receber melhor os estrangeiros, mas não é como em Portugal, nós recebemos bem os estrangeiros.
Estás a iniciar esta aventura, é cedo para fazer esta pergunta, mas pensas regressar a Portugal ou se puderes vais preferir continuar a carreira no estrangeiro?
Prefiro e pretendo regressar a Portugal, sem dúvida. Até porque dá sempre aquela saudade da família, dos amigos, até do próprio campeonato. E depois ouvir a nossa língua. Não há dinheiro que pague isso! [risos]
O que é que vais levar na mala sempre que vieres a Portugal?
Aqui encontras tudo o que tens em Portugal, até em termos de comida. Cozinho aqui, tenho cá a minha namorada que me ajuda nesse aspeto. Também consegui um pacote que tem todos os canais portugueses e isso é top! Quando chegas a casa e ligas a televisão, ouves falar Português e é fantástico. Não é fácil passar o dia a falar em Inglês e a tentar perceber o Russo, às vezes é um bocado cansativo. Mas basicamente encontra-se tudo aqui.
Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
É fundamental. Todos os jogadores deveriam ser sócios porque o Sindicato abre imensas portas, não só no presente, mas também no futuro: oferece várias oportunidades de emprego aos jogadores que estão a terminar a carreira, é muito prestável nas situações de salários em atraso… Os jogadores deviam informar-se porque o Sindicato é mesmo muito importante.
Perfil
Nome: Luís Carlos Rocha Rodrigues
Data de nascimento: 16/08/1986
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Vitória de Guimarães (formação), Torcatense, Oliveirense, Mirandela, Merelinense, Lousada, Vizela, SC Covilhã, Freamunde, Feirense e Dínamo Minsk.