“Sinto que, por estar em França, sou mais valorizado enquanto jogador”


Aos 23 anos, o lateral do Guingamp ganhou o seu espaço em França, onde não abdica de Cerelac.

Cumpres a segunda época no Guingamp. Que balanço fazes desta experiência na Ligue1?
O balanço é muito positivo. Tenho aprendido muito e sinto que tenho evoluído neste campeonato. Por me estar a sentir bem e por me ter adaptado muito bem à Liga, esta época está a correr-me ainda melhor. Por isso, acho que o balanço é positivo e quero continuar a dar o meu melhor para ajudar o clube nos seus objetivos.

Como é que foi a adaptação ao país?
Foi muito fácil, não tive dificuldades. Se calhar, no início, senti um bocado em relação à língua, mas é normal. Percebia um bocadinho de francês, pelo que aprendi na escola, e sabia escrever, mas não falava muito. Depois de dois meses aqui já conseguia falar e entender. A partir daí foi mais fácil.

Na adolescência trocaste o Juventude de Évora pelo Benfica. Custou-te mais trocar Évora por Lisboa nessa altura ou agora trocar de país?
Não sei. Se calhar o mais difícil foi mesmo trocar o Juventude de Évora pelo Benfica. Na altura ainda era muito jovem, tinha 12 anos, era uma aventura nova para a minha idade. Acho que foi o que me custou mais. Depois de estar tanto tempo fora, primeiro em Lisboa, entretanto fui para Guimarães antes de vir para aqui, já vim com outra idade e experiência, mais maduro. Já não me custou tanto a mudança e a adaptação.

Já falaste da língua francesa. E como é que foi a adaptação à comida e ao trânsito? Correu tudo bem ou houve alguns percalços pelo meio?
Foi muito fácil. Não vou assim a muitos restaurantes aqui, mas quando vou gosto e a comida é muito boa. Em relação ao trânsito, na zona onde estou a viver não há assim muito, portanto não tive grande dificuldade em relação a isso.

Como é viver em Guingamp? É um meio pequeno?
Não vivo em Guingamp, vivo a 25 kms da cidade. É um sítio tranquilo. Tem alguns cafés, supermercados, mas não é muito grande e, como tal, não tem grandes espaços comerciais para fazer alguma coisa. Também não sou muito de sair de casa, por isso, para mim, chega.

É mais pequeno do que Guimarães, por exemplo?
Sim. Guingamp tem 7500 habitantes, é muito mais pequeno. Guimarães é uma cidade que tem vida. Aqui não tem assim muita vivacidade. Vemos algumas pessoas, mas não tem um shopping nem muitas coisas para fazer, se quisermos sair da rotina.

Tens espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Acho que sim. Normalmente gosto muito de estar em casa, mas neste ano e meio já tive oportunidade de visitar um bocadinho a França e tem sido muito giro. Tenho conhecido várias partes de França e tem sido muito interessante.

Sempre que podes aproveitas para ir conhecer outras cidades?
Sim. Quando tenho cá a minha namorada ou amigos. Assim que há uma oportunidade, uma folga ou uma tarde livre, tentamos sempre conhecer alguma cidade nova. Andamos aqui pela Bretanha ou pela Normandia também.

Do que é que mais gostaste do que já conheceste? O que é que recomendas?
Talvez o monte de Saint-Michel. É a uma hora e meia de onde vivo. Para quem conhece, o monumento fala por si, mas para quem não conhece, como era o meu caso, é uma coisa muito bonita para conhecer. Acho que vale a pena. Também já estive em Paris, mas, nesta parte de França, é o que recomendo.

Já ganhaste algum hábito da cultura francesa?
Por acaso, há uma coisa que eles fazem muito e já ganhei esse hábito, que é beber água com gás e limão. Bebia sempre água sem gás, normal, mas aqui apanhei esse hábito por ver nos estágios. Bebem água com gás e põem limão no copo. Acho que foi o único hábito que ganhei desde que estou aqui.

O que é que levas na mala sempre que vens a Portugal?
Normalmente é a minha namorada que traz a comida ou o que quer que seja de Portugal e o que gosto de lhe pedir, que aqui não têm, é pão de alho, que gosto muito, e Cerelac. Não como todos os dias, mas de vez em quando apetece-me. São as duas únicas coisas que peço à minha namorada para trazer porque, de resto, também têm aqui muitas coisas que comia em Portugal. Não há assim muita diferença.

Apadrinhaste a estreia do Neymar pelo Paris Saint-Germain mas não lhe pediste a camisola. Costumas procurar os craques para fazer esses pedidos?
Por acaso nesse jogo não pedi ao Neymar porque, apesar de ser um jogador que admiro, já sabia que toda a gente lhe ia pedir. Nesse jogo até pedi ao Dani Alves. Mas não costumo pedir. Normalmente troco com jogadores portugueses ou com jogadores que já tenha defrontado, mas nem costumo pedir camisolas. Este ano pedi para trocar com o Di María. Acho que foi a única vez que pedi a alguém para trocar a camisola. De resto, foi só com os portugueses.

Apesar de não teres esse hábito, já tens uma coleção de fazer inveja?
Sim, já tenho algumas. Não sou um grande colecionador, podia ter mais camisolas. Quando tenho oportunidade e o outro jogador também está interessado em trocar, acabamos por fazê-lo.

Quais são as principais diferenças entre a Ligue1 e a liga portuguesa?
Em termos de jogo, são a intensidade e a potência devido aos jogadores que eles têm. E talvez a qualidade técnica. Os jogadores são muito bons tecnicamente. Em relação à Liga em si, os estádios. Aqui praticamente todos os estádios estão cheios e têm um relvado muito bom. Penso que são essas as grandes diferenças do campeonato francês para o português.

Sentes que em França te cobram mais por seres estrangeiro ou, por outro lado, és mais protegido por isso?
Não sei. Aqui sinto muito mais pressão por ser um campeonato muito mais competitivo. Claro que quando se defronta Paris Saint-Germain, Marselha, Lyon, esse tipo de equipas, a fasquia é mais elevada, têm um número maior de jogadores com qualidade, e penso que isso me faz crescer e faz com que sinta uma maior pressão do que sentia em Portugal.

Foste internacional desde os sub-16 até aos sub-21 e jogas numa das principais ligas europeias. Sentes que a seleção A é um sonho próximo de cumprir?
Próximo não sei, mas é claramente um sonho e um objetivo que tenho desde que jogo futebol. Neste momento, um dos meus principais objetivos é ter a oportunidade de um dia ser chamado pelo selecionador. Cá estou eu para trabalhar e demonstrar que um dia mereço uma oportunidade.

A propósito de objetivos: não escondes que o Benfica, onde fizeste a maior parte da formação, é o clube do teu coração. Regressar é um objetivo a médio/curto prazo?
Em relação a ser benfiquista, sim, não escondo. Não é que tenha alguma coisa contra os outros, gosto dos clubes portugueses, mas como cresci a ser benfiquista, e como joguei lá, tenho um carinho especial pelo Benfica. Mas nunca impus o objetivo de regressar. Não tive oportunidade de jogar pela equipa A, que era uma coisa que ambicionava, mas claro que nunca irei fechar a porta ao Benfica porque é um clube pelo qual tenho um grande carinho e é um dos melhores da Europa. Mas não é um objetivo a curto prazo.

Se depender apenas de ti: pensas em regressar a Portugal ou preferes continuar a carreira no estrangeiro?
Isso é uma boa pergunta. Acho que até prefiro ficar no estrangeiro. Sinto que, por estar no estrangeiro e num campeonato melhor que o português, sou mais valorizado enquanto jogador. O facto de estar num grande campeonato e, se calhar, de um dia poder estar num dos melhores clubes da Europa, dá-me outro tipo de visibilidade. É isso que pretendo, como todos os jogadores.

Ainda em relação ao futebol português: depois do Benfica, estiveste uma época no Moreirense. O que significou vencer a Taça da Liga nesse ano?
Foi algo de que não estava à espera. Acho que nenhum dos meus colegas estava. Para mim significou que, apesar de haver clubes que normalmente ganham tudo em Portugal, as equipas pequenas também têm sempre uma palavra a dizer e têm muitos jogadores de qualidade, como nós tínhamos. Conseguimos um feito histórico. Foi o meu primeiro título oficial enquanto jogador profissional e, até agora, acho que foi o momento mais marcante da minha carreira.

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Tem um papel fundamental. Aqui em França também estou inscrito e penso que todos os jogadores deveriam aderir ao Sindicato. É sempre uma ajuda extra para todos os jogadores, caso tenham lesões, questões com os contratos, o que seja, e pode resolver muitos problemas que o jogador possa ter. Acho que todos os jogadores deveriam estar a par e ser conhecedores do trabalho do Sindicato para estarem dispostos a serem ajudados.


Perfil
Nome: Pedro Miguel Braga Rebocho
Data de nascimento: 23 de janeiro de 1995
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Juventude de Évora (formação), Benfica (formação), Benfica B, Moreirense e Guingamp (França).