“Hoje quem lidera valoriza a empatia e a proximidade treinador/jogador”


Com passagens por Pinhalnovense e Desp. das Aves, entre outros, Paulo Fonseca estreia-se esta época na I Liga no comando técnico do P. Ferreira.

Na I e II ligas só há um treinador estrangeiro (Jokanovic, no União da Madeira). É sinal do valor do treinador português?
Claramente, este facto atesta o valor e a evolução do treinador português. Mas não sou contra a vinda de treinadores estrangeiros. Nós também estamos numa fase, porque estamos valorizados, em que temos necessidade de emigrar. Agora não tenho dúvidas, que o treinador português tem um conhecimento do treino e do jogo único e que nos permite estar ao nível dos melhores lá fora.

 

A reintrodução das equipas B é bom para a competição?
Sim, penso que em termos de qualidade do jogo vem acrescentar algo. O que é mau é o número excessivo de equipas. Quanto à aposta em promover jogadores jovens, ainda tenho algumas dúvidas, mas acredito que naturalmente isso irá acontecer.

 

O horário dos jogos tem influência no rendimento dos atletas? Qual a sua hora preferida para a sua equipa jogar?
Depende do estado do tempo. Quando está demasiado calor o rendimento dos jogadores diminui. Não tenho uma hora preferida, mas não gosto muito de jogar de manhã.

 

O Paulo foi um jogador de I Divisão. Nota muitas diferenças do futebol actual para o do seu tempo?
Muitas e para melhor. Melhorou quase tudo. Só não melhorou o entusiasmo e a paixão dos adeptos. De resto, ao nível do treino e do jogo, houve uma evolução natural nos seus processos e também ao nível das condições em geral houve uma evolução significativa.

 

A relação treinador/jogador tem mudado ao longo dos anos?
Sim e muito Antigamente havia uma distância muito grande entre ambos, impunha-se uma liderança fria e distante. Hoje, quem lidera valoriza a empatia e a proximidade. Neste aspecto, houve uma revolução na forma de liderar. Julgo que hoje os treinadores valorizam imenso o relacionamento próximo como forma de influenciar positivamente o grupo.

 

Agora é treinador. Quando era jogador teve alguma atitude para com os seus treinadores que agora, ao olhar para trás, veja que deveria ter agido de outro modo? Por exemplo?
Não recordo  nenhum episódio em especial, já que tinha uma grande preocupação em ter um comportamento correcto. Agora nós enquanto jogadores somos muito individualistas e eu naturalmente também tive momentos em que o "eu" influenciava o meu estado de espírito. Mas orgulho-me de ter sido treinado por muitos e bons treinadores e ter sempre uma boa relação com todos.

 

Os dirigentes estão mais pacientes com os treinadores e não recorrem tanto à chamada chicotada psicológica, ou isto é daquelas coisas que não há volta a dar?
Depende das pessoas que dirigem os clubes e até da própria cultura dos clubes. Mas nós somos talvez a profissão que sofre maior avaliação e temos de estar sempre preparados para tudo. A linha que separa o sucesso do insucesso é quase invisível e temos de lidar com isso de uma forma natural.

 

Qual a sua opinião sobre a reformulação dos quadros competitivos?
Não me parece que tragam melhorias significativas. Continuam-se a tomar decisões sem ouvir quem está no terreno e percebe realmente disto. Há quem decida sem nunca ter vivenciado o jogo.

 

Existe algum local ou fórum entre a classe de treinadores para debaterem ideias sobre a profissão?
Existe a Associação Nacional de Treinadores de Futebol e pelo menos no Norte faz-se de vez em quando uns almoços onde nos juntamos para debater ideias. Mas penso que é pouco, deveríamos ser uma classe com muito mais força e mais unida. Há muito a discutir para bem da nossa profissão.

 

Enquanto treinador, tem alguma referência?
Não tento seguir ninguém, apenas ser eu próprio. Mas tive a felicidade de trabalhar com grandes homens e grandes treinadores e mentiria se não dissesse que houve na minha formação quem me influenciasse. Bebi muito de Jorge Jesus e do professor Jean Paul. Ao nível do pensamento do jogo e do treino ensinaram-me muito. São dois "monstros" do nosso futebol, tal é o seu conhecimento e competência. Quinito era um grande líder, a relação dele com os jogadores era fenomenal. Tive um grande prazer em trabalhar com João Alves, é muito persuasivo. Nos dias de hoje existem imensos treinadores que admiro.

 

B.I.:
Nome: Paulo Fonseca

Idade: 39 anos

Clubes como treinador: Estrela da Amadora (juniores), 1.º de Dezembro, Odivelas, Pinhalnovense, Desportivo das Aves e Paços de Ferreira