“A minha chegada ao Wolfsburg é um sonho realizado”

A transferência para o Wolfsburg, finalista vencido da última Champions, foi a cereja no topo do bolo.
O Wolfsburg é o quarto clube da tua carreira como futebolista profissional. Quais são as principais diferenças entre as equipas que representaste, no que diz respeito às condições apresentadas e ao envolvimento dos clubes?
Nos primeiros clubes as diferenças foram algumas, até porque passei do futsal (União de Lagos) para o futebol de 11 em Espanha (Prainsa Zaragoza e Espanhol de Barcelona). As condições no União de Lagos eram muito poucas, até porque era amador, uma equipa de amigas e família. O meu pai era o treinador, a minha mãe a diretora e a minha irmã jogava a defesa. Foi no futsal e com o meu pai que aprendi as primeiras noções de futebol, foi com ele que fiz grande parte da minha formação e desenvolvi o meu caráter futebolístico. Em Espanha encontrei melhores condições, mas o que ganhava era apenas uma pequena ilusão para continuar. A integração foi difícil, até porque só tinha 18 anos e era a primeira vez longe da família. Posso dizer que os sete anos que estive em Espanha foram os mais difíceis da minha carreira. As condições que encontrei na Suécia (Linköping) e Alemanha (VFL Wolfsburg) foram as melhores até agora. A passagem pela Suécia foi um momento muito importante na minha carreira. Foi no Linköping que ganhei os meus primeiros títulos internacionais (dois campeonatos e duas taças), foi este mesmo clube que me lançou e me proporcionou lutar por troféus individuais. Foi no campeonato sueco que aprendi o que é ser profissional e aproximar-me das melhores do mundo. Fez também com que o meu valor chegasse à Alemanha, a uma das melhores equipas do mundo. A minha chegada ao VFL Wolfsburg é um sonho realizado.
Como futebolista, nunca jogaste em Portugal. Regressar ao nosso país e jogar na Liga BPI é um objetivo a curto/médio prazo?
Para já não é algo que tenha em mente, mas desejo acabar a minha carreira em Portugal.
Já estiveste em Espanha e na Suécia e agora estás na Alemanha. Gostarias de jogar noutra liga estrangeira?
Depois da liga alemã, que para mim é a melhor liga do mundo, só mesmo o campeonato francês ou o inglês. Porque são ligas igualmente competitivas e onde encontramos também algumas das melhores do mundo.
Portugal tem subido no ranking feminino da FIFA, tendo atingido recentemente a melhor classificação de sempre (33.º lugar). Sentes que tem havido uma evolução nas condições da Seleção Nacional, desde que começaste nas sub-18 até aos dias de hoje?
Houve uma grande evolução nos últimos anos. As condições neste momento são muito boas, as jogadoras têm todas as ferramentas necessárias para poderem evoluir.
Do que precisa o futebol feminino nacional para continuar a evoluir e tornar-se numa seleção forte? Quais as grandes diferenças entre o que se observa atualmente em Portugal, comparativamente com as realidades vividas no estrangeiro?
Portugal está num bom caminho, tem evoluído muito nos últimos tempos e isso é visível pelos últimos resultados da Seleção Nacional, como por exemplo o apuramento para o Europeu e o 3.º lugar na Algarve Cup, mas também a evolução da Liga BPI. Há que continuar a trabalhar em prol do futebol feminino e as jogadoras devem ter um papel fundamental nessa evolução, sendo cada vez mais profissionais e acreditar que só com muito trabalho e persistência poderemos aproximarmo-nos das melhores seleções do mundo.
Quais são as tuas perspetivas futuras para a carreira, após terminar o percurso como jogadora?
Existem alguns projetos em vista.
Que conselhos gostarias de dar às jogadoras mais jovens?
Acreditar sempre que com muito trabalho e dedicação todos os sonhos podem tornar-se realidade, nunca desistir perante as dificuldades e superarem-se todos os dias.
Quais os momentos mais marcantes da tua carreira?
Os momentos mais marcantes da minha carreira foram os títulos internacionais que ganhei como jogadora do Linköping e do VFL Wolfsburg e a presença na final da Champions League, bem como a participação no Europeu pela Seleção Nacional.
O que terias feito de diferente, ou seja, se tomaste alguma decisão que depois pensaste que não teria sido a mais correta e porquê?
Não, não há nenhuma decisão de que me tenha arrependido.
O que foi mais importante para ti? Representar o campeão alemão e finalista da Champions, Wolfsburg, ou estar entre as 55 nomeadas para o Melhor 11 do mundo de 2016?
São duas conquistas incomparáveis. As duas foram muito importantes para mim. Viver uma final da Champions foi muito marcante, porque só as melhores do mundo com as melhores equipas do mundo têm essa oportunidade e conseguem viver essa experiência. A nomeação para o melhor 11 do mundo foi igualmente importante. Ser das melhores do mundo é algo muito difícil de conquistar que está ao alcance de poucas jogadoras e o facto de ser portuguesa e ter esse reconhecimento mundial deixa-me muito orgulhosa e feliz. É um marco difícil de igualar na minha carreira.
A prestação de Portugal na última edição da Algarve Cup prova que podemos almejar a grandes sucessos num futuro a breve prazo?
Apesar do grande resultado na Algarve Cup, temos de ter os pés assentes na terra e continuar a trabalhar no sentido de evoluir. Acho que a nossa Seleção tem tudo para poder almejar a grandes sucessos, mas ainda nos falta muito trabalho até chegarmos ao nível das melhores seleções do mundo.
O que fazes questão de levar contigo para a Alemanha quando vens de férias a Portugal?
Sobretudo trago sempre o enorme carinho e apoio da minha família que é essencial para ter as forças necessárias para mais uma longa época.
Inscreveste-te no sindicato alemão e sueco?
Não.
Que opinião tens do trabalho realizado pelo Sindicato dos Jogadores em Portugal, no que ao futebol feminino diz respeito?
O Sindicato tem feito um excelente trabalho com as jogadoras, proporcionando segurança e apoio às mesmas.
Nos projetos que tens para o futuro, está alguma coisa ligada ao futebol?
Sim. Gostaria que o meu futuro estivesse ligado ao futebol, e poder ser treinadora de uma equipa é uma possibilidade, visto que é uma área de que gosto.
Qual a importância da família para a tua carreira?
Lidar com a ausência da minha família é a parte mais difícil do meu percurso. Estar longe das pessoas de que mais gostamos é algo muito complicado de suportar. Só mesmo a minha ambição e a minha vontade de ganhar me faz superar essa ausência. A minha família é o meu grande apoio e obviamente que estar longe deles me marca diariamente. Gostaria de os ter presentes todos os dias da minha vida.
E a maternidade? É algo que está nos teus planos?
Sim, ser mãe é um desejo meu. Quero muito viver essa experiência, mas só depois de terminar a minha carreira profissional.