“Viver em Moscovo é o oposto daquilo a que estamos habituados”


Há seis meses na Rússia, o extremo português está a viver a segunda experiência no estrangeiro.

Depois de uma passagem pela liga espanhola, Miguel Cardoso adaptou-se ao frio de Moscovo e está a pensar aprender a língua russa.

Que balanço fazes dos primeiros meses na Rússia?
Faço um balanço muito positivo. É uma realidade completamente diferente daquela a que estamos habituados: um país muito diferente e uma língua muito diferente também. Os primeiros meses foram, sobretudo, de adaptação, como é normal, e acho que, para primeiros tempos, tem estado tudo a correr bem. E estou a gostar de cá estar.

E como é que está a ser lidar com o frio?
Isso foi das coisas mais chocantes porque é um frio muito diferente daquilo a que estamos habituados, com temperaturas negativas. Não é nada do outro mundo. Muda um bocadinho nos jogos, mas é tudo uma questão de hábito.

Qual foi a temperatura mais baixa que apanhaste?
Houve um jogo em que jogámos com 12 ou 13 graus negativos. Aí estava mesmo muito frio.

Com tanto frio, acredito que passes muito tempo em casa ou até se consegue andar na rua?
Como nesta fase tenho estado sozinho, isso também faz com que passe mais tempo em casa. Mas, mesmo com companhia, de certeza que passava muito tempo em casa à mesma porque agora está tudo coberto de neve, ir até Moscovo é muito trânsito e com as condições da estrada assim ainda é mais complicado.

Teres a companhia do Joãozinho, jogador brasileiro naturalizado russo, tem sido importante para falares português?
Sim, tem sido muito importante. Tem sido um apoio, apesar de a equipa técnica falar espanhol. Há mais um ou dois jogadores que falam espanhol, outros inglês, vai sempre dando, mas claro que é sempre muito importante ter alguém que fale português e ajudou-me muito nesta fase de adaptação.

E como tem sido a comunicação com os restantes colegas? Deduzo que o inglês deles esteja longe da perfeição….
Por acaso o nível de inglês deles não é muito desenvolvido, são raros aqueles que falam inglês, e a comunicação que tenho com eles é muito básica, mais dentro de campo do que outra coisa. Nestes primeiros tempos, conseguir comunicar com eles fora do campo é a parte mais difícil.

E tu falas bem em inglês ou isso tem sido mais um obstáculo para a tua adaptação?
Nunca fui grande coisa a inglês. Nestes últimos tempos melhorei bastante e agora já me sinto mais à vontade. Mas praticamente só falo com os estrangeiros porque a maior parte dos russos não fala inglês.

Já aprendeste alguma coisa de russo?
Só mesmo umas palavras muito básicas, palavras de campo e aquelas muito básicas. É uma língua muito difícil, muito diferente da nossa e a letra não ajuda nada para que possa estudar e aprender.

Estás a ter aulas?
Penso ter. Ainda não tive, mas acho que me vai ajudar. Se não vou ter de passar aqui uns bons aninhos para aprender. [risos]

Como é viver em Moscovo?
É o oposto daquilo a que estamos habituados. Em Portugal temos uma vida tranquila, mesmo em Lisboa ou no Porto. Temos algum trânsito, mas nada que se compare com Moscovo. Aqui são cerca de 14 milhões de habitantes, salvo erro, e é uma cidade muito grande, com muito trânsito. É quase como se fosse outro mundo! Mas é muito bom viver em Moscovo, tem N sítios para conhecer e explorar, o que é muito positivo porque há sempre algo para fazer nas folgas e nos poucos tempos livres que temos.

Conduzes aí?
Conduzo. O clube deu-me um carro para me deslocar, para ir para os treinos e poder explorar um pouco a cidade nas folgas. Não a vou poder conhecer toda, de certeza absoluta, porque é enorme.

Vives mesmo no centro da cidade?
Estou a cerca de 25/30 kms do centro e ainda bem, se não estava desgraçado com o trânsito. [risos]

Se um amigo te visitasse agora, que sítios escolherias para lhe mostrar?
A famosa Praça Vermelha, que é muito bonita. É das melhores partes da cidade. O próprio Kremlin, que é lá ao lado. No centro há muitas coisas para conhecer, também ainda não vi muito. Ainda tive pouco tempo para explorar porque o trânsito também não ajuda muito a que possa ir a vários sítios no mesmo dia, tem de ser um de cada vez.

Agora estão a fazer a pré-época na Turquia. Quando é que voltam à Rússia?
Estamos em Antalya, só voltamos a Moscovo no dia 24. Estamos aqui desde o dia 12 de janeiro. É praticamente um mês e meio de pré-época. O campeonato volta no dia 2 de março. Tivemos um mês de férias e agora é um estágio para retomar a forma física.

Vieste passar o Natal a Portugal?
Sim, passei o Natal e o fim de ano em casa. Eles aqui têm um mês de férias que é praticamente meio mês de dezembro e os primeiros dez dias de janeiro. Passei esses dias em Portugal, depois regressámos a Moscovo para vir para a Turquia passados dois dias.

Emigraste pela primeira vez na época de 2013/14, para o Deportivo, com 19 anos. Jogar no estrangeiro era um objetivo?
Penso que qualquer jogador ambiciona jogar nas melhores ligas ou nos melhores clubes portugueses. Eu, infelizmente, ainda não cumpri o sonho de jogar num grande clube português, mas já pude cumprir um que era jogar na liga espanhola. Penso que não é fácil. Agora estou na liga russa que, apesar de não ser muito falada em Portugal, é muito competitiva, com muitos bons jogadores e boas equipas. Acho que era um objetivo que tinha, poder dar o salto e estou muito contente com esta oportunidade que o Dínamo me deu. É um clube grande na Rússia e estou muito satisfeito.

Se pudesses escolher, em que liga e em que equipa gostarias de jogar?
Isso é uma boa pergunta. Uma equipa da qual sempre gostei desde miúdo foi o Manchester United. O meu sonho sempre foi jogar em Inglaterra, mas depois de ter jogado em Espanha fiquei muito entusiasmado com aquela liga e gostava de voltar. Por enquanto ainda não penso, mas vamos ver.

E se pudesses escolher uma equipa?
Era o Real Madrid, mas isso são outros voos. [risos]

Além do lado desportivo, tens espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Para ser sincero, nunca tive assim muito esse espírito. Tenho vindo a adquiri-lo, porque o facto de estar no estrangeiro obriga-nos a isso, mas nunca fui uma pessoa muito de experimentar coisas novas ou conhecer novas culturas. Hoje já gosto de conhecer realidades diferentes daquelas a que estamos habituados.

Que diferenças existem entre a liga russa e a nossa?
O primeiro ponto é que na liga russa não há quatro equipas destacadas como em Portugal. É óbvio que os primeiros classificados são quase sempre os mesmos, mas o primeiro a jogar contra o último é praticamente igual do que jogar um derby. Os jogos são muito iguais, as equipas são muito parecidas e é um campeonato muito competitivo, com muitos duelos, muito intenso fisicamente. Penso que são as principais diferenças em relação ao nosso futebol.

Há alguma coisas que leves na mala sempre que vens a Portugal?
Tirando a roupa, não estou a ver nada. [risos] O que se sente mais falta em relação a Portugal é a comida, por exemplo. Tirando isso, não há nada assim que faça questão de trazer quando vou a Portugal.

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Penso que é dos trabalhos mais importantes que há no futebol português porque, acima de tudo, defende os interesses dos jogadores. Como temos visto nos últimos anos, infelizmente em Portugal tem havido alguns episódios menos bons, como clubes com salários em atraso e problemas extra-futebol, e o Sindicato está sempre disponível para ajudar os jogadores. É essa a sua função e fá-la muito bem. E para nós, jogadores, é muito importante sabermos que temos sempre alguém que nos possa defender.


Perfil
Nome: Miguel Filipe Nunes Cardoso
Data de nascimento: 19 de junho de 1994
Posição: Avançado
Percurso como jogador: Rio de Mouro (formação), Benfica (formação), Estrela da Amadora (formação), Benfica (formação), Casa Pia (formação), Real (formação), Real, Deportivo La Coruña B (Espanha), Deportivo La Coruña (Espanha), União da Madeira, Tondela e Dínamo de Moscovo (Rússia).