“Nem todos vão ser ‘Ronaldos’. Com estudos já estamos precavidos”


No último ano de júnior, o defesa do Tondela entrou na faculdade para estudar Economia.

Hoje, faltam-lhe cinco cadeiras para estar licenciado e motiva os restantes jogadores, principalmente os mais novos, a não desistirem dos estudos.

Faltam-te cinco cadeiras para terminares o curso de Economia. O que te motivou a querer ter uma licenciatura?
Quis prosseguir os estudos e ter uma licenciatura um bocado por causa da minha família. Sempre me aconselharam a seguir os estudos porque a nossa vida no futebol é curta, às vezes uma lesão também nos pode estragar a carreira, nunca se sabe, então mais vale estar precavido e ter um segundo plano para o futuro.

Porquê essa área em específico?
Porque a minha irmã também tirou esse curso há uns anos e sempre gostei muito de Matemática e de coisas relacionadas com os números.

É uma área para a qual sempre tiveste aptidão?
Sempre fui bom a Matemática, agora não me vejo propriamente naquela parte de Economia pura e dura. Foi mais pela parte de números que decidi ir para este curso.

Concluíste o 12.º ano e iniciaste logo a licenciatura ou houve alguma pausa no percurso?
Foi tudo seguido. Acabei o 12.º ano e entrei logo na universidade.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Por acaso tive sorte, e foi um bocado a razão para ter escolhido aquela universidade, a Portucalense, que foi ter um horário pós-laboral. Isso facilitou a minha ida às aulas. Havendo aulas só em turmas diurnas era impossível porque os treinos dos profissionais são sempre de manhã. Para conseguir passar às cadeiras tenho de ir às aulas porque não sou de estudar muito e facilitou-me a vida ter um horário pós-laboral para conseguir ir às aulas. E também tive professores que compreendiam a minha situação e se tivesse um exame no dia de um jogo, por exemplo, davam-me a possibilidade de o fazer noutro dia.

Quando entraste para a faculdade representavas que clube?
No primeiro ano de faculdade estava nos juniores do FC Porto.

Já falaste do incentivo que tiveste da parte da tua família para continuares a estudar. E os clubes? Também te apoiaram?
Não digo que tenham incentivado a ir para a faculdade, mas, até ao 12.º, tinham a preocupação de que os alunos aprovassem as disciplinas. Lembro-me de um ou outro que se no final do período tivessem muitas negativas podiam ser castigados, portanto havia essa preocupação de que os alunos continuassem a estudar e que terminassem, pelo menos, o 12.º ano.

Sentes que és visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Por acaso agora no Tondela temos vários jogadores que seguiram para a faculdade. Não digo que olhem para mim como um exemplo, mas nem todos entram para a faculdade tendo a nossa profissão. Nesse aspeto olham com alguma admiração por ter conseguido e por ter essa vontade de querer prosseguir os estudos.

E sentes alguma admiração por parte dos teus colegas de faculdade por seres jogador?
Até sinto mais aí. Sinto bastante admiração por parte dos meus colegas da faculdade e dos próprios professores também.

Aconselhas os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Sim, acho que é importante. Primeiro por aquela questão de nunca sabermos o nosso futuro, nem todos vão ser ‘Ronaldos’ e a nossa carreira acaba cedo. Um dia, mais tarde, vamos ter de fazer outra coisa e com estudos já estamos precavidos. E também nos faz bem não vivermos só no mundo do futebol. Irmos à faculdade, falarmos sobre outros assuntos e convivermos com outras pessoas também nos faz bem.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Hoje os clubes também evitam que os jogadores larguem os estudos cedo. Acho que cada vez há mais medidas e incentivos, como este tipo de entrevistas, para os jogadores mais novos saberem como são as coisas porque com 14 ou 15 anos, se não tiverem apoio familiar e dos clubes, o mais fácil é largarem os estudos e ser só futebol. E se calhar leem as entrevistas do Ronaldo, que largou os estudos cedo, e pensam que podem seguir esse exemplo. O problema é que não são todos ‘Ronaldos’. Acho que no futuro, mas também no presente, estudar vai ajudar a desenvolver a nível mental. É importante que os mais novos tenham noção disso e que pelo menos terminem o 12.º ano. Sabemos que depois a nível profissional por vezes é difícil conciliar com os estudos, mas tentem fazer o máximo que puderem.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Penso que sim. Quem estuda trabalha muito a parte mental, desenvolve a inteligência e a atenção, e tudo isso é importante. Não é que vá fazer muita diferença, mas todos os pormenores contam no futebol e se puderes ser um bocado mais rápido no raciocínio isso também se poderá refletir no teu jogo.

Qual é a tua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
Penso que têm feito um excelente trabalho. Neste caso em concreto também, ao darem exemplos aos jogadores mais novos da importância de seguirem os estudos. Vocês também têm incentivado e criado plataformas para os jogadores, seja para os mais novos ou não, poderem continuar os estudos e terminarem o 12.º ou entrar na faculdade. Além disso, todos os meses um elemento do Sindicato vai aos clubes para qualquer coisa que o jogador precise, portanto há um acompanhamento da vossa parte, um incentivo para tudo. Estão sempre presentes e acho que devem continuar assim.


Perfil
Nome: David Carneiro Dias de Rezende Bruno
Data de nascimento: 14 de fevereiro de 1992
Posição: Defesa
Percurso como jogador: FC Porto (formação), Trofense, FC Porto B, FC Porto, FC Porto B, Freamunde e Tondela.