Pedro Tiba: à procura da dolce vita


Chegou esta época à Polónia e faz um balanço muito positivo. Tiba já é o capitão do Lech Poznan.

Que balanço fazes destes primeiros meses?
A nível pessoal faço um balanço muito positivo porque nunca pensei chegar e impor-me desta maneira: fiz os jogos todos, tenho feito golos e assistências, e já sou o capitão. A nível coletivo é que as coisas não estão a correr tão bem, mas a época ainda nem vai a meio. Temos tempo para recuperar.

Como é que foste eleito para capitão? Foi uma escolha do treinador ou dos colegas?
Foi o treinador que tínhamos no início da temporada. Escolheu cinco capitães e fiquei nesse grupo, era o quinto. Entretanto, os outros capitães não estavam a jogar e fui assumindo a braçadeira. Esse treinador foi despedido, veio o Nawalka, o ex-selecionador da Polónia, e decidiu que seria eu o capitão.

E como está a ser a adaptação ao país?
Aqui as pessoas são muito mais fechadas do que em Portugal. Também já estive em Espanha e não têm nada a ver. Agora às três da tarde é de noite, escurece muito cedo. O dia é muito curto e isso faz-me confusão. E faz muito frio. Estão três ou quatro graus negativos, mas, pelo que dizem, ainda está meiguinho. [risos]

Foste com a tua mulher?
Sim, com a minha mulher e com o meu filho. E vou ter uma filha no início de 2019. Agora o campeonato para quase dois meses por causa do frio, em princípio vamos ter três semanas de férias, depois vamos estagiar para a Turquia porque aqui faz menos dez ou quinze graus e é impossível treinar.

A presença do João Amaral é importante?
Claro. Estamos sempre um com o outro e vai ficar meu amigo para o resto da vida. Ainda bem que veio porque temos companhia. Mesmo as mulheres fazem companhia uma à outra, e fica mais fácil.

Já sabes algumas palavras em polaco?
Já aprendi bastantes. Temos aulas de polaco uma ou duas vezes por semana. Claro que não falamos muito bem, mas dentro do campo e no balneário já conseguimos comunicar. Mas a língua que mais utilizamos é o inglês, até porque há muitos estrangeiros.

Como é viver em Poznan?
A cidade é fixe. É bastante grande e muito bonita. É uma cidade onde o Hitler chegou a viver durante a Segunda Guerra Mundial, tem muitos monumentos relativos à guerra, e é um país que gosta muito de futebol, os estádios têm sempre muita gente. Estamos num clube grande, apesar de nos últimos anos não ter sido campeão, então as pessoas reconhecem-nos na rua. Pedem-me muitas vezes fotografias e autógrafos. É como se jogasse num clube grande em Portugal. E há muitos portugueses aqui a estudar em Erasmus. Já vi várias bandeiras nos nossos jogos.

Vives mesmo no centro da cidade?
Não. Vivo perto do estádio. Decidi vir para um sítio onde vive a maior parte dos jogadores: é perto do estádio e do aeroporto.

Emigraste pela primeira vez na época 2007/08, para o Kastoria, da Grécia, e há três anos estiveste no Valladolid, de Espanha. Jogar no estrangeiro era um objetivo?
Era, sempre quis. Não sei o futuro, mas não estou a pensar em voltar para Portugal. Tenho 30 anos, sinto-me muito feliz e espero ficar por aqui ou ainda jogar noutro país. Os portugueses são muito mais valorizados fora do país. A Polónia é um país muito maior que Portugal, e as condições de trabalho são brutais. Aqui dificilmente jogas com menos de 20 mil pessoas, os estádios são novos, o ambiente é impressionante, enquanto em Portugal, tirando os três grandes, jogas com duas ou três mil pessoas. Tens o Braga onde tens oito mil, de resto dificilmente tens mais.

Tens espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Tenho. Adoro mesmo! Das coisas que mais gosto de fazer é viajar. Já conheci muitos países e espero que a vida me continue a dar esse pequeno luxo de continuar a poder conhecer países porque é algo que me fascina. A mim e à minha mulher.

Já aproveitaste para ir a outras cidades?
Sim. Já fui a Gdansk, que é a cinco horas de viagem daqui. Fui lá passar dois dias. É onde há praia na Polónia. Estou à espera de ter mais folgas para ir a Varsóvia e a Berlim, que é pertinho. Quer dizer, fica a duas ou três horas de viagem. Faz-se bem de carro.

Voltando ao futebol: se pudesses escolher, em que liga gostarias de jogar?
Epá, boa pergunta… [risos] Se dependesse de mim, talvez fosse na liga italiana. Não sei explicar. Provavelmente porque quando era adolescente era a liga que mais gostava de ver e, na altura, se calhar era a mais vista. Tenho um pequeno fetiche pela liga italiana. E havia muitos portugueses lá: Sérgio Conceição, Rui Costa, Paulo Sousa…. Via muito quando era adolescente e fiquei sempre com aquele fascínio. Mas sei que é difícil nesta altura.

Que diferenças existem entre a Liga polaca e a nossa?
Em Portugal, o futebol é mais técnico e taticamente somos superiores. Aqui, desde a formação, trabalha-se muito o físico. No dia a seguir ao jogo estão prontos para treinar outra vez. Não há cá recuperação nem nada, é sempre a andar! [risos] E é um futebol mais direto, que faz com que tenhas de ser forte fisicamente para poder jogar aqui. São os médios que mais sofrem com isso…. Exato. Às vezes tenho jogos em que fico com azia porque a bola passa muito por cima da minha cabeça! Mas também somos mais valorizados porque temos algumas qualidades que eles têm menos.

Estás no Lech Poznan, a equipa na qual jogava Juskowiak, antigo avançado do Sporting. Já o conheceste?
Eu e o Amaral até estamos aqui um bocadinho por causa dele. [risos] O Juskowiak trabalha no scouting do clube e foi um dos principais responsáveis pela minha vinda porque ele e o treinador que cá estava, o Ivan Djurdjevic, conhecem muito bem o campeonato português. E é um ídolo aqui.

Já viveste algum episódio caricato?
Tive um com o atual treinador, logo no primeiro treino. Começou a falar, para aí uns três minutos, e eu, como não o queria interromper, fiquei a ouvi-lo. E depois disse-lhe: “mister, I don’t understand polish”. E teve de repetir tudo outra vez em inglês porque não se recordava que eu não era polaco. [risos]

Para quem ainda não sabe: qual é a origem da alcunha Tiba?
Quando era puto, tinha dois ou três anos, tive um problema na boca e não sabia dizer Silva. Dizia Tiba. E foi uma coisa que foi ficando. Durante muito tempo nem gostava, mas quando dei por ela toda a gente me chamava assim. Se disserem “o Pedro, que está na Polónia”, ninguém me conhece. [risos]

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Tem sido muito importante. No último ano, como era um dos capitães do Chaves, tive o prazer de colaborar algumas vezes com o Sindicato. Tem feito um trabalho notável. Ainda há coisas que se podem fazer para o jogador ser mais protegido, mas o Sindicato tem evoluído e nós agradecemos.


Perfil
Nome: Pedro Miguel Amorim Pereira Silva (Tiba)
Data de nascimento: 31 de agosto de 1988
Posição: Médio
Percurso como jogador: Atlético Valdevez (formação), Atlético Valdevez, Hastoria (Grécia), Atlético Valdevez, Valenciano, Limianos, Tirsense, Vitória de Setúbal, SC Braga, Valladolid (Espanha), SC Braga, Chaves e Lech Poznan (Polónia).