Golo escreve-se com Jota

Na época passada, que marcou a estreia do jovem avançado português em Inglaterra, atingiu os 18 golos.
Agora na Premier League, orientado por Nuno Espírito Santo e com vários compatriotas em campo, sonha com objetivos ainda mais altos, como a seleção A. Ambição não lhe falta.
Aos 21 anos chegaste à Premier League, depois de já teres passado por um grande do futebol português. Era o que projetavas para a tua carreira ou sentes que está a acontecer tudo muito rápido?
Foi tudo a seu tempo. Estreei-me na Primeira Liga pelo Paços, tive oportunidade de jogar num grande, o FC Porto, e depois dei o passo seguinte, sempre com o objetivo de chegar à Premier League. Tive uma época que não foi nenhum atalho, tive de lutar por isso, foi através da subida pelo Wolves, e agora, que concretizei o sonho da Premier League, quero adaptar-me o mais rapidamente possível para poder ser ainda mais útil à equipa.
Paulo Fonseca deu-te a oportunidade de te estreares na Primeira Liga, Jorge Simão ajudou-te a “explodir” no Paços de Ferreira, Nuno Espírito Santo treinou-te no FC Porto e agora no Wolverhampton. Os treinadores portugueses estão no topo do futebol mundial?
Sim. Acho que o treinador português é muito bom em várias vertentes, superior aos outros, principalmente a nível tático e também na relação que consegue ter com os jogadores. Por tudo isso, acho que o treinador português é um treinador de topo.
Pelo meio trabalhaste durante algum tempo com Diego Simeone no Atlético de Madrid. Apesar de não teres ficado na equipa, gostaste da experiência?
Sim, gostei de tudo aquilo que ele consegue pôr a nível tático, mas não encontrei uma relação pessoal com ele, também pelo pouco tempo que estive lá, foi só um mês. Mas acho que notei essa diferença, digamos assim, porque com todos os outros tive sempre oportunidade de ter uma palavra e de tentar perceber aquilo que poderia fazer melhor. Lá não deu tempo sequer para isso.
Já tinhas a ambição de jogar fora de Portugal quando eras miúdo, ainda na formação?
Não, nessa altura não. Acho que isto vai progredindo. Quando somos miúdos o sonho é chegar à Primeira Liga portuguesa, mas claro que depois de atingirmos isso temos sempre outros sonhos sucessivos. É assim que deve funcionar um jogador de futebol: quando alcança uma coisa deve querer alcançar outra. Depois de ter jogado no FC Porto claro que comecei a pensar noutros campeonatos, mais atrativos a vários níveis.
Tens um irmão [André Silva] nos juniores do Paços de Ferreira. Achas que vai seguir as tuas pisadas?
O meu irmão teve a felicidade de ter uma formação melhor do que a minha porque a fez no FC Porto e a minha foi quase toda no Gondomar, só nos juniores é que fui para o Paços. Acredito que ele possa fazer o seu próprio caminho e chegar ainda mais longe do que eu cheguei.
Na época passada contribuíste com muitos golos para a excelente campanha do Wolverhampton e foste o melhor marcador português no Championship. Esperavas uma adaptação tão fácil ao futebol inglês?
Não. Para ser sincero, não. Pensei que fosse ter mais dificuldades. Felizmente, em termos coletivos, estivemos sempre muito bem na época passada e, quando assim é, as individualidades acabam por surgir com mais facilidade.
São conhecidas as dificuldades das equipas que sobem à Premier League. O Wolverhampton conseguiu reforços para fazer uma época tranquila?
Sim. Como disse, já tínhamos um bom coletivo e, com as aquisições que fizemos, de jogadores habituados ao futebol internacional, isso vai ajudar-nos e creio que tivemos um arranque muito positivo.
Tens mais sete portugueses no plantel. Essa comunidade lusa facilita a tua tarefa?
Sim, principalmente quando cheguei, a adaptação foi muito mais fácil. Temos elementos portugueses em vários setores, não só na equipa técnica, mas também no posto médico, e tudo isso ajuda a que as coisas, principalmente para quem chega, sejam mais fáceis.
Os jogadores costumam estar juntos? Vivem assim como se fossem uma família?
Sim. Acaba por ser, inevitavelmente. É uma cidade pequena, não há muito para fazer, o tempo também não ajuda, portanto, o convívio entre os portugueses acaba por ser natural e benéfico para todos.
Sentes que em Inglaterra cobram-te mais por seres estrangeiro ou, por outro lado, és mais protegido por isso?
Acho que os adeptos do Wolverhampton nos viram, a nós portugueses, como uma mais-valia e uma ajuda para eles e ninguém tem tido problemas com a integração até porque é uma cidade que tem muitos indianos e, portanto, as pessoas estão habituadas a receber estrangeiros.
Que diferenças existem entre a Premier League e a nossa?
Acho que nada do que joguei até agora se compara à Premier League. Para mim é a melhor liga do mundo a vários níveis: intensidade, qualidade, envolvência…. Acho que está um patamar acima de tudo o resto.
Era o campeonato no qual sonhavas jogar quando eras criança?
Sim. Quando era pequeno via sempre os jogos da Premier League através da Sport TV e sempre foi um sonho chegar lá um dia. Nunca pensei que fosse possível, mas, com o decorrer dos anos, acreditei nisso e a minha ida para o Wolves também teve esse pensamento, de ajudar o clube a subir e concretizar o meu sonho.
Ainda não és internacional A. Estar na Premier League ajuda-te a estar mais perto desse passo?
Sim. A Premier League é a melhor montra em que um jogador pode estar. Se as coisas me correrem muito bem aqui, acho que estou mais perto. É um sonho chegar lá e acredito que um dia vou chegar. Resta-me apenas continuar a trabalhar para isso e esperar que a minha oportunidade surja.
Tens espírito de aventura para descobrir novos países e culturas? Sempre que podes, gostas de conhecer mais do país?
Sim. Sempre que estou de folga tentamos ir a vários pontos turísticos, eu e a minha namorada, mas não é um objetivo que me mova neste momento. Talvez quando for mais velho. Neste momento estou mais concentrado em jogar futebol e em aproveitar tudo o que o futebol me pode dar.
O que é que levas na mala sempre que vens a Portugal?
Nada de especial. A PlayStation é o meu bem que carrego para qualquer lado.
Além da PlayStation, quais são os teus passatempos preferidos?
Principalmente jogar PlayStation e jogos relacionados com futebol com os meus amigos, em plataformas online de treinadores e coisas do género, até porque isso também ajuda a tornarmo-nos mais próximos uns dos outros.
Vives mesmo em Wolverhampton?
Sim, vivo em Wolverhampton, muito próximo do centro de estágios do clube.
E como é?
É uma cidade pequena, não há muito que fazer. Tem um shopping também pequeno. Temos a felicidade de estar perto de uma grande cidade como é Birmingham, que já oferece outro tipo de escolhas, mas Wolverhampton é um meio pequeno.
As pessoas abordam-te na rua?
Sim, acabam por fazê-lo, mas é uma diferença abismal em relação aos adeptos portugueses. Por exemplo, em Inglaterra ninguém te pede uma camisola e quando te encontram na rua tentam ser o mais discretos possível e são muito envergonhados. Alguns, quando têm coragem, pedem para tirar uma foto, dizem uma ou duas palavras rapidamente e vão-se embora.
Adaptaste-te bem à língua ou o sotaque british é difícil de entender?
Com algumas pessoas é sempre mais complicado, mas, felizmente, com os conhecimentos que aprendi na escola, fui capaz de falar inglês desde o primeiro momento em que cheguei a Inglaterra e, com o tempo, estou a melhorar.
E já ganhaste algum hábito da cultura inglesa? Como o chá, por exemplo?
Sempre fui adepto de chá, mas acho que sou fiel às minhas origens nesse aspeto. [risos]
Em relação à comida: já és fã de fish and chips?
Por acaso nunca provei sequer! [risos]
Que jogador tinhas como ídolo na infância?
Tive vários, porque também fui mudando de posição. Lembro-me de ter o Aimar como referência ainda durante a minha infância e, quando comecei a jogar a extremo, claro que olhei sempre para o Cristiano Ronaldo, também por ser português, como um grande ídolo.
Se não fosses jogador, o que gostarias de ter sido?
Isso é uma pergunta muito complicada porque sempre quis ser jogador, desde muito pequeno, e nunca pensei em mais nada. Foquei-me sempre em fazer o meu melhor, mesmo quando as coisas não me corriam bem, para poder chegar a profissional.
Tens alguma superstição antes dos jogos?
Não, não sou um jogador muito supersticioso, apenas tento continuar com as minhas rotinas, mas nada de superstições.
Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Felizmente nunca precisei da ajuda do Sindicato, mas sei que é uma mais-valia para jogadores em dificuldades, principalmente quando não estão a receber os seus salários e, no caso dos jogadores livres, na procura de novas oportunidades.
Perfil
Nome: Diogo José (Jota) Teixeira da Silva
Data de nascimento: 4 de dezembro de 1996
Posição: Avançado
Percurso como jogador: Gondomar (formação), Paços de Ferreira (formação), Paços de Ferreira, Atlético de Madrid (Espanha), FC Porto e Wolverhampton (Inglaterra).