Sérgio Silva: leal ao clube que o viu nascer


Com apenas 25 anos, o central da Oliveirense é o capitão muito por culpa do seu estilo de liderança.

Sérgio Silva fala-nos do difícil que é tomar decisões, mas está de consciência tranquila por tudo o que faz em prol do grupo.

Mereceste a braçadeira de capitão da Oliveirense. Como é que foste eleito para o cargo?
Foi através do treinador Pedro Miguel, que achou que devia ser eu.

Foi há quantas épocas?
Foi desde a época passada.

Já tinhas sido capitão nas camadas jovens?
Sim, fui quase sempre. Em quase todos os escalões.

És natural de Oliveira de Azeméis e fizeste toda a tua carreira na Oliveirense. Ser um jogador da casa facilita-te a vida junto dos adeptos ou, pelo contrário, sentes que exigem mais de ti?
Tem as duas vertentes. Sinto que sou acarinhado, mas também exigem de mim. Quando as coisas correm mal se calhar sou dos jogadores com quem as pessoas vêm falar mais, também porque ando aqui pelas ruas.

Sentes que impões uma liderança natural no balneário?
Penso que sim. Apesar de a maior parte dos jogadores não saber isso sobre a minha formação, só um ou outro é que sabem, por pertencerem aos escalões de formação da Oliveirense, mas acho que transmito essa liderança. Pelo menos faço por isso, apesar de ser uma pessoa relativamente nova no balneário, a nível de idade.

Que valores transmites aos mais jovens e a quem chega ao clube?
Acho que o principal para quem chega ao clube é ser bem acolhido. Portugal deve ser dos países que melhor acolhe os jogadores estrangeiros. Tentamos receber todos da melhor forma, mas, quando o grupo já está formado, os jogadores novos é que têm de se adaptar ao grupo e não o contrário. Se entrarem dessa forma humilde e trabalhadora, o grupo, mais tarde ou mais cedo, vai integrar esse jogador.

Há algum capitão que tenhas como exemplo?
Tenho o Banjai e o Manuel Godinho. Há jogadores que são mais de falar, e muito mais no grito, o que também é correto, mas acho que eles foram capitães pela postura calma e pelo que construíram no futebol. Os jogadores reconheciam-lhes isso. Não precisavam de falar muito, mas impunham esse respeito não tanto pelas palavras, mas mais pelo estatuto que tinham perante nós.

Como capitão, alguma vez precisaste de chamar um colega à atenção de uma forma mais dura?
Sim. São situações normais. De forma correta e incorreta, às vezes. No futebol vivemos com as emoções à flor da pele. Ainda agora saíram as notícias do Sergio Ramos, que se calhar é dos capitães que tem mais liderança no balneário, e fala-se que se pegou com este e com aquele. São situações perfeitamente normais, com as quais lidamos quase todos os dias no futebol.

Ter de assumir esse papel é uma situação ingrata ou é natural?
É natural, mas claro que é sempre complicado. Nós é que temos de ser o porta-voz da equipa e chamar à atenção. Há jogadores que não olham tão bem para isso, mas é normal e somos presos por ter cão e por não ter porque temos de intervir. Toda a gente vê: sejam políticos ou outro tipo de pessoas que tomam decisões, nunca se agrada a todos. Mas é uma coisa natural e tenho a consciência tranquila pelas decisões que tomei em prol do grupo.

Do que é que os capitães costumam falar quando trocam galhardetes? Muitas vezes vemos os jogadores e o próprio árbitro a rir.
Normalmente é um momento de descontração, mas também depende do árbitro. Há uns que são mais comunicativos, que até brincam connosco e falam do jogo, pedem-nos para termos fairplay e para não termos entradas que ponham em perigo a integridade física do adversário. Pessoalmente, o que costumo falar com os capitães é desejar-lhes boa sorte e que ninguém se aleije. Boa sorte entre aspas! [risos] Mas é por aí.
Com um capitão que tenha mais confiança também posso perguntar se está tudo bem com a família, mas antes do jogo normalmente são coisas mais rápidas.

Os árbitros costumam ser mais tolerantes com os protestos dos capitães?
Isso tem muito a ver com a postura dos árbitros: há uns que têm uma postura aberta com todos os jogadores, há outros que nem com o capitão admitem conversa, depende do estilo do árbitro. E, claro, depende também do jogador. Mesmo na Segunda Liga há jogadores com um passado enorme e que têm mais “moral” com os árbitros, mas depende muito do estilo do árbitro.

Como tens visto a atuação do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
Tem vindo a crescer. Antes não se via muito o Sindicato, os jogadores nem sabiam bem do que se tratava, mas agora tem um vasto leque de opções, de ofertas, de ajudas e de eventos, como o primeiro fórum de capitães que foi feito quando foi a final four da Taça da Liga, em que estive presente. São situações importantes para o futebol, com temas que considerei importantes serem discutidos porque nós é que devemos ter a palavra e posições ativas no futebol. Se os jogadores têm o papel principal numas coisas, também acho que deviam ter neste tipo de decisões.
Acho que o Sindicato está a trabalhar muito bem. Claro que ainda tem muito para desenvolver, mas, como o Dr. Evangelista disse nesse fórum, não é fácil mudar tudo de uma vez, até porque não depende só do Sindicato e muitas coisas também passam pela Liga e pela Federação.


Perfil
Nome: Sérgio Domingos Reis Silva
Data de nascimento: 26 de fevereiro de 1994
Posição: Defesa
Percurso como jogador: UD Oliveirense (formação) e UD Oliveirense.