“Em Espanha, os adeptos respeitam-se muito mais do que em Portugal”


A cumprir a primeira experiência no estrangeiro, o antigo médio do Boavista está feliz no Málaga.

Que balanço fazes destes meses em Espanha, a tua primeira época a jogar no estrangeiro?
Tem sido muito bom. Saí de Portugal para a Segunda Liga espanhola e acabei por ser bastante surpreendido com as condições da estrutura do Málaga, claramente um clube de Primeira Liga, e também ainda estamos na luta por esse objetivo. Ainda não terminou a época, temos mais três jogos, e provavelmente vamos estar no playoff de acesso à subida. Portanto ainda temos esse sonho de subir à Primeira Liga. É o objetivo do clube para esta época.

Como é que está a ser a adaptação ao país?
Está a ser muito boa. Para ser sincero, nem tive assim um período que precisasse para a adaptação. Em relação ao futebol, sim. Precisei de perceber como funcionava a Segunda Liga espanhola. São jogos muito intensos, muito competitivos. Mas em relação a Espanha, a Málaga, neste caso, tem sido fácil. A língua também não foi nenhum problema. Em relação à comida, como costumo comer mais por casa, acabei por não sentir tanto a diferença. Nota-se um pouco porque aqui o típico é o peixe frito. Também se come muito boa carne, mas em Portugal come-se muito melhor e onde eu estava, no Norte, ainda mais.

Então, no geral, viver em Málaga não é muito diferente daquilo a que estavas habituado em Portugal?
Não. Isto tem praia, tem um clima muito bom, está praticamente sempre calor, isso também ajuda a que uma pessoa se sinta bem. A cidade acaba por não ser muito grande, embora tenha bastantes habitantes, mas não há trânsito, como há no Porto e em Lisboa, e isso facilita muito a adaptação.

Há alguma coisa que leves na mala sempre que vais a Portugal? Alguma comida, por exemplo?
Não trouxe nada, mas fiz questão de ir comer um arroz de cabidela da avó! [risos] Há sempre aquelas comidas a que estamos habituados a comer, aqueles assados, coisas que cresceram connosco e que aqui não há. Aqui come-se muito bem o chuletón e tudo o que sejam carnes vermelhas, mas a nossa comida faz falta, claro.

Foste com a tua família?
Sim. Vim com a minha mulher e com o meu filho.

Vives mesmo no centro da cidade?
Vivo em Mijas, que pertence a Fuengirola. Vivemos mesmo em frente à praia. Optámos por vir para aqui porque é mais tranquilo.

Fica longe do centro de estágios?
Fica a uns 20 minutos de carro, é perto. E como não há trânsito faz-se bem.

Já aproveitaste para ir a outras cidades nas tuas folgas?
Sim. Já fomos a Sevilha, que fica a duas horas daqui, fomos a Cádis, em dezembro fomos a Portugal. Sempre que podemos damos um passeio.

Além do aspeto desportivo, tens espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Sim, gostamos de conhecer. Não temos muito tempo livre, mas às vezes temos um ou dois dias de folga e, quando não ficamos a descansar, aproveitamos para ir conhecer. Mesmo em Málaga há vários sítios interessantes para ver e, sempre que podemos, aproveitamos para isso.

Falaste com portugueses que tenham jogado no Málaga antes de aceitares o convite?
Falei com o Fábio Espinho, que jogou aqui há pouco tempo, e também cheguei a falar com o Artur Moraes, o guarda-redes, porque também tive um convite da Turquia e ele aconselhou-me.
Todas as pessoas, também o meu empresário, me falaram bem do Málaga. Já estava bastante inclinado para vir, isso também facilitou, e uma das coisas que me convenceu foi mesmo a ambição que as pessoas tinham de subir à Primeira Liga. Foi o que me moveu a vir para cá.

Jogar na Primeira Liga espanhola é um sonho por realizar?
Sem dúvida. Foi um dos principais motivos para vir para cá. Jogar na Primeira Liga espanhola é um sonho, meu e de muitos jogadores. É uma das melhores ligas do mundo, se não mesmo a melhor.

Já passaram muitos portugueses pelo Málaga. Os adeptos ou os dirigentes do clube falam-te deles?
Sim, muito. Já estive com alguns desses jogadores aqui. O Duda faz parte da estrutura do clube, está na formação, e o Litos tem cá casa, acho que até vive cá, e já estive algumas vezes com ele. Foi tudo pessoal que adorou, que fez cá vida e ainda hoje estão cá. Mas sim, falam-me deles, do Eliseu, de uma série de portugueses que deixou cá uma marca. Aliás, o Duda é o jogador com mais jogos pelo Málaga. Está na história no clube.

E jogar no estrangeiro? Era um objetivo que tinhas para a tua carreira?
Sim, também era, embora não quisesse sair para qualquer país. Não queria ir para um país onde tivesse menos visibilidade. Não era só a parte financeira que me movia, também me interessava a visibilidade futebolística, e aqui foi o dois em um. Vim para um clube com visibilidade, com o objetivo de subir à Primeira Liga espanhola, e estou muito feliz por ter optado pelo Málaga.

Que diferenças existem entre a Segunda Liga espanhola e a nossa?
Para ser sincero, é uma diferença abismal. Podemos começar logo pela questão dos adeptos: no nosso estádio temos sempre para cima de 15 mil adeptos, acho que a média está nos 18 mil. Logo aí já dá para perceber as diferenças. Estes números são difíceis de termos até na Primeira Liga portuguesa. Na parte financeira também há uma diferença muito grande e é outra mentalidade. Uma coisa que aqui me surpreendeu bastante e que, infelizmente, em Portugal não é assim, é que aqui vemos crianças nos estádios, seja em que jogo for, haja rivalidade ou não. Aqui as famílias vão aos estádios sem qualquer tipo de problemas. Há um respeito maior entre os adeptos, respeitam-se muito mais do que em Portugal. O ambiente nos estádios é completamente diferente nesse sentido.

Se depender apenas da tua vontade: preferes voltar a Portugal ou continuar a jogar lá fora?
Estou bem, para ser sincero, mas claro que não fecho portas. Adoro estar em Portugal, como é óbvio, é o meu país, e temos clubes muito bons. Tenho mais dois anos de contrato com o Málaga, espero cumpri-los, de preferência na Primeira Liga, mas também não fecho a porta a poder voltar. Também tenho a ambição de um dia voltar a jogar em Portugal.

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Temos visto cada vez mais casos de jogadores a precisarem da ajuda do Sindicato e acho que é muito importante. Felizmente, hoje não tenho qualquer tipo de problema, mas não sabemos o dia de amanhã e sei que temos aí sempre um conforto porque há um Sindicato que nos pode ajudar com qualquer problema que possamos ter.
Têm dado bastante apoio em vários casos. Ainda agora houve o caso do Vilafranquense, onde tenho um amigo a jogar, o Luís Pinto, e é sempre muito importante porque os jogadores sentem-se apoiados.


Perfil
Nome: Renato João Saleiro Santos
Data de nascimento: 5 de outubro de 1991
Posição: Médio
Percurso como jogador: Estarreja (formação), Sporting (formação), Rio Ave, Moreirense, Rio Ave, Moreirense, Desportivo das Aves, Rio Ave, Tondela, Boavista e Málaga (Espanha).