A defender jogadores com formação académica


O guarda-redes do Tondela, internacional A por Portugal, frequenta uma licenciatura em Ed. Física.

Estás a tirar uma licenciatura em Educação Física. Escolheste esta área porque o desporto sempre foi uma paixão?
Sim, claro que sim, e também quis ter uma licenciatura a pensar mais no futuro, para quando acabar a carreira. Como é óbvio, quero ficar ligado ao desporto, se possível ao futebol, mas sempre me interessei por todo o tipo de desportos, por isso é que entrei nesta licenciatura.

Ter um curso superior sempre foi um objetivo?
Sim, sempre quis entrar na universidade para ter esta experiência. Sempre tive o objetivo de tirar uma licenciatura, de entrar e ir fazendo, também não é para fazer tudo de uma vez, mas o jogador de futebol tem de ter essa capacidade de querer sempre mais, até porque a nossa carreira é muito curta. Além disso, o saber não ocupa lugar. Acho que todos os jogadores deviam lutar nesse sentido.

Estás matriculado em que faculdade?
Na Escola Superior de Educação de Viseu.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Sinceramente, acho que sim. Os professores têm sempre algum cuidado no sentido de facilitar nalgumas coisas, mas acho que devíamos ter um estatuto diferente porque não consigo ir à maior parte das aulas. Como é um curso de desporto, tem muita parte prática e, sendo nós jogadores de futebol profissionais, não podemos fazer tudo. Por exemplo: tinha duas horas de natação e duas de basket seguidas. Saía disto e depois à tarde tinha treino. Não conseguia fazer isso e, por esse motivo, desliguei-me um bocado do curso por causa dessa parte prática. São as práticas que me faltam.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Acho que sim. Uma grande parte dos jogadores de futebol abandona os estudos muito cedo porque muitos saem cedo de casa para irem para um clube, como foi o meu caso, que saí de casa com 14 anos para ir para Guimarães, e ao estarem sozinhos deslumbram-se um bocado por pensarem que vão ter capacidade para serem profissionais de futebol e, no futuro, se calhar muitos deles arrependem-se por não ter dado.

Como é que foi no teu caso? Estudaste até ao 12.º sempre seguido ou paraste a certa altura?
Até ao 12.º ano fiz seguido, consegui fazer tudo, com mais ou menos dificuldade, e no 12.º deixei Matemática, foi a única disciplina que deixei para trás. Parei de estudar durante dois anos, depois acabei a Matemática e entrei para a universidade.

Sentes que és visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Acho que a maior parte dos jogadores ainda não se preocupa muito com os estudos. Todos os meus colegas estão aqui a jogar futebol e a malta mais nova, de 20/21 anos, muitos deles não pensam nisso. Mas acredito que aquele pessoal que tem 27/28 anos e já acabou os estudos, muitos graças ao Sindicato, com os protocolos que tem com algumas escolas, tem outra preocupação e sei que houve muita malta a inscrever-se nas Novas Oportunidades, por exemplo.

E sentes alguma admiração por parte dos teus colegas de faculdade por seres jogador?
Claro que sim. Eles gostam de ter a nossa presença lá porque joguei na Seleção Nacional, estou na Primeira Liga e é óbvio que eles ficam contentes por me ter lá. Tenho muito que lhes agradecer pelos meus dois primeiros anos de faculdade, pela ajuda nos trabalhos de grupo, porque sempre fizeram questão de me ajudar.
É o quinto ano em que estou matriculado na universidade e sempre que temos jantares de curso mandam-me mensagens para ir e, sempre que posso, gosto muito de estar com eles.

Sabes se há mais jogadores do Tondela a estudar?
Sim. Estou a lembrar-me do Ricardo Alves, que está a estudar Fisioterapia, também em Viseu, o David Bruno estava a tirar Economia no Porto, sei que o Pité também entrou na universidade, e acho que o Tomané e o Joãozinho inscreveram-se, acho que estão nas Novas Oportunidades, através do Sindicato.

Aconselhas os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Sim, digo-lhes sempre que devem aproveitar porque tenho a certeza de que no futuro se vão arrepender por não terem pelo menos tentado seguir os estudos. Com 21/22 anos ainda vão muito a tempo de acabar o 12.º ano ou de entrar na universidade. Uma pessoa não sabe o futuro e, como disse, o saber não ocupa lugar.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Acho que dentro de campo não influencia. O cérebro do jogador de futebol já está pré-concebido para aquilo e acho que isso não vai influenciar alguma coisa. Mas como estamos constantemente a ter de falar para a comunicação social, vamos dar palestras a escolas, entre outro tipo de ações, se tivermos formação académica permite-nos estar mais à vontade e se calhar até falar melhor. Aí influencia, mas dentro de campo acho que não.

Qual é a tua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
Acho que o Sindicato tem feito um excelente trabalho. Acompanha o nosso trabalho, quase todos os meses visita os clubes, pelo menos falo pelo Tondela, e mesmo na parte da escola está a fazer um excelente trabalho ao fazer protocolos com escolas e universidades. Depois tem defendido alguns atletas em situações complicadas e acho que é muito importante que continue a fazer este bom trabalho e a proteger os direitos dos jogadores de futebol profissional.


Perfil
Nome: Cláudio Pires Morais Ramos
Data de nascimento: 16 de novembro de 1991
Posição: Guarda-redes
Percurso como jogador: Paivense (formação), Académico de Viseu (formação), Repesenses (formação), Vitória de Guimarães (formação), Amarante e Tondela.