“A tendência para o erro é cada vez menor”


Natural de Setúbal, o técnico da Oliveirense não esconde a sua admiração por José Mourinho e defende que o erro e o individualismo ocupam cada vez menos espaço no futebol.

Na I e II ligas há dois treinadores estrangeiros. É sinal do valor do treinador português?
Há duas razões objetivas para que esse fenómeno aconteça. A primeira tem a ver com a qualidade dos treinadores portugueses e parece-me que nesta altura é unânime em considerar os treinadores portugueses dos melhores do Mundo. A segunda razão tem a ver com o facto de que quem cá está conhece melhor a realidade portuguesa. Penso que a classe dirigente tem cada vez mais a noção de que quem conhece bem a realidade estará mais apto para conseguir alcançar melhores resultados.  

 

A reintrodução das equipas B é bom para a competição?
Mais do que para a competição foi uma boa medida para o futebol português porque se criou espaço para o crescimento do jovem jogador português. Numa altura em que estamos numa crise profunda a emergência do jovem valor nacional tem que ser potenciada em detrimento da importação de “matéria-prima”. É evidente que também traz outro tipo de problemas como mais deslocações, mais despesas e mais problemas financeiros para os clubes. Parece-me que entre o deve e o haver a balança pende para o lado da formação do jogador português.

 

O horário dos jogos tem influência no rendimento dos atletas?
Não. Por exemplo, discute-se muito o facto de alguns jogos serem realizados de manhã. Todas as equipas profissionais treinam quase sempre de manhã, logo do ponto de vista fisiológico o jogador está predisposto a jogar de manhã.

 

Foi jogador profissional. Nota que o futebol mudou com o passar dos anos?
Noto que a tendência para o erro e para a individualidade é cada vez menor. Hoje, pelo menos nos campeonatos profissionais, já não existem equipas desorganizadas e os jogadores acabam por ser muito equivalentes – só os clubes com maior poderio financeiro é que contratam “matéria-prima” de melhor qualidade. Depois tudo o que está à volta do fenómeno futebol também evoluiu bastante.  

 

A relação treinador/jogador tem vindo a alterar-se?
Pela minha experiência por conversas que tenho com colegas é que a relação treinador/jogador tende a ser cada vez mais próxima e as motivações/frustrações de ambas as partes estão cada vez mais esbatidas e só assim faz sentido. Todos devem remar para o mesmo objetivo.

 

Os dirigentes estão mais pacientes com os treinadores e não recorrem tanto à chamada chicotada psicológica, ou isto é daquelas “coisas” que não há volta a dar?
Se calhar, uma das poucas coisas boas desta crise é que os dirigentes ponderam mais e melhor na altura de prescindir dos serviços dos treinadores. Muitas das vezes o treinador é o menos culpado da situação adversa que momentaneamente possa estar criada.

 

Tem alguma referência enquanto treinador?
É vulgar dizer-se que as referências são os que ganham e eu gosto dos treinadores que ganham mais vezes. Tenho muito orgulho em José Mourinho ser o melhor treinador do Mundo e é a minha grande referência, não em termos de treino e trabalho porque infelizmente não conheço a realidade do seu trabalho mas fundamentalmente por ser um treinador da minha terra que provou o seu valor e que conseguiu chegar ao topo. 

 

B.I.:
Nome:
João de Deus
Idade: 36 anos
Clubes como treinador: Cabo Verde (selecionador), Ceuta, Farense, Atlético e UD Oliveirense