O capitão do Mar


Aos 26 anos, e depois de passar por vários clubes, Luís Silva está no clube onde fez a formação.

Mereceste a braçadeira de capitão do Leixões. Como é que foste eleito para o cargo?
Fui eleito no ano passado. Já tinha feito várias vezes parte do lote de capitães, desde os 20 anos, mas só na época passada é que fui eleito o principal capitão. Para mim um orgulho e uma honra enorme ser capitão de equipa de uma instituição com mais de cem anos e com tanta história no futebol português.

Foi uma escolha dos jogadores ou do treinador?
Foi uma escolha da Direção, por eu conhecer o clube, por já saber o que significa o Leixões e poder transmiti-lo aos outros. O Leixões é um clube peculiar, com adeptos diferentes, com carisma e um sentimento único.  Acho que foi por aí, por as pessoas perceberem que conheço o clube por dentro e por fora e para poder passar para os outros a minha experiência.

És um jogador da casa, mas tiveste passagens por outros clubes. Chegaste a ser capitão noutra equipa?
Não, curiosamente nunca fui capitão num dos outros clubes, mas também nunca passei mais de um ano em cada um desses clubes. O máximo que estive num clube sem ser o Leixões foi um ano e meio. Já passei por alguns, já tive essa felicidade de poder ter passado por vários contextos, mas nunca fui capitão de equipa, apesar de achar que sempre tive uma voz ativa no seio dos grupos devido à minha personalidade. Gosto de opinar sobre as situações.

Sentes que impões uma liderança natural no balneário?
Sim. Não é uma liderança forçada, vem com toda a naturalidade. Tento conter-me várias vezes para não ser demasiado exigente com os meus colegas porque, como exijo muito de mim, tento exigir também muito dos outros, mas tenho aperfeiçoado isso ao longo dos anos, nomeadamente nestes últimos dois ou três anos, em que tenho sido mais vezes capitão de equipa. Tenho-me aperfeiçoado nesta vertente para poder ajudar os meus colegas a atingir os objetivos pessoais e coletivos.

 

"TENTO CONTER-ME VÁRIAS VEZES PARA NÃO SER DEMASIADO EXIGENTE COM OS MEUS COLEGAS PORQUE, COMO EXIJO MUITO DE MIM, TENTO EXIGIR TAMBÉM MUITO DOS OUTROS, MAS TENHO APERFEIÇOADO ISSO AO LONGO DOS ANOS."

 

 

E já tinhas sido capitão nas camadas jovens?
Sim. Tive uma formação um bocado complicada, nem sempre fui opção por via de alguns fatores, só passei a ser a partir dos juvenis e, desde então, passei a ser capitão de equipa. No último ano de júnior, na transição para a equipa sénior, já fui capitão e acho que foi ali que ganhei alguma bagagem para hoje ser aquilo que sou. E também pelas experiências que tenho vivido nos últimos anos, com subidas de divisão, também já desci de divisão, o que é mau, mas traz conhecimento, já estive em situações boas e más, e isso faz com que a gente cresça e ganhe experiência e maturidade para agora encarar as coisas de outra maneira.

Que valores transmites aos mais jovens e a quem chega ao clube?
Os valores que transmito são simples: profissionalismo, compromisso, seriedade e sermos sempre leais dentro e fora do campo. Estamos todos ali em torno de um objetivo coletivo. É lógico que o individual vai sobressair, mas isso só acontece se o coletivo estiver bem presente na mente de toda a gente. O profissionalismo, a seriedade e a parte humana são fundamentais para podermos vingar neste mundo difícil que é o futebol.

 

"O PROFISSIONALISMO, A SERIEDADE E A PARTE HUMANA SÃO FUNDAMENTAIS PARA PODERMOS VINGAR NESTE MUNDO DIFÍCIL QUE É O FUTEBOL."

 



Há algum capitão que tenhas como exemplo?
Tenho três que me marcaram muito. Revejo-me neles e são exemplos para mim como jogadores, como profissionais e como pessoas: o Nuno Silva, o Bruno China e o Joel. Transmitiram-me na plenitude o que é ser Leixões e o que é o Leixões. São três exemplos muito bons e claramente que me revejo na liderança deles porque é leal, uma liderança para ajudar, e é isso que tento fazer com os meus colegas.

Como capitão, alguma vez precisaste de chamar um colega à atenção de um modo mais duro?
Já aconteceu. Até nos chateámos, mas isso faz parte do futebol. O capitão tem de ser aquela pessoa que está ali para os bons e para os maus momentos. Está ali para apoiar, mas também para retificar. Quando achar que há algum elemento do grupo que não está dentro da direção que toda a gente quer que o comboio leve, o capitão tem de chamar à atenção. E eu faço isso. Este ano temos um objetivo claro, que é público, que é a subida de divisão. Se sentir que algum colega está a facilitar e não está a ir no caminho que temos traçado, se não está a ser profissional para nos ajudar a atingir o objetivo, vou tentar pô-lo uma ou duas vezes no comboio. À terceira já não aviso e terei de dar uma reprimenda forte. 

Ter de assumir esse papel é uma situação ingrata ou é natural?
É uma situação ingrata, como é lógico, nunca é bom estarmos a criticar alguém, mas é uma situação natural, que acontece espontaneamente. Exijo muito de mim. Já fui um bocado mandrião, confesso, mas nesta fase da minha carreira percebo que cometi alguns erros no passado e, como exijo muito de mim, tento exigir o máximo dos meus colegas e tento fazer-lhes ver, principalmente aos mais jovens, que isto é muito curto e que por vezes nos arrependemos de algumas situações. Por exemplo: digo-lhes para treinarem sempre no máximo, mesmo quando não são opção, porque depois quando formos temos de estar bem e, se não treinarmos bem, vamos chegar ao domingo e não vamos ter o rendimento que esperamos e que as pessoas esperam de nós.

Do que é que os capitães costumam falar quando trocam galhardetes? Muitas vezes vemos os jogadores e o próprio árbitro a rir.
É um momento de descontração. Normalmente desejamos boa sorte e, se tivermos algum relacionamento com o capitão da equipa adversária, trocamos ali alguma brincadeira. Criamos ali um momento descontraído e de fairplay, que acho que é importante. Sou um jogador que não gosta nada de perder. Não gosto mesmo! É uma virtude, não é um defeito. Gosto de pessoas que não gostam de perder nem no futebol nem na vida. Gosto de pessoas ambiciosas, que gostam sempre de ganhar, e sou assim. Durante os 90 minutos posso cometer uma ou outra falta de fairplay, mas fora do campo sou sempre uma pessoa tranquila, que tenta ajudar o próximo. Preocupo-me sempre com as pessoas que estão à minha volta e, se tiver de pedir desculpa por alguma coisa que fiz durante os 90 minutos, faço-o sempre. Mas durante o jogo não costumo facilitar e admito que sou uma pessoa difícil. [risos]

 

"GOSTO DE PESSOAS QUE NÃO GOSTAM DE PERDER NEM NO FUTEBOL NEM NA VIDA. GOSTO DE PESSOAS AMBICIOSAS, QUE GOSTAM SEMPRE DE GANHAR, E SOU ASSIM."

 



Os árbitros costumam ser mais tolerantes com os protestos dos capitães?
Sim, normalmente ouvem-nos mais. Normalmente já nos conhecem, já conhecem o nosso feitio, e isso também nos ajuda. Quando era miúdo levava muitos cartões amarelos por protestar. Agora as coisas são diferentes, também já vou protestando menos, um bocadinho, mas sinto que eles têm uma abertura maior com os capitães de equipa. Isso é um facto. Mas acho que mesmo a classe da arbitragem tem crescido bastante e, neste momento, Portugal tem de se orgulhar de todos os seus profissionais e deixar-se das polémicas que vemos na televisão porque não beneficiam em nada o futebol português.

Como tens visto a atuação do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
Vou ser sincero: no início não tinha uma opinião muito boa, mas passei por várias situações e agora aconselho vivamente toda a gente a ser sócia do Sindicato. Terminei agora o 12.º ano com a ajuda do Sindicato, ajudou-me bastante, através do João Paulo e da doutora Susana Oliveira. Antes tive uma rescisão de contrato com um clube e o Sindicato foi sempre muito acessível, deu-me conselhos sobre o que devia fazer. Por isso aconselho vivamente todos os profissionais de futebol a serem sócios do Sindicato. Se todos formos sócios, o Sindicato vai ser muito mais forte, vai proteger-nos muito mais, vai ter muito mais força junto dos clubes e isso só pode engrandecer o futebol português. O presidente e todas as pessoas que trabalham no Sindicato estão de parabéns porque o trabalho tem sido muito bem feito. É uma entidade que tem crescido a olhos vistos e tem feito muito bem ao futebol português.


Perfil
Nome:Luís Manuel Costa Silva
Data de nascimento: 29 de setembro de 1992
Posição: Médio
Percurso como jogador: Leixões (formação), Leixões, SC Braga B, SC Braga, Gil Vicente, Desportivo de Chaves, Belenenses, Cova da Piedade e Leixões.