“Há um défice de árbitros jovens”


Árbitro da primeira categoria desde 1995, Paulo Baptista defende que a arbitragem portuguesa atravessa uma fase de mudança e que a atividade passará a ser mais apelativa para os jovens.

Qual é o estado da arbitragem em Portugal?
A arbitragem, em termos estruturais, está numa fase de profunda mudança. Esta época marca o ano zero, de uma “nova” arbitragem que a médio prazo, estou convicto que irá ser profícua. No presente, não posso deixar de frisar as nomeações do Pedro Proença, nomeadamente para as finais da Liga dos Campeões e do Campeonato da Europa, sinal evidente do prestígio Internacional que a arbitragem portuguesa tem além-fronteiras. 

 

Foi benéfica a passagem da arbitragem da Liga para a FPF?
Essa mudança deveu-se ao facto de a lei assim o exigir, existir duas cúpulas da arbitragem era impensável, até pelos constrangimentos que isso criava. Com a passagem para a FPF, estão de novo criadas as bases para que a arbitragem seja uma só, a começar pela formação e uniformização de critérios iguais para todos os árbitros a nível nacional, o que não acontecia até aqui. Ter toda a arbitragem centralizada no órgão máximo do futebol português será positivo, até por questões de coerência. 

 

Na sua opinião quais são as medidas que devem ser implementadas para melhorar o setor?
Estão a ser desenvolvidas várias medidas. Penso que os organismos competentes estão atentos. O facto de existirem mais árbitros em campo nos jogos europeus pode facilitar a tarefa do árbitro. A implementação de algumas tecnologias, como por exemplo, a colocação de tecnologias na linha de baliza. A profissionalização dos árbitros, dando-lhes mais condições para que disponham de mais tempo, para melhorar a preparação física, técnica e psicológica. 

 

Quais são os grandes desafios da arbitragem?
O Conselho de Arbitragem da FPF está empenhado em ter mais e melhores árbitros e apostado na formação de novos árbitros com mais meios ao seu dispor. Melhorar e alterar a imagem que a arbitragem portuguesa tem intramuros, uma vez que internacionalmente e como já referi, está muito bem cotada. 

 

E como avalia o estado do futebol português?
O futebol português é competitivo e a prová-lo estão os bons desempenhos a nível internacional, tanto dos clubes portugueses como da Seleção Nacional. O nosso futebol é reconhecidamente um dos melhores do mundo e é um dos únicos sectores de atividade em que Portugal se encontra no top. Ao nível interno, têm sido os mesmos clubes a manter a hegemonia, mas nota-se que não há facilidades em ganhar os jogos. 

 

Considera que existe uma boa relação entre os diversos agentes do futebol português?
Atualmente as relações tendem a melhorar, assim seja o desejo de todos. O futebol é uma indústria em que, só com todos os agentes em sintonia, se poderá obter excelentes resultados.

 

Como é que deve ser uma relação árbitro/jogador?
Deve ser uma relação salutar e de respeito. Árbitros e jogadores entram em campo com as suas missões bem definidas. Os jogadores perceberem (e atualmente é isso que acontece) que os árbitros são agentes que procuram que as leis sejam cumpridas e que algumas vezes, tal qual os jogadores, também falham. Da mesma forma, nós árbitros, percebermos que os jogadores sendo profissionais, procuram também dar o seu melhor na procura dos objetivos para as suas equipas.

 

Ao longo dos anos tem notado se os jogadores têm mudado o seu comportamento para com os árbitros?
Sim e essa alteração foi ganha com a atitude que nós árbitros e jogadores conseguiram na valorização da relação mútua, mas também porque houve uma evolução de mentalidades na forma de encarar o próprio jogo. Hoje existe mais “profissionalismo”.

 

Seria positivo que todos os clubes tivessem na sua estrutura ex-árbitros para auxiliarem jogadores, técnicos e dirigentes?
Poderia ajudá-los a perceberem melhor o trabalho dos árbitros e sensibilizá-los mais, naquilo que são as leis de jogo e as perspetivas que por vezes temos dos lances. 

 

Ser árbitro é uma atividade apelativa para os jovens?
Há um défice de árbitros jovens. Não é fácil o percurso de um árbitro e exige persistência. Com a mudança estrutural implementada este ano ao nível dos quadros nacionais, estou em crer que passará a ser uma atividade bastante apelativa para os jovens. 

 

B.I.: 
Nome: Paulo Baptista
Idade: 43 anos
Associação: Portalegre
Profissão: Gerente de armazém