“É importante sentirmos que precisamos do próximo. Só assim é que o mundo faz sentido”


Idris vive para a família e preocupado com o próximo. A atenção que dá aos outros é de um altruísmo exemplar. 

Idris vive para a família e preocupado com o próximo. A atenção que dedica aos outros é de um altruísmo exemplar. O médio do Boavista está preocupado com o atual momento, mas acredita que depois de o ultrapassarmos, a humanidade vai sair muito reforçada.

Vivemos uma fase única nas nossas vidas. Como é que tens passado os dias?
Agora não temos a rotina de antigamente, em que acordávamos, íamos treinar, os miúdos iam para a escola, tínhamos as coisas mais ou menos planeadas. Hoje, a prioridade é estar em casa com a família, a mulher e os filhos, e é passar o dia a dia.

Quando não estás a treinar, como é que ocupas o tempo?
É mesmo com a família. Tenho uma menina de 21 meses e um menino de 8 meses. A minha prioridade é estar com eles e com a minha mulher. Só saio mesmo quando é preciso comprar alguma coisa no supermercado, se não estou fechado em casa. Tem de ser.

Tens treinado diariamente?
Sim. Temos um plano, que nos enviou o nosso preparador físico, e também saio de vez em quando para dar uma corridinha aqui na minha zona.

Falas diariamente com a tua família, nomeadamente com pais e avós?
Sim, tenho falado com os meus pais e com os meus irmãos. Acabei de falar com a minha mãe. Ligo-lhes para saber se está tudo bem com eles. Saber que estão bem ajuda-nos a ficarmos ainda melhor, portanto falamos praticamente todos os dias.

E com os teus colegas de equipa?
Sim. Temos um grupo no WhatsApp. Muitas vezes alguém manda um vídeo e a gente ri-se. Falamos regularmente e o nosso treinador também faz algumas conferências. Estamos sempre em contacto.

Sentes que, apesar da distância física de família e amigos, acabamos por estar mais próximos agora?
Acho que a proximidade é o contacto físico. Sentir. É bom falarmos ao telefone, mas o melhor é o facto de sentir a presença dos outros, poder tocar, poder abraçar, aquelas brincadeiras. Para mim isso é que é estarmos próximos. É importante sentirmos que precisamos do próximo. Só assim é que o mundo faz sentido.

 

“A PROXIMIDADE É O CONTACTO FÍSICO. SENTIR.”

 

Já sentiste alguma ansiedade ou tens lidado bem com o lado psicológico?
Não tenho sentido muita dificuldade, porque sou crente e acredito muito em Deus, portanto nessa parte não sofro tanto. Tudo o que me surge pela frente, tento resolver com aquilo em que acredito, que é Deus.

Temes que seja possível voltarmos a passar por uma situação parecida?
Acho que isto é culpa de todos nós. Temos de perceber de uma vez por todas que precisamos de todos, cada um precisa do próximo. O mundo é feito de proximidade, de amor, de estarmos juntos. Se ultrapassarmos esta situação, a humanidade vai sair muito reforçada. Hoje quero abraçar alguém e não posso, quero cumprimentar alguém e não posso. Acho que as pessoas vão sentir falta disso e não vão voltar a fazer coisas que nos levem a estas situações.

Descobriste alguma qualidade que não sabias que tinhas?
Acho que não tenho tido tempo para olhar para mim. Tenho dado tanta atenção à minha mulher e aos meus filhos, estou mais focado na minha família, preocupado em que não falte nada. Eu passo para segundo, terceiro ou quarto plano. Sinto que essa é a minha obrigação.

Decidiste mudar alguma coisa futuramente? Alguma resolução pós-isolamento?
As pessoas estão a portar-se bem, acho que é a única maneira que temos para sair disto. Ainda bem que todos perceberam a situação e que nos estamos a ajudar uns aos outros. Quero felicitar todos os profissionais, quer seja da saúde ou os que trabalham em supermercados, todas as pessoas que queriam ficar em casa e não podem, por nós. Essas pessoas têm muito valor. A mensagem que quero deixar é que todos nós precisamos dos outros. E, futuramente, gostava que todos fizéssemos com que o outro esteja bem. Se todos estivermos bem, vivemos num mundo feliz.