“Obviamente que nesta fase a ansiedade é maior e às vezes não é fácil”
O capitão do Vizela está, mais do que nunca, preocupado com os pais e com a família.
João Pedro está, mais do que nunca, preocupado com os pais e com a família. O capitão do Vizela, que tem treinado em casa e no campo do Pevidém, acredita que em breve vamos ultrapassar esta situação e garante que vai dar mais valor aos pequenos pormenores.
Como é que tens passado os dias?
Dentro de casa, como não podia deixar de ser. Levanto-me cedo, faço os treinos que a equipa técnica desenhou para os atletas, e da parte da tarde tenho mais tempo livre para ler, ver televisão, séries, por aí. Temos de arranjar sempre alguma coisa para fazer.
Como é que as coisas estão a ser vividas na tua área de residência?
Não soube de nenhum caso por aqui. Quando saio é praticamente sempre para fazer as compras de bens essenciais e tenho notado que difere muito: há dias em que noto menos trânsito, vejo que as pessoas realmente estão a respeitar a quarentena, e há dias em que vejo algum exagero por parte das pessoas, com muitos carros na rua. Depende, nunca é igual.
Tens saído de casa para fazer compras e para treinar? Dar umas corridas?
Sim. Para treinar tenho recorrido a uma pessoa conhecida do Pevidém, a terra onde cresci, a minha família é de lá. Conheço o diretor desportivo, que já jogou comigo, e falei com ele para saber se podia usufruir do campo sozinho. Ele deixou-me à vontade e, de vez em quando, vou lá dar uma corrida.
Estás em casa com quem?
Estou com a minha namorada. Não somos casados, mas já vivemos juntos há quatro ou cinco anos, e neste momento a minha sogra também está connosco.
Falas diariamente com a tua família, nomeadamente com pais e avós?
Sim. Com os avós nem tanto, mas estou sempre em contacto com os meus pais. Estou sempre preocupado em saber se precisam de alguma coisa de compras porque, dado o risco mais elevado para eles do que para mim, à partida, procuro ir fazer as compras.
Vivem perto de ti?
Estou a viver nas Taipas e eles em Pevidém. É pertinho, fica a 15 minutos, mais ou menos.
E falas regularmente com os teus colegas de equipa?
Sim, não só no nosso grupo no WhatsApp, mas também no grupo de trabalho para onde vamos enviando excertos dos treinos que fazemos.
Como assim?
A equipa técnica propôs-nos fazer alguns exercícios e nós vamos pondo um ou outro vídeo no grupo para comprovar que realmente estamos a fazer alguma coisa.
“A EQUIPA TÉCNICA PROPÔS-NOS FAZER ALGUNS EXERCÍCIOS E NÓS VAMOS PONDO UM OU OUTRO VÍDEO NO GRUPO.”
Assim não pode haver baldas!
[risos] É. O jogador às vezes acomoda-se um bocadinho e pode ser perigoso.
Sentes que, apesar da distância física de família e amigos, acabamos por estar mais próximos agora?
Mais próximos não, mas principalmente mais preocupados com os pormenores. Neste momento preocupo-me bastante com a minha família, com o bem-estar deles, e são coisas que, em tempos normais, com as nossas rotinas, isso passa um bocado ao lado. Dada esta situação, preocupo-me mais e vou estando em contacto com eles de outro modo, através de telefonemas e videochamadas.
Já sentiste alguma ansiedade ou tens lidado bem com o lado psicológico?
Tento abstrair-me, a ler e a ter aulas online, estou a tirar um curso profissional de Técnico Especialista em Exercício Físico, que dá para ser Personal Trainer. É uma área de que gosto. Vou desanuviando um pouco a cabeça desse modo, mas obviamente que nesta fase a ansiedade é maior e às vezes não é fácil.
És crente? A fé tem-te ajudado a superar este momento?
Cresci a ir à missa com os meus pais, a ir a Fátima durante as férias do futebol, mas, para ser sincero, não é uma coisa que seja um suporte para mim. Diariamente não penso muito nisso.
Temes que seja possível voltarmos a passar por uma situação parecida?
Muito sinceramente temo, porque se já é grave passar por esta situação uma vez, tanto a nível de saúde como financeiro, acho que passar por um segundo surto ia ser uma situação mesmo muito grave.
Descobriste alguma qualidade ou defeito que não sabias que tinhas?
Nada além de me preocupar com o bem-estar dos outros, neste caso da minha família, porque estes tempos assim o obrigam. É mais isso porque de resto acho que mantenho a personalidade.
Decidiste mudar alguma coisa futuramente? Alguma resolução pós-isolamento?
Não há muito que possa mudar, mas o que aprendi com isto é que, quando passar, temos de dar mais valor aos pequenos pormenores, à nossa vida, às nossas rotinas. Só conseguimos dar valor a essas coisas quando não as temos e agora isso tem sido muito vincado. Não conseguimos sair à rua à vontade, até umas simples compras são feitas de forma diferente, então temos de dar valor à vida que tínhamos e que vamos voltar a ter, se Deus quiser, de uma forma rápida.