“Estamos de parabéns por termos tomado essas decisões e agirmos como devia ser”


João Afonso vive com a mulher e esteve tranquilo durante o estado de emergência. 

João Afonso vive com a mulher, perto de alguns colegas de equipa, e esteve tranquilo durante o estado de emergência apesar de ter o irmão a viver em Itália. O central do Santa Clara só espera passar mais tempo com a família quando as nossas vidas voltarem à normalidade.

 Como é que tens passado os dias?
Temos uma rotina aqui em casa: acordamos às 9h15, tomamos o pequeno-almoço até às 10h, treinamos e almoçamos. À tarde vemos filmes e séries, jogo PlayStation e a minha mulher lê livros, eu não [risos], depois lanchamos, jantamos por volta das 20h e voltamos à televisão até ir para a cama, perto da meia-noite.

Vives só com a tua mulher?
Sim. Mas vivemos uns cinco ou seis jogadores aqui perto. Quando temos treinos de conjunto por videochamada juntamo-nos na garagem para treinar e socializar um bocado. Também temos um pátio privado aqui no prédio e sempre dá para estarmos ali a apanhar um bocado de ar em vez de estarmos sempre em casa.

Como é que as coisas estão a ser vividas na tua área de residência?
Aqui está tudo muito pacífico. Temos um campo sintético em frente à casa e ao sábado costuma haver jogos das 8h até às 22h. O campo está, praticamente, sempre ocupado. Depois no domingo costuma estar calmo. Agora a rua está praticamente deserta. Havia aqui sempre muitos carros estacionados e agora nem isso.

Falas diariamente com a tua família, nomeadamente com pais e avós?
Sim. Falo com os meus pais todos os dias. Tenho um irmão em Itália e falamos ocasionalmente. Também vou sabendo pelos meus pais como é que ele está. Mas já era assim, só se manteve.

Temes pelo teu irmão? Estando ele num país tão afetado pelo vírus….
Quando falamos a preocupação é sempre essa, mas sei que ele é rigoroso quanto às medidas e que se protege. Ele é da área da saúde, tirou enfermagem, portanto sabe bem que cuidados deve ter. E é uma pessoa cumpridora, sei que cumpre na íntegra o que lhe pedem. Do que for da responsabilidade dele não tenho com que me preocupar, mas claro que há sempre riscos.

E falas regularmente com os teus colegas de equipa?
Temos um grupo no WhatsApp. Vamos falando por aí e temos sempre aquelas palhaçadas normais que há na equipa. Mas não tem sido tão ativo como era antes.

De certeza que, com o Ukra, não falta animação nesse grupo….
[risos] Nos grupos ele é um pouco mais sossegado. Ao vivo é mais interventivo.

Sentes que, apesar da distância física de família e amigos, acabamos por estar mais próximos agora?
Para mim é um bocado a mesma coisa porque continuo a falar com as pessoas com a mesma regularidade, apenas não estou com elas. Às vezes, quando jogávamos no continente, os meus pais iam ver os jogos que podiam e dava sempre para estar com eles. Ou regressava uns dias mais tarde para a ilha, se a folga assim o permitisse. Isso é que não está a acontecer. Mas em termos de contacto, de falar com as pessoas, isso tem-se mantido.

Já sentiste alguma ansiedade ou tens lidado bem com o lado psicológico?
Temos lidado bem. Como temos a rotina de ir treinando e de fazer as coisas de forma normal, se calhar não nos afeta tanto.

És crente? A fé tem-te ajudado a superar este momento?
Sou, mas não sou praticante ao máximo, digamos assim. Acredito, mas não sou de rezar todos os dias. O meu irmão está ligado à religião, é jesuíta, a minha mãe e as minhas avós são muito religiosas, a materna já faleceu, mas também era daquelas pessoas de fazerem a oração e irem todos os dias à igreja. Eu não sou tanto assim.

Temes que seja possível voltarmos a passar por uma situação parecida?
Não sei, mas caso aconteça acho que pelo menos vamos estar mais bem preparados. A maioria dos portugueses fez aquilo que foi pedido, talvez por isso não teve um impacto tão grande como em Espanha e Itália, onde as medidas que tomaram foram tardias e tiveram um impacto avassalador. Aqui a densidade populacional não é tão grande, mas conseguimos tomar as medidas que tinham de ser tomadas e agir em conformidade. Estamos de parabéns por termos tomado essas decisões e agirmos como devia ser.

 

“A MAIORIA DOS PORTUGUESES FEZ AQUILO QUE FOI PEDIDO, TALVEZ POR ISSO NÃO TEVE UM IMPACTO TÃO GRANDE COMO EM ESPANHA E ITÁLIA, ONDE AS MEDIDAS QUE TOMARAM FORAM TARDIAS E TIVERAM UM IMPACTO AVASSALADOR.”

 

Descobriste alguma qualidade ou defeito que não sabias que tinhas?
Não. Treinamos de manhã e à tarde ficamos por casa, às vezes também a fazer algum suplemento ao treino se achar necessário, nada de especial. Ou seja, não houve uma mudança assim tão grande na minha rotina que me fizesse descobrir ou encontrar algum traço diferente no meu perfil. Pelo menos eu não sinto, mas posso sempre perguntar à minha mulher. Não, ela diz que também não sentiu. [risos]

Decidiste mudar alguma coisa futuramente?
Ainda estou em processo de reflexão, mas acaba por ser relacionado com a família, tentar passar mais tempo com eles e aproveitar mais o contacto assim que for possível. Não passa muito mais do que isso.