Perdeu-se um jogador, ganhou-se um árbitro
Chegou à primeira categoria da arbitragem em 2017 e deixou para trás uma carreira de jogador.
Chegou à primeira categoria da arbitragem em 2017 e deixou para trás uma potencial carreira de jogador. Vítor Ferreira é a favor das novas tecnologias, desde que contribuam para a verdade desportiva, e considera “inconcebível” o ambiente que se vive no futebol português.
Estreou-se na Primeira Liga em 2017. Recorda-se desse momento?
Sim, estreei-me em agosto de 2017, num Portimonense-Marítimo. Foi um jogo bravo porque foi a estreia do videoárbitro no nosso país e houve intervenção do VAR. É um desafio termos algo novo a ajudar-nos e a corrigir no momento. Foi uma realidade nova.
Ser árbitro é apelativo para os jovens?
Podia ser mais, sinceramente. A nível social, o árbitro não é visto da melhor forma. Ainda existe alguma falta de respeito, embora ache que esteja melhor do que há uns anos, porque a nossa profissão é mais reconhecida, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.
Num clima de violência e ameaças permanentes, como é que se prepara para os jogos?
Os árbitros de futebol devem ser alheios a todo o ruído que circula à volta do jogo. Dentro de campo temos de estar preparados para fazer o nosso trabalho, a nível técnico e de gestor de emoções. Não nos devemos deixar influenciar por qualquer ruído externo.
“OS ÁRBITROS DE FUTEBOL DEVEM SER ALHEIOS A TODO O RUÍDO QUE CIRCULA À VOLTA DO JOGO. DENTRO DE CAMPO TEMOS DE ESTAR PREPARADOS PARA FAZER O NOSSO TRABALHO, A NÍVEL TÉCNICO E DE GESTOR DE EMOÇÕES.”
Concorda que a par das ferramentas técnicas, é fundamental dar prioridade à saúde mental do árbitro?
Claro que sim. Um árbitro capaz a nível mental será mais capaz a nível técnico, no desempenho das suas funções.
Já sentiu perigo? As medidas de segurança que protegem os árbitros são suficientes?
Nunca senti qualquer tipo de perigo, no que respeita à minha pessoa, antes, durante e depois do jogo. O que se vive em Portugal é completamente inconcebível, a nível de pressão social e do que é colocado na imprensa. Não nos sentimos em perigo, mas sentimos a nossa privacidade e o bom nome constantemente postos em causa e isso não é saudável.
Há alguma medida que, do seu ponto de vista, poderia ou deveria ser implementada para acabar com o clima de violência?
Noutros países, existem medidas, a nível regulamentar e legal, que fazem com que os dirigentes tenham outro tipo de cuidado a falar para a comunicação social, porque, de certo modo, estão a criar opinião e a educar milhares de pessoas. Nesse aspeto, temos muito a evoluir e a aprender com outros países.
É a favor das novas tecnologias no futebol?
Se vierem para ajudar a verdade desportiva e para que o resultado final seja melhor, vejo com agrado. Já estão a ser implementadas e não se imagina o futebol sem tecnologia e teremos de nos adaptar a esta nova realidade.
O videoárbitro é uma ferramenta que veio para ficar?
Sim. Já é presente, não é novo, existe há três anos e contribui para a veracidade do futebol. Temos de estar felizes porque fomenta a verdade desportiva.
Se fosse jogador profissional de futebol, em que posição jogaria?
Gostaria de jogar a médio interior esquerdo. Sou esquerdino, gostava de jogar nessa posição, mas não tenho qualidade para tal [risos].