"O caminho que o Sindicato está a percorrer facilita o acesso dos jogadores ao apoio psicológico"

Presta atualmente assistência psicológica a vários jogadores que procuraram o Sindicato.
Em 2017, o Sindicato dos Jogadores e a Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto lançaram um projeto de sensibilização para a doença mental entre futebolistas. O psicólogo Pedro Teques tem sido o rosto no desenvolvimento científico da temática e presta atualmente assistência a vários jogadores que procuraram o Sindicato. É também um dos autores do guia prático sobre Saúde Mental, agora apresentado pelo Sindicato dos Jogadores. Em entrevista, o psicólogo analisa o que foi feito neste projeto ao longo dos últimos anos.
Que balanço é que faz da saúde mental do jogador profissional, antes e depois do Covid?
Relativamente à saúde mental na população em geral, já existem algumas evidências, realmente houve taxas de prevalência, nomeadamente no período do confinamento, naturalmente superiores àquilo que era no pré-Covid, digamos assim. Naquele período em que as famílias ficaram confinadas, emergiu uma maior sintomatologia ligada à ansiedade, perturbação do sono... Isso eventualmente teve consequências não só na população em geral, mas também junto dos futebolistas, porque os campeonatos pararam, somente o campeonato da Primeira Liga foi depois retomado, certamente que isso teve impacto. Ainda não existem evidências sustentadas para isso, apenas os indicadores da população em geral, e obviamente, os futebolistas não fogem certamente a esse quadro.
Colabora com o Sindicato em todo este processo. Que aspetos realça nestas ações que o Sindicato dos Jogadores tem vindo a realizar?
Creio que o Sindicato está a fazer um trabalho absolutamente extraordinário. Isto no seguimento daquilo que são as melhores práticas a nível internacional. Fundamentalmente a nível europeu, em que existe uma preocupação. A saúde mental tem uma necessidade de estudo, avaliação e também intervenção. E o Sindicato está a percorrer o mesmo paradigma, está a ter atenção com aquilo que é um tópico de necessidade premente, e a desenvolver passos consistentes para a implementação de uma intervenção, com a parceria que tem com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, para que haja uma intervenção sustentada, equilibrada e que dê soluções para os próprios futebolistas. Neste caso vejo um caminho muito sustentado e consigo justificar da seguinte forma: aquilo que são os desenvolvimentos de estudos do ponto de vista científico para tentar sustentar aquilo que é uma intervenção que já iniciou os primeiros passos, com a linha de apoio que foi desenvolvida por parte do Sindicato, e que vai agora chegar ao seu apogeu para o que é a disseminação de informação e também o quadro de apoio genérico a nível nacional.
A criação dessa bolsa de psicólogos é de vital importância?
Acho que sim. Vai permitir um acesso mais facilitado aos futebolistas para que obtenham apoio. O grande problema está no acesso ao apoio psicológico. O futebolista muitas vezes não acede devido a questões sociais, à questão da estigmatização da doença mental, mas obtendo acesso mais facilitado, até geograficamente mais próximo, certamente ficará muito mais à vontade para o fazer.
Sente, portanto, que ainda existe um preconceito em relação a pedir ajuda?
Digamos que é uma barreira social e deve-se claramente à necessidade de omissão da perturbação mental por parte do futebolista, porque pode ter consequências graves naquilo que é a sua própria imagem e estabilidade, até financeira, sua e das suas famílias. O caminho que o Sindicato está a percorrer facilita o acesso dos futebolistas ao apoio psicológico, para que não tenham que viver em agonia emocional, porque sentem que se pedirem ajuda, não conseguindo guardar confidencialidade, anonimato, sigilo da informação, poderão correr riscos de perder os seus contratos.
Acaba também por proporcionar uma certa normalização, concorda?
Exato, que é o caminho que deve ser percorrido. Retira o estigma, aumenta a disseminação da informação, que é o que o Sindicato está a fazer muito bem com este tipo de iniciativas, e obviamente normalizar o acesso, através de uma forma geograficamente mais facilitada.
De uma forma geral, tem notado uma maior procura por parte dos jogadores nos últimos meses?
A linha de apoio teve de facto algumas solicitações, quarenta a cinquenta, mas acho que é necessário mais. A estratégia do Sindicato está sustentada para poder desenvolver um apoio consistente, devido à informação e experiência que tem ganho nos últimos dois anos.