"Não é fácil estar longe, mas temos de fazer alguns sacrifícios"


Depois do SC Braga, o médio português emigrou para França em 2017 e hoje é titular do Lille. 

É a tua quinta época em França. Que balanço fazes desta experiência?
Vou fazer 26 anos e tem sido uma aprendizagem constante. Não é um mar de rosas, nem tudo é fácil, estou a fazer o que gosto e estou muito satisfeito por estar em França, mas é sempre difícil fazer a transição do nosso país para outra língua e outra cultura. Tive a felicidade de ter outros portugueses que me ajudaram bastante na integração. Tenho melhorado a cada ano que passa, em termos de maturidade, não falo de capacidades técnicas porque isso é um bocado relativo, há épocas em que estamos melhor, uns jogos correm melhor, outros não, mas tenho crescido bastante enquanto pessoa, ajudou-me a ser mais independente. Tenho a minha família em Portugal, não é fácil estar longe, mas acabamos por nos habituar e, se é realmente isto que queremos para a nossa vida, temos de fazer alguns sacrifícios, que também são recompensados pela forma como a equipa se situa e pela grandeza do clube.

Como é viver em Lille?
No verão é bom porque não faz muito frio [risos]. É uma questão de hábito também. Se estivermos habituados a viver aqui já sabemos que o inverno é frio e vamos estar mais tempo em casa, o que não me incomoda porque sou uma pessoa bastante caseira. O único problema é mesmo o frio. De resto, gosto muito da cidade. É uma cidade histórica e quem nunca a visitou aconselho a fazê-lo porque é uma cidade bastante interessante.

Tens a companhia dos compatriotas Tiago Djaló, José Fonte e Renato Sanches. Passam muito tempo juntos fora do clube?
Há sempre alturas em que vamos jantar, mas normalmente saímos do treino ao início da tarde e vamos para casa. Cada um vive em sítios diferentes, eu vivo um bocadinho mais afastado, e não passamos assim muito tempo juntos fora dos treinos. Mas sempre que é para irmos jantar, ou para outro programa qualquer, estamos lá.

Há alguma coisa que leves na mala sempre que vens a Portugal? Alguma comida, por exemplo?
Acabo por não trazer nada porque tenho aqui restaurantes portugueses que são muito bons, tenho uma pastelaria que faz uns pastéis de nata incríveis, então acabo por não trazer nada porque tenho aqui um bocadinho de tudo. Há muitos portugueses. Muitos mesmo.

Quais são as principais diferenças entre a liga francesa e a nossa?
Fisicamente a liga francesa é mais exigente. É óbvio que, com o poder financeiro que há aqui, as equipas supostamente mais pequenas têm jogadores com muita qualidade, o que torna o campeonato muito bom, bastante competitivo. Em Portugal, se calhar damos mais valor à parte tática e à forma como se joga. Aqui há equipas que apostam muito naquele jogo de segunda bola, de contacto. A parte física prevalece muito aqui, acho que é a principal diferença.

Sentes que te cobram mais por seres estrangeiro ou, por outro lado, és mais protegido?
Sinto que a imprensa protege muito mais os jogadores franceses, sempre foi assim. Mas no clube somos muito bem recebidos e somos todos tratados da mesma forma.

"SEMPRE SOUBE QUE A MINHA CARREIRA IA ACABAR POR SER NO ESTRANGEIRO. ESTAVA PRONTO MENTALMENTE PARA ISSO E A EXPERIÊNCIA NO VALÊNCIA FOI FULCRAL."

Em 2011/12 estiveste nos juniores do Valência. Jogar no estrangeiro era um objetivo que tinhas desde cedo?
Sempre quis jogar no estrangeiro. Tive a oportunidade de estar no Valência e ajudou-me a compreender o que é estar fora. Sempre soube que a minha carreira ia acabar por ser no estrangeiro. Estava pronto mentalmente para isso e a experiência no Valência foi fulcral para me ajudar na integração que tive aqui em França.

A tua experiência na I Liga portuguesa é de apenas meia época no SC Braga. Gostavas de voltar?
Nunca digo que não, mas, neste momento, sinto-me bem a jogar aqui. Para já, não tenho ideia de fazer outros voos, sinto-me muito bem aqui, tenho uma vida estável, o que é bastante importante, mas um dia gostava de voltar a Portugal, pelo menos para a acabar a carreira. É, sem dúvida, um objetivo.

Se pudesses escolher, em que liga mais gostarias de jogar?
Gosto muito do futebol inglês, acho que me vou adaptar bem [risos]. Também gostava de experimentar a liga italiana e de passar pela liga espanhola. Mas é, principalmente, a liga inglesa, apesar de estar aberto a outras opções.

Nalguma equipa em específico?
Quando era mais novo acompanhava muito o Manchester United, também por causa do Cristiano [Ronaldo], e o Chelsea. Nunca tive um clube específico, mas falo da liga inglesa pelo futebol, pelo ambiente à volta do jogo. É um futebol cheio de paixão e gostava de experimentar.

Tens 25 anos e jogas num dos melhores campeonatos da Europa. Sentes que a Seleção A está perto?
Sinto-me preparado para ser chamado a qualquer altura. Há muita qualidade na seleção portuguesa, mais especificamente no meio-campo, mas trabalho todos os dias para mim, para ajudar o clube, e se um dia for chamado de certeza que vou estar à altura e estarei preparado para dar o meu melhor.

Porquê Xeka?
Vem da minha família, foi uma alcunha que deram ao meu avô quando ele era pequeno e, como cresci com ele, na mesma casa, houve uma altura na formação em que decidi adotar a alcunha dele para a minha carreira. Somos conhecidos como a família do Xeka.

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
É extremamente importante porque há muitos jogadores que precisam de apoio por passarem por situações menos boas. E é fundamental que os jogadores tenham o apoio do Sindicato, para sentirem que têm alguém que os possa ajudar.