"A vida e o futuro não são só futebol"


O antigo ponta-de-lança é agora técnico dentário, depois de ter sido jogador profissional.  

Quando um jogador vem para o Estágio do Sindicato, que mentalidade deve ter e como é que deve olhar para o futuro?
Julgo que tem de aproveitar ao máximo o que o Sindicato lhe oferece, porque se formos ver as coisas pelo lado positivo, o Sindicato proporciona-nos condições que muitos clubes não têm. Mas quando vimos cá não pode ser só por essas condições que o Sindicato oferece, também temos de dar o nosso melhor para podermos ajudar os nossos colegas. Portanto, acho que temos de dar no duro, dar o máximo, para que quando sairmos daqui sejamos vistos de outra forma e apresentarmos o melhor nível, fazendo também com que o Sindicato seja visto como um elo de ligação para os outros jogadores.

Como é que fizeste a transição da carreira de jogador para outra atividade profissional?
Sempre tive em mente ir para a escola ou ter alguma formação profissional. Chegou a uma altura em que comecei a pensar, “pronto Dionísio, já andaste muito, agora tens de ir pela mais certa”. Fui para Inglaterra, – já lá estou há sete anos – e quando lá cheguei ainda estive num clube da Conference. Aí pensei, “este é o momento exato” e acabei por não assinar pelo clube. Decidi naquele momento que ia investir em mim, arranjar um trabalho em paralelo e ir fazendo os meus estudos. Felizmente consegui emprego num laboratório de tecnologia dentária e trabalhei lá durante três anos. Passados esses três anos inscrevi-me na universidade através do laboratório. Terminei o curso em três anos e hoje tenho sete de experiência a trabalhar como Técnico Dentário, área onde ainda trabalho.

Baseado na tua experiência, pensas que os jogadores portugueses valorizam a formação académica? Qual a importância da mesma para ti?
Julgo que cá em Portugal valorizamos muito a educação. Independentemente do que fazemos, da nossa carreira profissional, mesmo que, neste caso, seja o futebol, temos sempre em mente que um dia havemos de precisar de ter formação profissional, então assim que temos oportunidade de a fazer, fazemos. É o que temos feito, não só eu. E é o que aconselho, porque a vida e o futuro não são só futebol, porque muitos andam no futebol, mas são poucos os que chegam ao topo.

“NÃO DEIXEM TERMINAR A CARREIRA PARA DEPOIS COMEÇAREM A FAZER ALGUMA COISA. É TEMPO DE PREPARAREM A TRANSIÇÃO.”

 

Foi difícil deixares a tua rotina no futebol para começar outra atividade? Como foi a transição?
Não foi difícil. Aliás, eu vim aqui treinar e vocês viram a forma em que estou. Costumo dizer que sou um felizardo, porque eu jogava futebol, gosto de futebol e gosto de atividade física. Continuo a treinar, todos os dias. Treino muito mais agora do que quando jogava futebol. Sem a pressão e obrigatoriedade de manter aquele nível físico, mas que, entretanto, incuti em mim. Tento sempre conciliar os meus treinos com o meu trabalho.

Que mensagem gostarias de deixar aos jogadores que estão sem clube e a terminar a carreira?
Aos que estão sem clube digo-lhes para acreditarem, continuarem a trabalhar e pensarem sempre no futuro, que a vida não é só o futebol. Eles hoje estão nessa situação, mas é sempre bom pensarmos, refletirmos um bocado e olharmos para o lado, porque se não der no futebol, há de dar noutro lado. Para os que estão a acabar, não deixem terminar a carreira para depois começarem a fazer alguma coisa. É tempo de prepararem a transição. Muitos acabam por não conseguir aceitar, ou não conseguem fazer aquela mudança repentina. Se a forem fazendo de uma forma gradual, ajuda e é sempre mais fácil.

Para terminar, como gostarias de ser lembrado no futebol enquanto jogador?
Enquanto jogador, gostava de ser lembrado pelo bom colega, bom companheiro, por aquele espírito combativo que tenho e que passei sempre aos meus colegas. É isso que fica, porque o futebol acaba. Se formos a ver, muitos de nós deixamos de jogar e de comunicar uns com os outros, mas há sempre aquele prazer quando encontramos um colega e dizemos “epá, este foi um bom colega, um bom profissional”. É isto que eu mais quero. Continuar a ter boas amizades, vir cá e dar abraços a toda a gente, ao mister Rebelo, ao mister José Carlos, ao Franque… a todos. Eu gosto de ser lembrado assim. Não como o Dionísio jogador, mas como o Dionísio bom, aquele rapaz bom, homem bom, companheiro…

E na tua vida pessoal?
Na minha vida pessoal... Olha, eu sou aquela pessoa que não tem limites. Vivo cada dia como se fosse o último. Acredito que ainda tenho muito a dar e vou dar muito. Espero que Deus me ajude, me dê saúde para isso e trabalho também. O resto depois vem atrás.