“Faço questão de tratar os jogadores pelo próprio nome”
HUGO MIGUEL, valor seguro da arbitragem, recebeu as insígnias FIFA no início do ano. O árbitro da AF de Lisboa garante que a arbitragem portuguesa está no bom caminho e que o seu relacionamento com os jogadores pauta-se pelo respeito mútuo.
Qual é o estado da arbitragem em Portugal?
Sob o meu ponto de vista é muito bom. Garantimos em 2013 o maior número de sempre de internacionais para Portugal. Somos 29 neste momento, entre árbitros e árbitras, assistentes, de futsal e de futebol de praia. O fantástico ano de 2012, por certo irrepetível, com presença da equipa do Pedro Proença nas finais da Liga dos Campeões e do Euro provam esta minha afirmação.
Foi benéfica a passagem da arbitragem da Liga para a FPF?
Penso que sim, deixámos de ter uma organização bicéfala, passando a ter um Conselho de Arbitragem único, o que faz todo o sentido. Para os árbitros do principal escalão, os efeitos da passagem em termos organizativos foram praticamente nulos, pois todos os assuntos logísticos relacionados com os jogos continuam a ser tratados da mesma forma.
Na sua opinião quais são as medidas que devem ser implementadas para melhorar o setor?
Estão a ser dados passos concretos no sentido de uniformizar todo o processo de formação dos árbitros a nível nacional, estando para breve a implementação no terreno da Academia da Arbitragem. Os adventos desta mudança de paradigma far-se-ão sentir mais cedo do que se possa julgar.
Quais são os grandes desafios da arbitragem?
Manter o nível qualitativo das últimas prestações a nível Internacional. O Pedro Proença elevou a fasquia para um patamar quase inultrapassável. Todos nós podemos colher proveitos pela forma como a arbitragem portuguesa é vista lá fora neste momento, mas dá-nos também a responsabilidade de continuar a trabalhar para alcançar melhores desempenhos a cada jogo.
E como avalia o estado do futebol português?
Infelizmente não o podemos dissociar do momento económico que estamos a atravessar. Há logicamente um menor investimento por parte dos clubes, mas a aposta tem-se virado para o jogador nacional, os jovens oriundos da formação a quem têm sido dadas mais oportunidades têm-nas agarrado, demonstrando que este é o caminho certo para o futuro do futebol português.
Considera que existe uma boa relação entre os diversos agentes do futebol português?
Só posso responder a essa questão no que diz respeito à relação dos árbitros com os outros agentes desportivos. E nesse particular é uma relação sã e cordial. Obviamente por vezes há diferenças de opinião, que nos locais próprios são dirimidas. Os clubes dispõem de meios regulamentares para manifestar a sua opinião em vez de virem para a praça pública queixar-se desta ou daquela decisão.
Como é que deve ser uma relação árbitro/jogador?
Estou muito à vontade para responder a esta questão. Desde os tempos que comecei a dirigir jogos nos escalões distritais fiz questão de tratar os jogadores pelo próprio nome. Muitos colegas me questionaram se ao fazer isso não sentiria a autoridade colocada em causa. Pois bem, além de nunca o ter sentido, esse aspeto mais humano de relacionamento com o jogador tem-me granjeado maior aceitação e respeito por parte de todos eles.
Ao longo dos anos tem notado se os jogadores têm mudado o seu comportamento para com os árbitros?
Nunca tive razões de queixa. Logicamente notei alguma melhoria porque a minha carreira tem sido felizmente sempre feita em crescendo, começando no distrital de Lisboa em 1995, até atingir o futebol profissional em 2006. A evolução que senti era paralela aos escalões nacionais por onde ia passando.
Seria positivo que todos os clubes tivessem na sua estrutura ex-árbitros para auxiliarem jogadores, técnicos e dirigentes?
Obviamente que sim. Dou o exemplo prático dos treinadores que são os únicos dos atrás expostos que carecem de obrigatoriedade de formação. Se perguntar a qualquer um deles qual a disciplina ministrada no curso que menos domina a resposta será unânime: Leis do Jogo. A inclusão de um especialista nesta matéria pode trazer aos clubes vantagens competitivas a ter em conta.
Ser árbitro é uma atividade apelativa para os jovens?
Infelizmente não é. Mas também aqui se pode alterar o paradigma. Vamos pensar nos milhares de jovens jogadores que atingindo o escalão de seniores, normalmente não integram as equipas principais dos seus clubes e acabam por abdicar do seu sonho de jogar futebol. A Arbitragem seria uma interessante forma de continuarem ligados à modalidade que amam, com a vantagem que eles têm, de já terem jogado, de perceberem o jogo, de terem capacidades físicas invejáveis, que os podem guindar ao topo nesta atividade.
B.I.:
Nome: Hugo Filipe Ferreira Campos Moreira Miguel
Idade: 36 anos
Associação: Lisboa
Profissão: Bancário