"Sair de Portugal enriqueceu-me, sobretudo em termos humanos"


Aos 35 anos, o internacional português, que joga no Verona, já tem o curso de treinador UEFA B.

Esta é a tua 12.ª temporada consecutiva fora de Portugal. Qual é o balanço que fazes desta experiência, ao longo de todos estes anos em Itália?
Faço um balanço muito positivo. Ir para fora de Portugal tem-me permitido conhecer muitas culturas diferentes da nossa, como a ucraniana e a italiana. Foi um percurso que me enriqueceu não só profissionalmente, mas sobretudo em termos humanos. 

Como é viver em Verona?
A cidade de Verona acolheu-me imediatamente muito bem. É uma cidade cheia de história e arte, onde estamos rodeados de uma enorme beleza paisagística. As pessoas de Verona também têm um calor humano e um coração especiais. Eles fizeram-me sentir imediatamente como sendo um deles.

Há mais jogadores portugueses em Itália, como Mário Rui, Rafael Leão e Beto, por exemplo. Costumas encontrar-te com eles algumas vezes?
Normalmente, nós encontramo-nos durante os jogos da Liga Italiana. De resto, na minha vida privada, tento dedicar o máximo tempo possível à minha família.

Visitas Portugal sempre que podes? O que levas para Itália na bagagem quando vens ao nosso país?
Quando posso, tento sempre visitar Portugal. Continua a ser a minha casa e é sempre bom voltar ao meu país. Não costumo levar nada em especial. O mais importante, acima de tudo, é ter a oportunidade e a felicidade de voltar a estar no país onde nasci.

Quais são as principais diferenças entre a Liga Italiana e o nosso campeonato?
Seguramente que a maior diferença está no aspeto tático. No campeonato italiano é muito importante encontrar um equilíbrio entre os aspetos defensivo e ofensivo. Em Itália tudo começa numa forte solidez defensiva, por outro lado, em Portugal, joga-se um futebol diferente, mais ofensivo.

Em março de 2020, o futebol parou no mundo. Como é que lidaste com a interrupção abrupta das competições?
Confesso que no início não foi fácil. Mas ter parado o futebol foi a decisão mais acertada, perante uma pandemia que causou tantas mortes em todo o mundo. A paragem das competições, devido à Covid-19, acabou por ser uma oportunidade para desacelerar o ritmo frenético do futebol. Deu para dedicarmos mais tempo à família e aos afetos, o que antes não era possível.

“A FASE FINAL DA CARREIRA DE TODOS OS JOGADORES DE FUTEBOL É SEMPRE UM MOMENTO DELICADO. O APOIO DO SINDICATO DOS JOGADORES É MUITO IMPORTANTE.”

Como é que te preparaste para o regresso à competição, depois de vários meses sem treinar no campo com os restantes colegas?
Eu sempre tentei manter-me ativo. Tínhamos planos de treino para cumprirmos em casa. Geri a minha dieta e também treinei bem durante essa fase, para que, quando regressássemos ao trabalho de campo, não notasse diferença em termos físicos e estivesse a 100% e em plena forma.

Sentes que as pessoas aprenderam algo com esta pandemia e passaram a dar mais importância a aspetos da vida que antes não valorizavam?
Penso que sim. A começar pela importância de um simples abraço e de estarmos juntos. Esses eram gestos que a cultura europeia não valorizava tanto e que agora passou a valorizar. São coisas que muitas vezes damos como certas, mas que são fundamentais para todos nós, e a pandemia acabou por mexer um pouco com isso.

Se o futebol parasse de novo, estarias mais preparado para tal cenário do que há dois anos?
Claro que sim, estaria. Mas esperemos que essa situação não volte a acontecer e que seja possível continuarmos a jogar futebol, apesar de todas as restrições provocadas pela Covid-19. Não seria bom para a humanidade pararmos tudo novamente.

Tens 35 anos e o fim da carreira está cada vez mais próximo. Nos últimos anos, o Sindicato dos Jogadores tem apoiado os futebolistas em Portugal na transição para outra atividade quando terminam as suas carreiras. Achas que este é um trabalho importante?
A fase final da carreira de todos os jogadores de futebol é sempre um momento delicado. Acho que uma associação como o Sindicato dos Jogadores é uma realidade importante e um apoio muito útil no momento em que a carreira termina. É sempre bom para os jogadores poderem ter esse apoio e não ficarem desamparados no momento em que penduram as chuteiras.

Quando jogaste em Portugal, no Sporting CP, foste embaixador da iniciativa do Sindicato para os jogadores sem clube, o Estágio do Jogador. Mesmo à distância, continuas a acompanhar o nosso trabalho?
Sim, sempre que posso, leio a revista e acompanho o site do Sindicato dos Jogadores, para estar a par de tudo o que vão fazendo pelo jogador português. É um trabalho de louvar.

Gostarias de terminar a carreira em Portugal ou em Itália?
Penso que a minha carreira vai acabar aqui, em Itália. Tenho 35 anos, estou aqui há seis, e por isso o cenário mais provável será terminar aqui.

E quando terminares a carreira de jogador, já sabes o que vais querer fazer?
A única certeza que tenho é que no final da minha carreira quero dedicar o máximo de tempo possível à minha família. O futebol é uma profissão bonita, mas faz com que estejamos muito tempo longe de casa. Entretanto, também já tenho a minha licença de treinador UEFA B. Fiz o curso no Centro Técnico Federal de Coverciano, da Federação Italiana de Futebol. E no futuro, quem sabe!