"Houve momentos em que me fui muito abaixo"
Médio do Vilafranquense esteve 14 meses sem competir e regressou aos relvados em janeiro.
Chegaste ao Vilafranquense depois de meia época na Roménia e de um ano na Segunda Liga ao serviço do Leixões. Antes de mais, o que te levou a aceitar a proposta do Cluj?
Principalmente o projeto. Estava na segunda divisão e tinha como objetivo subir à primeira. Era um projeto aliciante e em termos monetários também era bom, por isso decidi tomar esse passo.
Havia outros cinco portugueses no plantel na altura. Isso ajudou-te de alguma forma na adaptação?
Sem dúvida alguma. Eram jogadores experientes, de segunda liga, que traziam a sua experiência para o futebol romeno e ajudaram na adaptação. Estávamos sempre juntos fora dos treinos e isso ajudou muito.
A experiência foi curta e regressaste a Portugal ainda na mesma época, para o Vilafranquense. Quando recebeste a proposta não pensaste duas vezes?
Não. Decidi logo aceitar, porque elementos da minha família também já tinham jogado cá e eu, pronto, quando surgiu a oportunidade quis vir logo.
“ESTAVA POSITIVO E ESPERANÇOSO, POIS SUPOSTAMENTE TINHA SIDO O MENISCO INTERNO E ERA ALGO RÁPIDO DE RECUPERAR.”
Como foi estreares-te pelo clube que o teu pai e outros familiares também já tinham representado?
Foi um sentimento de orgulho e felicidade. Nunca tinha surgido a oportunidade de representar o União anteriormente, uma vez que eu estava na Segunda Liga e o clube ainda no Campeonato de Portugal. Quando subiram e surgiu a oportunidade, claro que aceitei logo de braços abertos este projeto.
Ainda numa fase precoce da tua segunda época aqui, sofreste uma lesão que acabou por te afastar dos relvados durante bastante tempo. O que passa pela cabeça de um jogador quando sabe que vai ter de ser operado ao joelho?
Inicialmente foi duro, quando soube que tinha de parar e ser operado. Nunca tinha sido operado ao joelho e então fiquei um bocado apreensivo. No entanto, estava positivo e esperançoso, pois supostamente tinha sido o menisco interno, era algo rápido de recuperar e poderia voltar em dois meses. Foquei-me em recuperar da lesão e voltar rápido e não perder muito tempo, para poder voltar aos treinos e a jogar.
As previsões apontavam para o teu regresso em fevereiro de 2021, mas as coisas acabaram por não correr tão bem. Como é que te sentiste quando percebeste que terias de voltar à mesa de operações?
Aí já foi mais difícil. Senti o meu mundo a desabar e fiquei sem chão. Já estava com a expetativa de voltar em fevereiro, a treinar e a jogar, e quando soube que tinha de voltar a ser operado e que ia ser uma paragem muito mais longa, aí sim, foi muito duro e passou-me mil e uma coisas pela cabeça.
“TINHA DE ESTAR PREPARADO PARA PODER NÃO VOLTAR A JOGAR E ISSO ASSUSTOU-ME.”
Falou-se na possibilidade de não poderes regressar aos relvados, essa hipótese assombrou-te durante a recuperação ou só te deu mais força?
Ao início assustou-me um bocadinho, quando o próprio médico que me ia operar me disse que tinha de estar preparado para não correr bem. No fundo eu tinha de fazer um transplante de osso e o corpo podia não aceitar esse osso no organismo. Tinha de estar preparado para poder não voltar a jogar e isso assustou-me um bocadinho. Mas foi por pouco tempo também [risos]. Pensei logo positivo, disse ao doutor para estar descansado, que ia dar a volta, que ia conseguir recuperar bem, que o corpo ia aceitar, que ia correr tudo bem e ia voltar a jogar e que a camisola da estreia ia ser para ele.
Como lidaste, sobretudo psicologicamente, com todo este processo?
Houve momentos em que me fui muito abaixo, inclusive pensei em desistir. São momentos mais baixos, mas como tudo na vida há momentos mais altos e outros nem tanto e rapidamente os momentos altos vêm. Considero-me uma pessoa muito positiva, penso sempre que vai correr tudo bem e rapidamente tentei mudar o meu mindset, a perspetiva das coisas e foquei-me só no que havia de bom e no que eu podia fazer para melhorar. Foquei-me nisso e correu bem.
Ainda assim, essa possibilidade, de uma carreira acabar de um momento para o outro, fez-te pensar no pós-carreira?
Sim. Já penso nisso e já pensava anteriormente, ou seja, é algo que tenho vindo a preparar ao longo dos tempos. Com a lesão ainda mais. No meu tempo livre, dedicava-me ao que quero fazer e ao que posso fazer no momento. Foquei-me nesse pós-carreira, naquilo de que gosto e que quero fazer quando acabar o futebol.
“RESILIÊNCIA É A MELHOR PALAVRA QUE DESCREVE TUDO O QUE PASSEI.”
Se conseguisses escolher uma palavra para descrever o que viveste durante 14 meses afastado, qual seria e porquê?
Resiliência. É a melhor palavra que descreve tudo o que passei. É quase como se só tivéssemos uma luzinha ao fundo do túnel e agarrarmo-nos a ela, não ouvirmos opiniões externas e focarmo-nos no positivo. Agarrarmo-nos sempre ao que é bom e focarmo-nos no que virá, que certamente será bom.
Voltaste a entrar em campo no dia 15 de janeiro, frente ao Penafiel. Quão ansioso estavas por voltar a pisar a relva num jogo oficial?
Estava um bocadinho ansioso, confesso. Ansioso e nervoso, mas ao mesmo tempo com uma sensação de felicidade enorme porque estava ali prestes a estrear-me, a fazer aquilo de que mais gosto e quando pisei o relvado foi uma sensação de felicidade extrema.
Conseguiste deixar de imediato os fantasmas para trás ou houve alguns receios que tiveram de ser trabalhados mentalmente?
Não. Fisicamente o meu receio e os fantasmas acabaram logo na primeira semana de treinos. Tive logo vários lances em que me expus ao contacto e ao risco do joelho e não senti dor nem nada de negativo, então esses fantasmas desapareceram logo. Portanto, quando me estreei no primeiro jogo não tinha qualquer problema e estava a 100%.
“DEPOIS DESTA LESÃO, SINTO QUE ESTOU MAIS CONFIANTE E MAIS JOGADOR.”
Com manutenção já garantida, já dá para fazer um balanço da época?
Esta época foi muito boa e garantir a manutenção a três jornadas do fim para a realidade do nosso clube é extremamente positivo. Há que realçar este grupo de trabalho, porque, sem dúvida, se o conseguimos é graças a este grupo, ao staff, à equipa técnica que trabalha todos os dias no máximo e são fantásticos.
Ainda há o sonho de jogar na Primeira Liga?
Claro! Isso nunca vai desaparecer. Espero que um dia apareça. Agora, depois desta lesão, sinto que estou mais confiante, que estou mais jogador e velhos são os trapos. E nós temos um exemplo disso na nossa equipa: o Nenê. Tem 38 anos, farta-se de marcar golos, por isso, por que não? Tenho 27 anos, portanto, acho que ainda consigo chegar lá [risos].