"Ter um plano B sempre esteve muito presente na minha cabeça"
Martim Tavares, jogador do Boavista, está a licenciar-se em medicina dentária.
Estreaste-te como sénior na Primeira Liga aos 18 anos e marcaste logo um minuto depois de teres entrado. Esperavas um início de carreira tão bom quando deste os teus primeiros passos na formação?
Eu acho que quando se começa mesmo a jogar à bola não se pensa muito no futuro. Pensa-se mais em viver o momento. Quando somos pequeninos só queremos é dar pontapés na bola, fazer golo para ficarmos todos contentes. No início não pensava muito nisso. Claro que à medida em que ia subindo de escalão, iam aparecendo os sonhos e objetivos. Era um sonho estrear-me com um golo. Não sabia se era possível, mas graças a Deus foi e estou muito feliz.
Sempre quiseste ser profissional?
Sim.
Além de jogador, és um estudante exemplar. Sempre conseguiste conciliar bem o futebol e a escola?
Claro que comparando com alunos que só andam na escola, se calhar para eles é mais fácil. Para nós, que temos uma atividade paralela, é mais difícil, mas acho que com esforço e sacrifício tudo vai lá. E também o apoio da família, que é muito importante.
Os teus pais sempre te incentivaram a continuar a estudar ou foi uma coisa que quiseste?
Sim. Claro que muitas vezes pensamos que como temos o futebol, vamos desligar dos estudos, mas eu como tinha a minha família, mais a minha mãe na parte da escola, e do desporto, sempre tive o incentivo e deu resultado. Está a dar sucesso.
“TEM DE HAVER UM JOGO ENTRE O CLUBE E A ESCOLA, QUE NOS PERMITA FAZER AS DUAS COISAS.”
Como fazias a gestão entre a escola e o futebol para acabares o secundário com uma média tão elevada (19 valores)?
Havia alturas em que tinha treinos de manhã e então tive de passar as aulas para a tarde, em acordo com a escola. Havia ali um jogo com a escola e o clube de maneira a dar para conciliar as duas coisas. Tem de haver um jogo entre o clube e a escola, que nos permita fazer as duas coisas. Claro que isso também sai do corpo para nós. Muitas vezes, depois do jogo ao sábado à tarde, em vez de ir para casa descansar ou estar com os meus amigos, estava a estudar, a ir para explicações, a tentar acompanhar a matéria. Isso sai-nos do corpo. Queremos descansar e não é possível.
Depois do 12.º, já tinhas metido na cabeça que irias seguir para a faculdade?
Para mim, faz parte. Quando acabamos a escola, temos de ter um plano B, caso o futebol não dê certo, porque pode acontecer uma lesão ou outra coisa qualquer, não sabemos o dia de amanhã. Temos de ter um plano B que sustente a nossa vida e isso sempre esteve muito presente na minha cabeça.
Como surgiu a escolha do curso? Não é uma área muito usual entre os desportistas.
O ano passado entrei em desporto, porque é a minha paixão e sempre quis experimentar uma área ligada a isso. Depois comecei a pensar e surgiu a oportunidade de me candidatar a medicina dentária. É um curso de que gosto, relacionado com medicina. O meu pai é enfermeiro, está ligado a essa área da saúde e estou sempre a fazer-lhe perguntas acerca disso. Sempre tive esse gosto e foi uma área que quis seguir.
Como tem sido esta nova etapa de conciliar a faculdade com o futebol profissional?
Sendo profissional, e avançando mais no tempo, torna-se mais difícil conjugar as duas coisas, mas nos tempos livres há sempre maneira de fazer qualquer coisa, pegar num livro e estudar. Há sempre tempo para tudo.
“OS ESTUDOS TÊM DE ESTAR SEMPRE PRESENTES. NÃO DEVEM PARAR DE ESTUDAR.”
Pretendes acabar o curso, tendo em conta que é uma formação com mestrado-integrado?
Na minha cabeça não tenho tempo limite para terminar, mas quero fazê-lo o mais rápido possível. Vou vendo à medida que vou fazendo, mas quero terminar.
Vês este curso como um plano B ou paralelo ao futebol?
É um plano B. O meu objetivo é ser jogador profissional, fazer a carreira que todos sonham, em grandes clubes, grandes palcos, grandes campeonatos. Esse é o meu objetivo, ser profissional e melhor a cada dia que passa. A faculdade é um plano B, mas tem de estar sempre presente.
O mundo do futebol é imprevisível e tudo pode acontecer – situações fora do nosso controlo. Vês-te a exercer medicina dentária um dia?
Acho que sim. É uma coisa que é mais para o futuro, mas vejo-me a fazer isso. A carreira pode acabar aos 35, máximo 40, e ficar esse tempo todo sem fazer nada torna-se monótono. Para ter algo fora da rotina, é interessante.
És, sem dúvida, um exemplo enquanto jovem jogador. Que mensagem darias a outros jovens, como tu, mas que neste momento pensam em abdicar dos estudos?
Acho que os estudos são sempre importantes. Não só para nos formar como pessoas, mas para termos algo na vida que nos faça estar mais confortáveis, que nos faça ter o que necessitamos e queremos. Os estudos têm de estar sempre presentes. Não devem parar de estudar.