"A consciência do jogador é o que o ajuda a progredir nos estudos"


Guarda-redes Samu, do Mafra, está a licenciar-se em educação física.

 

Samu, esta é a tua primeira época fora da tua “zona de conforto”. Antes de vires para Mafra, jogaste sempre no norte do país. Foi fácil esta mudança?
Sim, foi fácil. A adaptação foi fácil. O Mafra é um clube muito acolhedor, as pessoas são muito acolhedoras. Facilitou muito a minha vinda para cá. Claro que, estando na minha zona de conforto, tenho pessoas mais conhecidas por perto, mas foi muito fácil a adaptação aqui em Mafra.

Foi mais fácil vires para “longe” ou adaptares-te aqui ao clube?
Sim, a zona é também muito bonita, mas as pessoas do clube foram muito amigáveis e facilitou muito mais a minha adaptação aqui no Mafra.

Como foi a época a nível individual?
Uma época positiva. Há sempre a aspetos mais negativos ou mais positivos, mas isso faz parte do futebol. Estou muito satisfeito com a minha época. Penso que diariamente contribuo positivamente para a evolução do clube e para a evolução da equipa. Tinha a ambição de jogar, poder conseguir ter minutos na Segunda Liga e esse era o objetivo principal e foi conseguido.

“COM A AJUDA DO ANSELMO, DO SINDICATO, ESTA ÉPOCA CONSEGUI CONCILIAR O FUTEBOL COM OS ESTUDOS E ATINGIR MAIS UM OBJETIVO NA MINHA VIDA.”

Sabemos que terminaste o secundário e continuaste o teu percurso até à faculdade. O plano sempre foi tirar um curso superior?
Sim. É sempre importante ter um plano B, porque o futebol é uma profissão em que estão muitos jogadores envolvidos e temos de ter noção disso. Nem todos vamos conseguir chegar a bons patamares no futebol e temos de ter sempre um plano B. E eu senti que os estudos seriam uma boa oportunidade para mim, espero bem que não, mas caso o futebol possa acabar mais cedo do que eu prevejo. Tenho casos de colegas meus que tiveram de deixar o futebol por causa de uma lesão, por causa de problemas de saúde. Então, é importante ver esses exemplos e ver que eles conseguiram progredir na vida porque tinham sempre um plano B e é esse o meu objetivo, também.

Candidataste-te à universidade logo após o secundário?
Sim, sim, candidatei-me, só que não conseguia conciliar. Depois, com a ajuda do Anselmo, do Sindicato, esta época consegui conciliar o futebol com os estudos e atingir mais um objetivo na minha vida.

E está a ser fácil conciliar os estudos com o futebol?
Está a ser muito positivo. É sempre um pouco complicado entrar novamente no ritmo dos estudos, principalmente porque estamos no treino de manhã, mas consegue-se conciliar perfeitamente. Quando se entra no ritmo, quando se entra na rotina de ter os treinos e ter os estudos conseguimos facilmente conciliar.

“AS INFRAESTRUTURAS, OS CLUBES E O SINDICATO APOIAM, SEM DÚVIDA, MAS ACHO QUE HÁ UMA MAIOR CONSCIÊNCIA DA PARTE DOS JOGADORES.”

Achas que hoje já há mais apoio e abertura dos clubes aos jogadores que decidem continuar a apostar na sua formação extrafutebol?
Penso que sim, porque praticamente todos os treinadores passam pelos estudos para poder ter o curso ou terem uma formação desportiva. Por isso, eles percebem o jogador e acho que essa parte está a evoluir muito mais do que há uns anos. Acho que há uns anos era mais complicado, era mais difícil conciliar, se calhar, essas duas vertentes, mas atualmente já há muito contributo, tanto dos clubes, tanto do Sindicato, que apoia muito os jogadores nesse aspeto.

Há cada vez mais jogadores a seguirem para o ensino superior. Sentes que cada vez mais os jogadores sentem a necessidade de ter um plano B?
Sinceramente acho que há mais a consciência por parte do jogador. Como eu disse, as infraestruturas, os clubes e o Sindicato apoiam, sem dúvida, mas acho que há uma maior consciência da parte dos jogadores. Se calhar já têm alguns exemplos, já veem que há a possibilidade de conciliar os estudos com o futebol…. Principalmente a consciência do jogador é o que o ajuda a progredir nos estudos.

Qual achas que é a razão para os jogadores ainda deixarem os estudos para trás, até mesmo o ensino secundário?
Acho que a ambição dos jovens é sempre conseguirem singrar na carreira futebolística e eu percebo essa ambição, porque todos a temos e se calhar acabam por descurar os estudos. O meu caso foi muito, como disse, de ter tido exemplos de colegas meus que tiveram de, infelizmente, acabar mais cedo. Se calhar esses jogadores precisam de algum exemplo ou, às vezes, de algum empurrão para lhes indicar o caminho de que é possível conciliar o futebol com os estudos, independentemente da ambição que eles têm.

“TEMOS DE TER A CONSCIÊNCIA DE QUE PODE HAVER VÁRIOS OBSTÁCULOS E VÁRIOS ASPETOS MENOS POSITIVOS NA NOSSA CARREIRA QUE NOS LEVEM A NÃO CONSEGUIR ALCANÇAR UM BOM PATAMAR NO FUTEBOL, UM PATAMAR PROFISSIONAL.”

Em relação à escolha do teu curso, existe uma vontade de ficar sempre ligado ao desporto ou até ao futebol?
Sim, sem dúvida. O desporto faz parte a 100% da minha vida. Eu gosto muito do futebol, mas gosto muito de outros desportos. Sempre fui também muito competitivo noutros desportos e gosto também da vertente física, de aumentar índices físicos porque ajuda também ao futebol.

Se não tivesses tido a oportunidade de ser jogador, o que te vias a fazer?
Ia estar sempre ligado ao desporto, se calhar não estando ligado ao futebol como treinador de  guarda-redes ou o que quer que seja, se calhar professor de educação física. Estar sempre ligado ali a pessoas no meio do desporto.

Para ti qual a importância de um jogador ter uma licenciatura ou até um grau académico mais elevado?
A meu ver é sempre importante, como disse, ter um plano B, porque independentemente da nossa ambição na carreira futebolística, temos de ter a consciência de que pode haver vários obstáculos e vários aspetos menos positivos na nossa carreira que nos levem a não conseguir alcançar um bom patamar no futebol, um patamar profissional ou mesmo um patamar bastante bom no futebol. Então, é preciso ter sempre um plano B. É um conselho que eu dou, porque acho que é importante para o nosso futuro, sabendo também que a carreira de futebolista é curta.

Achas que a aposta nos Gestores de Carreira Dual em Portugal era benéfica para os jogadores?
Sim, eu até desconhecia esse papel, mas acho que é muito importante, principalmente, para os clubes. Era importante os clubes terem já uma pessoa que consiga transmitir essa informação aos jogadores e que os ajude, acho que era muito importante. Desconhecia, como disse, mas se realmente fosse possível, aconselho a haver.