"O nosso maior investimento é no conhecimento"


Fábio Pacheco, jogador do AVS, tem uma pós-graduação e o nível 2 do curso de treinador.

Visto como um exemplo para os mais jovens, não só dentro como fora de campo, Fábio Pacheco investiu na sua qualificação, com uma pós-graduação em organização e gestão desportiva e o segundo nível do curso de treinador.

O médio do AVS faz uso da sua experiência para deixar conselhos aos mais jovens e já acautelou o pós-carreira.

Sempre quiseste ser jogador de futebol ou havia outra profissão que gostavas de ter seguido?
Não. Desde pequeno que o meu sonho era ser jogador de futebol. Lembro-me sempre de ter uma bola nos pés, de jogar na rua e esse foi sempre o meu sonho. À medida que os anos foram passando, deixou de ser um sonho, tornou-se uma realidade e comecei a trabalhar nesse sentido. Abdiquei de algumas coisas e acho que esse foi o passo correto porque ainda hoje continuo a viver o sonho e essa paixão continua presente.

O que te levou a participar no curso de gestor de carreira dual promovido pelo Sindicato?
Achei uma iniciativa interessante e visto que tinha acabado o 12.º ano e não tinha continuado a estudar, achei que era o momento certo para ver se me identificava com alguma coisa dentro ou fora do futebol. Foi um curso que me abriu a mente para tirar novas formações. Acabei o segundo nível de treinador, fiz o curso de organização e gestão desportiva com a Católica, juntamente com a Liga, e participei na formação em team manager do Sindicato. O nosso maior investimento é no conhecimento e isso traz-me mais segurança para o futuro, apesar de sentir que ainda posso dar muito ao futebol por me sentir bem fisicamente.

A função de gestor de carreira dual é algo que te vês a fazer quando terminares a carreira de jogador?
Hoje ainda não se vê muito essa função nos clubes. Quando estava a tirar o curso queria praticar e incentivei alguns colegas meus a acabar o 12.º ano, comecei a ver a formação como um objetivo e não só olhar para o lado do futebol, mas também para o lado académico. Essa formação ajudou-me a poder olhar para os mais jovens. Porque quando se é jovem deixamos andar, vivemos só o sonho de querer ser jogador de futebol e chegar o mais longe possível. Senti quase uma obrigação de exercer essa formação para os mais jovens e aconselhar alguns atletas.

Além desta formação, tens algum curso superior?
Não. Acabei o 12.º e comecei logo a ser profissional de futebol. Depois a formação de gestor de carreira dual abriu a minha mente para novos cursos que tenho frequentado e tenho gostado muito.

Que conselhos deixas aos jovens jogadores que abandonam cedo os estudos?
O maior conselho é não deixarem por completo. Se tiverem outra paixão, tentem. Mesmo que seja difícil, vão fazendo, mesmo que deixem algumas disciplinas para trás. Se não tiverem outra paixão, tentem tirar formações que lhes abram caminhos para o futuro e nunca deixem de estudar porque depois perdemos alguns hábitos e é difícil voltar aos estudos, ao fim de muitos anos. Eu senti essa dificuldade.

“PODEMOS GANHAR UM POUCO MAIS DO QUE O NORMAL, MAS CONVÉM SABER GERIR E TER UMA BOA LITERACIA FINANCEIRA PARA PODER CHEGAR AOS 30 E MUITOS E TER ALGUM DINHEIRO DE PARTE.”

Achas que hoje há uma maior consciencialização dos jogadores para a importância de terem um plano B?
Acho que há muito mais. O Sindicato está a fazer um bom trabalho nesse sentido, mas acho que também tem de partir dos jogadores, principalmente dos mais jovens, olharem para isso de uma forma mais séria do que antigamente. Quanto mais cedo olharem para isso melhor vão estar no futebol e na vida.

É possível conciliar o futebol profissional, de alta competição, com outra atividade em simultâneo?
É possível e essa formação abriu-me a mente nesse sentido. Por vezes não é fácil, há momentos em que não dá para seguir as duas coisas, mas esses momentos podem ser curtos e acho que se deve continuar, enquanto tivermos margem para conciliar as duas coisas.

Sentes que a maioria dos jogadores dá prioridade ao futebol ou à sua formação académica?
Ao futebol. Porque acaba por ser o sonho de criança e quando se entra no contexto profissional acho que se querem afirmar. Muitos acabam por deixar logo de parte esse lado académico, porque querem concentrar-se no futebol. Acaba por ser um erro porque acho que dá para conciliar, pelo menos irem tirando algumas formações. Mas como o futebol é o sonho, todos seguem o futebol.

Nunca jogaste no estrangeiro. Foi porque nunca se proporcionou ou uma opção pessoal não experimentar contextos diferentes?
Nunca se proporcionou muito. Quando houve uma ou duas propostas, já tinha assinado em Portugal e as propostas que eram tinham de ser a custo zero e tornou-se difícil. Mas é uma mágoa que me vai deixar, porque teria sido uma experiência que me ia marcar para o futuro. Tantos anos de profissional sem ir lá fora, no futuro vai ser algo que ficará a faltar.

Que objetivos tens por cumprir até ao final da carreira?
Os meus objetivos são mais coletivos. Tentar ajudar o máximo possível os mais jovens e, como é óbvio, jogar os jogos todos. Apesar de já ter 35 anos, o meu objetivo é estar bem física e mentalmente. Esse é o meu principal objetivo para poder ajudar o clube e também ter a preocupação com os mais jovens. Poder orientá-los nesse sentido, para não cometerem alguns erros que eu cometi e uma das coisas que achei importante no curso de gestor de carreira dual é que podemos ganhar um pouco mais do que o normal, mas convém saber gerir e ter uma boa literacia financeira para poder chegar aos 30 e muitos e ter algum dinheiro de parte, para poder começar outro sonho e outra paixão.

Quando terminares a carreira de jogador queres continuar ligado ao futebol ou trabalhar numa área completamente diferente?
O meu principal objetivo é continuar no futebol e tenho paixão por isso. Estou neste mundo desde pequeno e vejo-me mais no mundo do futebol do que fora dele, mas tendo a minha mulher um curso de fisioterapia e um gabinete, estamos a tentar abrir um espaço maior e ter o próprio negócio.