“O clube sempre me apoiou nos estudos”
João Valido, guarda-redes de 24 anos do Arouca, está a licenciar-se em gestão do desporto.
Tudo começou em Setúbal, mas aos 22 anos, João Valido saiu da sua zona de conforto para jogar no FC Arouca.
A licenciar-se em gestão do desporto, o jovem guarda-redes alerta para a necessidade de salvaguardar qualquer imprevisto no futebol.
Há dois anos saíste da tua zona de conforto, em Setúbal, e vieste para Arouca. Esta mudança foi fácil?
Não foi, porque foi a primeira vez que saí de casa. Tinha estado um ano fora do Vitória, mas vivia na mesma em Setúbal, em casa dos meus pais, por isso a mudança não foi tão grande como nesse ano. Foi a primeira vez a viver longe de casa e sozinho. Custou um pouco ao início, mas agora já me habituei e foi uma decisão acertada.
Foi mais fácil saíres da tua zona familiar ou adaptares-te ao clube?
Foi mais fácil adaptar-me ao Arouca. Sou muito ligado à minha família, por isso custou um bocadinho. No Arouca encontrei um balneário muito acolhedor, todos os meus colegas e a estrutura integraram-me bem, por isso a adaptação ao clube foi fácil.
Sabemos que terminaste o secundário e continuaste o teu percurso até à faculdade. O plano sempre foi tirar um curso superior?
Foi. Vivia em casa dos meus pais e ligando muito ao que eles sempre me disseram, esse passo era importante, não tendo a pressa de acabar o curso no imediato, mas sim de entrar. Estou a fazer com calma, dando prioridade ao futebol, mas sem descurar a faculdade.
E é fácil conciliar os estudos com o futebol?
Estou numa situação mais difícil do que quando estava no Vitória, porque tinha a faculdade a 30 minutos e agora estou a três horas de distância, por isso não consigo assistir às aulas presencialmente. Os exames são a meio da semana e, ainda para mais, estou num curso [gestão do desporto] que só há em Lisboa. Há numa faculdade privada no Porto, mas em termos de ensino público só há na FMH (Faculdade de Motricidade Humana), por isso na minha situação torna-se um bocadinho mais difícil, mas é fazível.
“A NOSSA CARREIRA É MUITO IMPREVISÍVEL E CURTA. É SEMPRE IMPORTANTE TER UMA SALVAGUARDA, CASO UMA LESÃO GRAVE NOS IMPEÇA DE PROSSEGUIR A CARREIRA.”
Achas que hoje já há mais apoio e abertura dos clubes aos jogadores que decidem continuar a apostar na sua formação extrafutebol?
Sinceramente, nunca senti que isso fosse um entrave, tanto no Arouca como no Vitória. No Arouca, tenho a dificuldade logística, mas da parte do clube, desde o início do ano, para pedir estatutos especiais, sempre estiveram muito abertos para me ajudar e no início cheguei a ter de faltar a uns treinos para fazer um exame, porque era o último da disciplina, e houve abertura do clube para ir e depois treinava à parte, mas nunca senti nenhum entrave do clube.
Há cada vez mais jogadores a seguirem para o ensino superior. Sentes que cada vez mais os jogadores sentem a necessidade de ter um plano B?
Sinto que sentem essa necessidade, porque a nossa carreira é muito imprevisível e curta. Aos 30 anos, já acham que somos velhos e é sempre importante ter essa salvaguarda, caso uma lesão grave nos impeça de prosseguir a carreira. No final temos ali algo que podemos agarrar para fazer em mais de metade da nossa vida. De geração em geração, esse querer fazer algo mais tem vindo a aumentar.
Qual achas que é a razão para os jogadores ainda deixarem os estudos para trás, até mesmo o ensino secundário?
Acho que é uma escolha pessoal não querer continuar a estudar. Há pessoas que têm sucesso na vida sem um curso superior. Em relação ao secundário, acho que os clubes deviam obrigar os jogadores a acabar, mas não é fácil impor isso. Quando se é menor de idade, tem de haver um tutor que ponha isso como obrigação para o atleta.
Em relação à escolha do teu curso, existe uma vontade de ficar sempre ligado ao desporto ou até ao futebol?
Sim, sem dúvida. Desde pequeno que não me vejo a fazer nada fora do desporto. Até aos 17 anos também fazia pentatlo moderno, além do futebol, por isso só me imagino ligado ao desporto.
“É POSSÍVEL CONCILIAR DUAS ATIVIDADES DISTINTAS. A ESCOLA É IMPORTANTE PARA O ATLETA EVOLUIR COMO JOGADOR E COMO PESSOA.”
Se não tivesses tido a oportunidade de ser jogador, o que te vias a fazer?
Não sei. Já me fizeram essa pergunta, penso e não consigo responder. Podia não ser praticante, mas tinha de estar inserido no desporto, na parte administrativa ou de gestão.
Para ti qual a importância de um jogador ter uma licenciatura ou até um grau académico mais elevado?
Se alguma coisa não correr bem ou quando se acaba a carreira, ter alguma coisa que já foi feita anteriormente pode ser um bom ponto de partida para uma nova fase da vida e, por outro lado, mostrar aos outros que é possível conciliar duas atividades distintas. É um exemplo para nós e para os outros jogadores. A escola é importante para o atleta evoluir como jogador e como pessoa. No futebol há menos espaço em campo, o jogo é mais inteligente e temos de perceber a tática do treinador.