"Nunca desisti do Farense, mesmo nos momentos mais difíceis do clube"
Fabrício Isidoro foi com o emblema de Faro desde o Campeonato de Portugal até à Primeira Liga.
Chegou a Portugal em 2016 para jogar no Louletano, mas é no Farense que está desde 2017. Fabrício Isidoro já se sente um adepto do clube de Faro, tendo cumprido recentemente 200 jogos pelos algarvios.
O médio brasileiro de 32 anos não quer ficar por aqui e tem o sonho de colocar novamente o Farense nas competições europeias, a médio prazo.
Vamos começar pelo início do teu percurso em Portugal. Como é que surgiu a oportunidade de te mudares do Formiga para o Louletano, em 2016?
Fiz a minha formação no Cruzeiro, fui emprestado a alguns clubes do meu estado [Minas Gerais] e de São Paulo, quando passei de júnior para sénior, e assim que terminou o contrato surgiu a oportunidade de vir para Portugal, numa realidade diferente e longe da família. Mas decidi encarar esse desafio e vir para o Louletano.
Quando vieste para Portugal tinhas 24 anos. Na altura sabias a dimensão do clube que vinhas representar e para que patamar competitivo vinhas jogar?
Sinceramente, não conhecia muito bem o Louletano, por ser um clube de um escalão inferior. O meu empresário falou-me da cidade, do Gilson Pagani, que era o diretor do clube, deu-me as indicações sobre o projeto e foi uma oportunidade para mudar de país e conhecer outra cultura.
Só estiveste uma época no Louletano, porque no ano seguinte foste para o Farense. Tinhas noção da rivalidade existente entre os dois clubes?
No início passou ao lado, mas depois tive dois jogos contra o Farense, no Estádio do Algarve e no São Luís, as semanas foram totalmente diferentes e isso foi passado para mim. Sempre gostei desse tipo de jogos, ouvia o que eles diziam da cidade de Faro e isso foi muito bom para mim, sentir a adrenalina desses jogos. Éramos uma equipa muito jovem e um ano diferente para mim. Tinha 24 anos e foi bom para a minha evolução.
Quando chegaste ao Farense, então no Campeonato de Portugal, imaginavas ficar no clube até ao regresso à Primeira Liga?
Não imaginava. Pensava muito no que ia acontecer no presente e evito pensar a longo prazo. Queria fazer o meu melhor, o projeto do Farense era muito ambicioso e revi-me nele. O objetivo era chegar a patamares maiores e recuperar a história do clube, muito grande em Portugal. As peças foram-se juntando, tinha a esperança de jogar nos seniores do Cruzeiro, mas infelizmente não deu certo e entendi que o Farense me queria muito desde o primeiro ano, e por isso fiquei aqui até hoje.
Logo na tua primeira época no Farense, a equipa subiu de divisão e regressou às ligas profissionais. Em 2020, nova subida, desta vez por via administrativa por causa da Covid-19, e agora para a Primeira Liga. Aqui o sentimento foi diferente?
Todas as subidas são boas, independentemente de como acontecem. Foram três. Na primeira subida voltámos às ligas profissionais e foi um ano maravilhoso, a segunda foi no ano do Covid, o campeonato acabou antes de terminar as jornadas e foi uma subida diferente porque voltámos à Primeira Liga 18 anos depois, mas não tivemos a presença dos nossos adeptos. A terceira foi especial porque tivemos o apoio dos adeptos e foi o momento maior, porque jogar diante do nosso público é muito bom.
“APRENDI A GOSTAR E A AMAR O FARENSE E ACABEI POR ME TORNAR, TAMBÉM, UM ADEPTO.”
Como é que lidaste com aquele período de indefinição, em que não havia treinos nem jogos, por causa da Covid-19?
Foram momentos difíceis, não só para mim como para todo o mundo. Tivemos de ficar em casa, com a minha esposa e o meu filho. Treinávamos juntos e isso ajudava a passar o tempo, mas foi um momento difícil para todos, porque não sabíamos se íamos subir, se a competição voltava e houve alguma ansiedade. O campeonato acabou, subimos e felizmente voltámos ao normal.
Apesar das dificuldades ao longo dos anos, nunca desististe do Farense. O que te levou a nunca desistir deste clube?
Acho que foi a forma como fui recebido aqui. Os adeptos tratam-me com muito carinho, o projeto do presidente João Rodrigues é muito ambicioso e sempre gostei de ter essa identidade com o clube. Aprendi a gostar e a amar o Farense e acabei por me tornar, também, um adepto. Nunca desisti, mesmo nos momentos mais difíceis do clube quis estar aqui e isso fez-me ficar cá e alcançar o mais alto possível.
Na sequência da última pergunta, o que te levou a nunca deixar o Algarve e estar aqui há já oito anos?
O Algarve é quase o Brasil. O clima é muito bom, as pessoas são muito agradáveis, os meus filhos nasceram aqui e a minha família gosta muito de estar cá e por isso é que estou aqui há muito tempo.
Esta é a tua segunda passagem pela Primeira Liga, depois da época 2020/21. Acreditas que desta vez o desfecho será diferente e a permanência será alcançada?
Sim, aprendemos muito com esse ano, não só eu, como o clube e a Direção. O Farense já não estava há muitos anos na Primeira Liga e tinha perdido um pouco essa experiência. Esse ano foi uma aprendizagem, mas conseguimos voltar rapidamente e este ano estamos a jogar melhor na Primeira Liga. Ainda não conseguimos o objetivo, mas vamos lutar para que isso aconteça e tenho confiança que o vamos alcançar.
Qual é o segredo para estar tantos anos seguidos no mesmo clube e ser uma referência?
Gosto de estar no mesmo clube porque gosto de criar laços com a cidade, isso é muito importante.
“GOSTO DE PASSAR AQUILO QUE SINTO PARA OS OUTROS JOGADORES E SER UM EXEMPLO, DE NÃO DESISTIR E LUTAR SEMPRE.”
Quando é que começaste a usar a braçadeira de capitão do Farense? Sentes uma responsabilidade acrescida por isso?
A braçadeira de capitão é natural, com o passar dos anos. A primeira vez foi no meu segundo ano no Farense. Entrei para o grupo de capitães e desde então continuei. No ano da subida foi quando mais usei a braçadeira de capitão e isso foi uma grande responsabilidade para mim. Gosto de passar aquilo que sinto para os outros jogadores e ser um exemplo, de não desistir e lutar sempre.
Recentemente cumpriste 200 jogos pelo Farense. Esperas continuar a jogar aqui até ao final da tua carreira?
Quem sabe fazer mais 200. Penso no presente, nesta época. Não sei como vai ser a próxima época, procuro alcançar os objetivos que é o mais importante, que é a manutenção na Primeira Liga. O clube andou muitos anos sem estar no primeiro escalão e o mais importante é pensar ano a ano. Não penso a longo prazo, quero a manutenção e ficarei feliz se alcançar mais 200 jogos porque aprendi a amar o clube.
O teu pai também foi jogador e esteve no Mundial de 1982. Ele continua a acompanhar o teu percurso no futebol e a ver os teus jogos?
Sim, ele acompanha muito. Não gosta de assistir aos jogos porque fica ansioso e nervoso, mas depois sabe os resultados. Ele dá-me sempre conselhos, vê os resumos, diz-me o que tenho de fazer, não mudando a minha parte tática, mas ele sabe o que se passa no futebol, mais do que ninguém, e é importante ouvir os conselhos dele.
Já pensaste no que vais fazer quando deixares de jogar? Tens isso preparado?
A carreira de jogador é curta, tenho 32 anos e sou novo para a vida. Em relação ao futebol quero jogar muitos anos, mas já se começa a aproximar o fim da carreira. É bom pensar no pós-carreira, preparar financeiramente, continuar os estudos antes dos 30 anos. Temos de nos preparar para o nosso futuro, porque a vida não acaba quando termina a carreira de jogador de futebol. Já tenho o nível 1 do curso de treinador, penso em continuar no futebol, porque é uma paixão e vou-me preparando para o futuro.
Já conseguiste ajudar o Farense a voltar às ligas profissionais e à Primeira Liga. Há mais alguma missão que te falta cumprir neste clube?
Sim, este ano é a manutenção, mas no futuro temos o sonho que o clube chegue às competições europeias. Não digo que é no próximo ano, mas são pensamentos a médio/longo prazo, porque o clube tem crescido e se estruturado muito bem e acho que o Farense daqui a uns anos vai ser um clube ainda maior.