"Se não prepararmos o futuro, vamos ter dificuldades"
Vítor Gomes, do Rio Ave, é licenciado e tem uma pós-graduação em organização e gestão no futebol profissional.
Foi em Vila do Conde onde tudo começou e no Rio Ave que Vítor Gomes se deu a conhecer ao mundo do futebol.
Aos 36 anos, o médio português já tem o futuro preparado, com uma licenciatura em desporto e uma pós-graduação em organização e gestão no futebol profissional.
Sempre quiseste ser jogador de futebol ou havia outra profissão que gostavas de ter seguido?
Não. Sempre quis ser jogador, até porque tinha exemplos na minha família. O meu irmão, Zé Gomes, foi jogador, e o meu primo Jorge também. Foram jogadores profissionais e eu desde pequenino que criei esse bichinho. Sempre tive o sonho de pisar um relvado.
O que te levou a fazer a pós-graduação da Liga, em organização e gestão no futebol profissional?
A vontade de me instruir e preparar o meu futuro, visto que estou a caminhar para o final da minha carreira. Como tenho o objetivo de continuar ligado ao futebol, nada melhor do que me instruir para depois continuar a minha carreira no futebol, porque quero ser diretor desportivo e sinto que com esta pós-graduação, que já concluí com sucesso, vou estar mais bem preparado para conseguir fazer e cumprir as minhas funções de diretor desportivo.
Além desta pós-graduação, és licenciado em desporto. Quando é que conseguiste terminar a licenciatura?
Concluí a licenciatura em 2021. Porque fui para fora, congelei a matrícula e quando cheguei tinha disciplinas do terceiro ano para fazer. Comecei a licenciatura quando estava no Belenenses, em 2016, depois vim para o norte e pedi transferência, continuei, fui para fora e quando regressei acabei a licenciatura, que foi uma parte importante no meu percurso.
Em que momento é que decidiste começar a licenciatura e o que te levou a fazê-lo?
Se não fosse jogador profissional, gostava de ser professor de educação física. Sempre tive essa vontade e a licenciatura foi um bocadinho por aí, para ter mais uma ferramenta que me permitisse ter a possibilidade de me poder ligar a outra área do desporto.
“A MINHA MAIOR DIFICULDADE FOI CONCILIAR O PAPEL DE MARIDO, PAI, JOGADOR DE FUTEBOL E ESTUDANTE, MAS QUANDO SE QUER MUITO CONSEGUE-SE FAZER.”
Foi difícil conciliar os horários da faculdade com os treinos e os jogos?
Mentiria se dissesse que foi fácil. Não foi fácil porque já era pai, sou casado e como é óbvio tenho de dividir a atenção com a família e os estudos, já para não falar do futebol. Muitas vezes venho cansado do treino e a vontade de estudar não é muita. No entanto, acho que com força de vontade e se soubermos o que realmente queremos, conseguimos fazer com alguma facilidade. A minha maior dificuldade foi conciliar o papel de marido, pai, jogador de futebol e estudante, mas quando se quer muito consegue-se fazer.
Que conselhos deixas aos jovens jogadores que abandonam cedo os estudos?
Digo para não deixarem os estudos porque até aos 30 anos, o jogador de futebol vive iludido. O sonho deles é estar a jogar e costumo dizer que a profissão de jogador é a melhor do mundo porque fazemos o que gostamos, ganhamos um bom dinheiro, mas pode-se dizer que vivemos acima de um trabalhador normal e o jogador acha que vai ser sempre assim e não vai. Quando se chega a partir de uma certa idade, começamos a ter outras perspetivas do que poderá ser o futuro e se não nos prepararmos para tal vamos ter dificuldades. Quando deixamos o futebol, a nossa rotina acaba e temos de ter outras ferramentas para fazer alguma coisa depois do futebol. O Sindicato tem imensas opções e cursos para que o jogador se prepare e hoje só não se prepara se não quiser, porque não é por falta de oportunidades.
Achas que hoje há uma maior consciencialização dos jogadores para a importância de terem um plano B?
Acho que hoje os mais jovens já têm mais consciência, muito por força do trabalho do Sindicato, porque fazem publicidade a esse conjunto de cursos, tal como a Federação. Têm feito um trabalho excecional nessa área. Ou seja, não é por falta de oportunidade ou desconhecimento porque publicitam uma série de cursos e só não os faz quem não quer.
O que te motiva a ser diretor desportivo quando terminares a carreira de jogador?
Gostaria de ser diretor desportivo porque posso aportar a esse cargo uma vasta experiência de quase 20 anos no futebol, muito conhecimento fruto das vivências, dos treinadores e colegas que tive e sinto que posso ser uma ligação entre equipa técnica, Direção e na constituição de um plantel. Acho que posso ser uma mais-valia nesse campo. Naturalmente que serei diretor desportivo se as pessoas responsáveis virem capacidade em mim para tal. Se não virem, terei certamente de procurar um lugar em que possa ser útil dentro do futebol, mas é isso que me vejo a fazer.
“POR MUITOS ANOS QUE TENHAMOS DE FUTEBOL NÃO APRENDEMOS TUDO, DAÍ A IMPORTÂNCIA DA VERTENTE MAIS ACADÉMICA SER UM COMPLEMENTO AO QUE FAZEMOS DURANTE 20 ANOS DE CARREIRA.”
Já tens três títulos na carreira e jogaste em quatro países diferentes do nosso. Qual é que foi o momento mais positivo e negativo do teu percurso, até agora?
O mais positivo, com o meu clube, o Rio Ave, foi ser campeão da Segunda Liga em 2022 e subir de divisão. Curiosamente, o pior no ano também foi no Rio Ave, quando me estreei na Primeira Liga e descemos de divisão em 2006. Depois tive outros bons momentos como ganhar o segundo título mais importante a nível nacional, a Taça de Portugal, em 2018 pelo Aves, e o facto de ter sido campeão no Chipre. É uma sensação única lutar para ser campeão e muito melhor do que aquela de lutar para não descer de divisão.
Que objetivos tens por cumprir?
Esta época, estou focado no nosso principal objetivo para este ano, que é garantir a manutenção o mais rapidamente possível.
Partilhaste o balneário com nomes como Fábio Coentrão, Oblak e Artur Moraes, entre outros. Consegues dizer qual foi o melhor jogador com quem jogaste ou é uma escolha muito difícil?
Aquele que conseguiu atingir uma dimensão de outro nível foi o Fábio Coentrão. Chegar ao Real Madrid e conquistar o que conquistou, foi o jogador que mais conseguiu chegar a um patamar elevado no futebol. Tive a sorte de poder jogar com o Oblak, Ederson, João Palhinha, jogadores ao mais alto nível, e foi um prazer enorme jogar com eles.
Ter sido jogador de futebol é suficiente para ter sucesso no pós-carreira?
Uma coisa é a experiência enquanto jogador e a outra é a parte académica. O curso de gestão e organização, que concluí, dá-nos outra bagagem fora do campo, por exemplo, na vertente da organização de um jogo de futebol, nas questões de marketing de um clube, no enquadramento jurídico, as leis que são necessárias para que um jogo ocorra e na vertente financeira, analisar resultados, fluxos de caixa, uma vertente mais administrativa, que é importante e por muitos anos que tenhamos de futebol não aprendemos tudo, daí a importância da vertente mais académica ser um complemento ao que fazemos durante 20 anos de carreira.