Corte à Vila é em Amarante

Defesa central Diogo Vila é capitão do Amarante e tem uma barbearia com o seu nome.
Quando regressou a Portugal, em 2021, para voltar a representar o Amarante, Diogo Vila decidiu dar um passo em frente e abrir uma barbearia com o seu nome na cidade que o viu nascer.
No dia em que celebra o 35.º aniversário, damos a conhecer o negócio do capitão do Amarante.
Desde quando é que tens esta barbearia?
Desde 2021. Foi quando vim do Luxemburgo. Já vinha com o intuito de abrir a barbearia e jogar no Amarante.
Foi quando saíste do Luxemburgo que começaste a pensar em abrir este negócio?
Sim. Já cortava cabelos há alguns anos, mas abrir a minha própria barbearia foi em 2021, quando regressei a Portugal.
Quem é que te incutiu o gosto pelos cortes de cabelo?
Já vem de longa data. Já corto há 14 anos, desde 2011. Foi um amigo meu de Guimarães, com quem estava todos os dias. Ia todos os dias a casa dele quando estava em Chipre. A mãe dele era cabeleireira, ele cortava-nos o cabelo a todos, achei piada e também quis cortar. Só fazia asneira na cabeça deles, mas comecei a olhar para aquilo como algo que gostava e foi aí que ganhei o gosto.
Trabalhas sozinho nesta barbearia ou tens algum sócio ou colaborador a trabalhar contigo?
Sempre trabalhei sozinho aqui, mas nos últimos meses, o Armando, que foi meu colega no Amarante e saiu agora do clube, veio para perto de mim, começou a ver-me cortar, também achou piada e pediu-me para lhe dar uma ajuda. Com todo o gosto, comecei a ajudar e ele até acabou por tirar um curso. Não está a trabalhar comigo, mas está a aprender e fico contente por tê-lo perto de mim.
Como era o vosso dia a dia, entre o treino e a barbearia, e como é que vocês se organizavam?
O nosso treino é de manhã. Às vezes até faço uns cortes de cabelo entre as 7h e as 8h, a pessoas que vão trabalhar, mas ultimamente não tenho feito isso porque tenho a minha filha para preparar e ir para a escola, por isso, logo após o treino, que é por volta das 12h30, começo na barbearia pelas 13h30, 14h e fico a tarde toda até à noite.
O facto de seres capitão de equipa e assumires a liderança num grupo de trabalho ajudou a que também liderasses este projeto da barbearia?
Faço as duas coisas que mais gosto, o que por si só já é uma vantagem para mim porque jogar futebol é o meu sonho desde criança e poder usufruir, ainda para mais no meu clube, deixa-me felizardo. Cortar cabelos e ter o meu salão é um acrescentar e uma cereja no topo do bolo porque faço as duas coisas que gosto e que me fazem sentir bem. Esse é o ponto principal para estar feliz todos os dias.
“Vou querer ficar ligado ao futebol, seja em que contexto for, porque o futebol é parte da minha vida desde criança e quero que continue a ser.”
Teres este negócio ajuda-te a lidar melhor com o final de carreira como jogador?
Em relação a rendimentos, sim. Graças a Deus, o meu salão tem tido muito sucesso e quero crescer e abrir o meu próprio salão, porque este espaço é alugado. Quero ter o meu próprio espaço e poder fazer algo que gosto mesmo, à minha imagem, embora este seja um espaço acolhedor e do qual me orgulho. Em relação ao aproximar do final de carreira, não sei se vou lidar muito bem, porque adoro jogar. O futebol é o meu maior escape e não sei até que ponto posso lidar bem, apesar de já ter uma fonte de rendimento extra. Vivo dia a dia, usufruo o máximo, dou o meu melhor na representação do meu clube e do que mais gosto de fazer e quando chegar o dia vou estar seguro com o meu trabalho, mas vou querer ficar ligado ao futebol, seja em que contexto for, porque o futebol é parte da minha vida desde criança e quero que continue a ser.
Os clientes da barbearia reconhecem-te por seres o capitão do Amarante?
Sim, sem dúvida. Não basta jogar no Amarante para os clientes virem ao meu salão, mas sinceramente ajuda muito. O facto de termos jogado em Alvalade com o Sporting, para a Taça de Portugal, fez com que nas semanas seguintes toda a gente quisesse cortar o cabelo comigo e pedi mais ajuda ao Armando. As pessoas quiseram aderir ainda mais e o futebol ajuda-me a ter mais clientes.
Esta é a tua terceira passagem pelo Amarante, mas acredito que esta esteja a ser a mais bem-sucedida, pela subida à Liga 3, título de campeão do Campeonato de Portugal e agora com o acesso à fase de subida à Segunda Liga. É aqui que queres terminar a tua carreira como jogador?
Como disse há pouco, ainda não pensei nisso. Se terminar no Amarante, vou ficar muito feliz porque estou no clube que mais gosto e que me deu e continua a dar muitas alegrias. A primeira passagem também foi de muita felicidade porque também conseguimos ir à fase de subida à Segunda Liga, não conseguimos subir, mas foi uma passagem muito positiva. A segunda foi mais normal, ficámos em sétimo lugar, e desde que vim do Luxemburgo tem sido só sucessos e muitas alegrias. Fomos campeões nacionais, esta época está a ser fantástica, conseguimos o apuramento numa liga muito competitiva e se terminar aqui daqui a uns anos, excelente. Seja quando for, excelente na mesma, porque vou dar sempre o meu melhor, viver o dia a dia nos limites e não pensar no fim.
No início da tua carreira passaste por algumas situações complicadas na Naval e na época seguinte representaste três clubes e fizeste apenas cinco jogos, um pelo Felgueiras e quatro pelo Freamunde. Foram essas dificuldades que te levaram a pensar em investir a sério numa atividade paralela ao futebol, neste caso a barbearia?
Aos mais jovens tento passar a mensagem que têm de dar sempre o melhor no maior sonho deles, para lutarem por objetivos maiores. Foi isso que fiz no início da minha carreira. Lutei com todas as forças para chegar o mais longe possível e sempre tive os meus pais a aconselharem-me a pensar no pós-futebol ou numa atividade paralela, porque a qualquer momento pode aparecer uma lesão. Quando tive a oportunidade de ganhar este gosto, foi das melhores coisas que me aconteceu, porque também é um escape para mim e estou a fazer o que gosto. Se puderem ter uma atividade, seja qual for, façam-no, porque é benéfico para nós.
Os teus colegas de equipa no Amarante são clientes deste espaço? Fazes-lhes a vontade ou pregas-lhes algumas partidas nos cortes de cabelo?
Sim, são clientes. Sempre que temos jogo muitos deles querem vir cá preparar-se para estarem em condições para o jogo, em termos de cabelo. Só não vêm os que moram mais longe e não se conseguem deslocar.
“Às vezes fico um pouco assustado ao olhar para alguns casos e não ver o pós-carreira, o alicerce de outra atividade, seja ela qual for.”
Se o Amarante subir à Segunda Liga no final da época, és capaz de rapar o cabelo à malta toda do clube?
Sim, sem dúvida. Assino já.
És um exemplo por estares a preparar o pós-carreira ainda no ativo. Os teus colegas de equipa também têm essa preocupação?
É uma pergunta difícil de responder. Tento passar a mensagem que têm de ter essa preocupação. Por um lado, é muito positivo que se dediquem ao futebol, porque vejo neles o sonho bem vivo de chegar a patamares elevados e que lhes deem alguma estabilidade na vida, mas às vezes fico um pouco assustado ao olhar para alguns casos e não ver o pós-carreira, o alicerce de outra atividade, seja ela qual for. Eles têm o sonho gigante, seja em que idade for, mas nalguns casos assusta ainda não pensarem mais além.
Sentes que hoje os jogadores têm a noção de que vão ter de se dedicar a outra atividade quando chegar ao fim a carreira de futebolista ou isso ainda tem de ser incutido nos jogadores?
Já estive em alguns clubes, como no caso do Leixões, na formação, em que tínhamos o acompanhamento de um psicólogo todas as semanas. Tínhamos a visita de um jogador profissional, na altura da equipa principal que estava na Primeira Liga. Todas as semanas ia um jogador falar connosco e essa experiência ficou bem vincada em mim. A única coisa que nos diziam, como o caso do Beto e do Bruno China, era para nos dedicarmos a algo extrafutebol que gostássemos porque o sonho que eles estavam a viver, em 100 só um iria conseguir. Não era desmoronar o nosso sonho, mas mostrar-nos a realidade porque infelizmente nem todos conseguem chegar a este nível. Por isso diziam que tínhamos de estudar. O psicólogo, o Nuno, dava-nos uma ajuda tremenda todas as semanas porque nunca fui muito forte psicologicamente. No início da carreira desmoronava muito rápido e estava sempre a culpar os outros, os treinadores, mas a culpa era minha. Se calhar apercebi-me disso um pouco tarde, já não fui muito a tempo. Orgulho-me do meu percurso, mas se calhar podia ter sido muito melhor se tivesse sido mais forte psicologicamente. Ainda assim, o Nuno colocou-me num nível muito bom porque sem a ajuda dele acho que tinha acabado a carreira aos 20 anos. Todos os clubes deviam ter um psicólogo e têm o Sindicato para poder usar os psicólogos. Quando vocês vão aos clubes referem isso, em que os jogadores às vezes até brincam e dizem que os colegas precisam e muitas das vezes o que está a dizer isso é aquele que mais precisa. E com a ajuda dos psicólogos isso é fundamental.
Realizaste todos os objetivos como jogador ou ainda falta algo?
Falta sempre. Acho que na vida temos sempre de querer mais e o meu objetivo é dar sempre o melhor para poder ajudar a minha equipa e se possível meter o clube na Primeira Liga, mas com os pés bem assentes na terra. O meu objetivo passa sempre por vencer o próximo jogo e assim estamos sempre mais perto de cumprir os nossos sonhos.
Que objetivos e sonhos tens para a tua vida?
O meu objetivo no clube é dar o meu melhor dia após dia, vencer sempre que possível juntamente com os meus companheiros. Em relação ao meu salão, é abrir o meu próprio espaço, à minha imagem, do qual tenha orgulho. E, se possível um dia, ter três ou quatro salões, por todo o país, com o meu nome.
Como é que defines o teu negócio?
É um espaço acolhedor, para as pessoas se sentirem bem. Acabamos por ser psicólogos de muitas pessoas e gosto disso. Às vezes não consigo criar uma barreira, porque quero ajudar os outros. Quero que as pessoas digam que passo uma energia muito positiva, com a minha forma de estar. Tento sempre ser eu próprio e que as pessoas se sintam bem comigo.