"A confiança que tive à minha volta foi dos fatores mais importantes"

Manuel Baldé foi eleito o melhor jovem de dezembro da Liga 2, depois de um início de época difícil.
Começou por ser ponta de lança, mas foi na baliza que se fixou e se deu a conhecer ao mundo do futebol.
Aos 22 anos, o guarda-redes Manuel Baldé, do Penafiel, e que foi eleito o Melhor Jovem de dezembro da Liga 2 pelo Sindicato dos Jogadores após um arranque de época que não foi fácil, ainda tem sonhos por cumprir e já prepara o pós-carreira.
És natural de Albufeira e começaste a jogar no clube da terra, no Imortal. Ser jogador de futebol sempre foi o teu objetivo?
Nem sempre foi o meu objetivo. Jogava mais por recreação e o futebol começou a ficar mais sério quando fui para o Seixal. Comecei a ver que o futebol tinha pernas para andar e, a partir daí, levei mais a sério.
Começaste logo na baliza ou noutra posição? O que te motivou a ser guarda-redes?
Comecei a jogar como ponta de lança no meu primeiro ano, no Imortal, no clube da terra onde nasci, em Albufeira. Depois, por obra do acaso, fui parar à baliza.
Houve alguém que te tenha inspirado a ser jogador? Algum familiar ou algum ídolo de infância?
Depois de ter ido para a baliza comecei a idolatrar muito o Helton, capitão do FC Porto na altura. Foi sempre uma inspiração para mim. Até há uns anos eu jogava de calças, em referência a ele. Em termos familiares, o meu irmão teve passagens pelo Imortal, fez a formação no Inter e é sempre uma inspiração, uma referência e um exemplo para o que devo e não devo fazer.
Teres feito grande parte da tua formação no Benfica foi bom para o teu desenvolvimento enquanto jogador?
Sim, não só como jogador, mas também como homem. Fiz a maior parte da minha adolescência lá. Cresci futebolisticamente e humanamente. O Benfica ajudou-me a desenvolver o meu jogo, mas principalmente como pessoa. Agradeço tudo o que me deu até hoje e posso dizer que não seria o que sou hoje sem o Benfica.
Estiveste cinco anos no Benfica e sais com 16 para o Desportivo das Aves. A que se deveu essa mudança?
Os meus últimos anos no Benfica foram complicados porque não estava a jogar. No meu último ano de juvenis fiz quatro jogos, não estava numa boa fase, tinha mais dois anos de contrato de formação e não fazia sentido continuar sabendo que ia entrar no escalão de juniores, com guarda-redes mais velhos a competir pela mesma posição. Achei por bem dar um passo atrás, para depois conquistar outras coisas. Só queria sair do Benfica. Fiquei meio perdido durante duas semanas e o meu representante conseguiu arranjar um contrato no Aves, onde fui fazer testes e acabei por ficar.
“A Liga Revelação é um bom trampolim para muitos de nós, até porque há muitos jogadores que passaram por lá e hoje estão nos grandes palcos da Europa.”
Dos juniores do Aves sais para o Vizela, onde te estreias como sénior para a Taça de Portugal. O que sentiste no teu primeiro jogo como profissional?
Foi um jogo tranquilo, não senti o nervosismo de ser o primeiro. Foi muito especial, vou lembrar-me para o resto da minha vida. Foi uma oportunidade que o treinador Álvaro Pacheco me deu na altura, em que só andava a treinar e não tinha competição nenhuma. Andava um pouco desanimado e foi uma recompensa pelo trabalho que estava a fazer, mesmo sabendo que não ia ter minutos. Agradeço ao mister Álvaro Pacheco por essa oportunidade.
No Vizela fizeste 33 jogos pelos sub-23. A Liga Revelação é um espaço importante para dar oportunidade e tempo de jogo a jogadores que estão a fazer a transição para o futebol sénior?
Acho que a Liga Revelação, ainda por cima no momento da nossa geração que passou pelo Covid, foi muito importante porque nesse ano não tivemos a competição de juniores e a Liga Revelação ajudou-nos naquela fase intermédia de não passar sem jogar pelos juniores logo para o campeonato profissional. A Liga Revelação é um bom trampolim para muitos de nós, até porque há muitos jogadores que passaram por lá e hoje estão nos grandes palcos da Europa. Acho que é uma competição muito importante para a nossa geração e gerações futuras. Muitos colegas meus deixaram de jogar por causa do Covid e eu também estive para deixar de jogar. Na altura em que saí do Aves, sentia que não valia a pena.
No Penafiel começaste por repartir a titularidade na época passada e esta temporada assumiste o lugar. Sendo a função de guarda-redes uma posição tão específica, como é que se lida com o facto de não ser opção?
É complicado. Temos de ter uma grande força anímica porque só pode jogar um guarda-redes. Temos de continuar a trabalhar porque se o outro está a jogar é porque está numa fase melhor que nós. Temos de aceitar e seguir em frente, mas não é fácil.
No início desta época viveste um momento difícil, na primeira jornada, mas deste a volta e inclusivamente foste eleito o melhor jovem do campeonato no mês de dezembro. Como é que se consegue dar a volta a um momento complicado como aquele que viveste?
A confiança que tive à volta de mim foi dos fatores mais importantes porque ter três erros num jogo, num curto espaço de tempo, e ter a confiança do treinador, dos colegas e saberem que aquilo não sou eu, que consigo fazer muito melhor e ter a oportunidade de na semana seguinte dar a volta por cima é muito bom e acho que a força que tive da minha equipa, do staff e da minha família, principalmente, foi muito importante nessa fase.
És também o guarda-redes titular da seleção da Guiné-Bissau. Tens algum sonho por cumprir pela seleção?
Sim. Muitos sonhos ainda. Ainda não fiz a minha estreia nas competições africanas, na CAN, e falhámos a qualificação. Ainda temos o apuramento para o Mundial por cumprir, mas o meu maior sonho é levar a seleção da Guiné-Bissau a um Mundial.
“Vou fazer exames nacionais este ano para poder entrar na universidade no próximo e tenho preparado o pós-futebol desde cedo.”
O que é que seria, para ti, uma época de sonho a nível individual e coletivo?
Ganhar o campeonato nacional do clube onde estiver, ganhar uma competição continental ou mundial pela Seleção e ser reconhecido individualmente.
Tens-te preparado para o pós-futebol? Já tens algum curso ou formação superior?
Neste momento enveredei mais pelo ramo do negócio. Comecei no ano passado, num bar em Guimarães, vou fazer exames nacionais este ano para poder entrar na universidade no próximo e tenho preparado o pós-futebol desde cedo. Recebo conselhos que nunca é cedo demais para começar porque se começar agora, daqui a dez anos já vou estar preparado e não ter aquela pressão. Acho que é sempre bom começar a preparar cedo.
Como te descreves enquanto jogador?
Considero-me um jogador frio, calculista e atrevido, acima de tudo.
Onde é que te imaginas daqui a dez anos?
Daqui a dez anos imagino-me a ter uma grande família e a jogar num grande clube. Atualmente estou a passar uma das melhores fases da minha carreira, mas todos os jogadores procuram melhores condições e gostaria de estar num grande clube que conseguisse satisfazer as minhas ambições.
Como é que queres ser recordado no futebol?
É uma pergunta prematura para responder porque estou a começar no mundo do futebol, mas quando acabar gostava de ser reconhecido como a pessoa que nunca teve medo de fazer nada e que teve a coragem de tomar decisões sem ser influenciado por terceiros.