“A profissionalização deve ser imediata”


DUARTE GOMES, da AF de Lisboa, apela à profissionalização da estrutura da arbitragem e diz que a mesma ainda só não foi feita por “falta de vontade política”.

Qual é o estado da arbitragem em Portugal?

Não diria que está bem e recomenda-se, mas não está tão mal como querem fazer crer. Vive agora um período menos auspicioso, por força da integração da arbitragem do futebol profissional na Federação Portuguesa de Futebol, situação que não pode ser considerada de todo anormal, face às vastas mudanças, de recursos humanos,  estruturais e logísticas que isso tem acarretado. Passámos de uma comissão de arbitragem composta apenas por três elementos para um conselho de arbitragem de 13, que tem agora um conjunto de responsabilidades muito mais abrangente e exigente. Isso implica, necessariamente e desde logo, algumas convulsões, naturais em quaisquer processos evolutivos desta natureza.

 

Faz um ano que a arbitragem passou da liga para a FPF. O balanço é positivo?

Ainda é cedo para balanços. Como referi, esta integração na FPF não foi um processo fácil, mas os árbitros continuam focados na sua missão, que é a de servir o futebol de forma justa e imparcial. É para isso que trabalham diariamente.

 

Na sua opinião quais são as medidas que devem ser implementadas para melhorar o setor?

Inevitavelmente, a sua profissionalização imediata. A verdade é que a estrutura dirigente do futebol e os clubes já diagnosticaram há muito essa necessidade, tal como todo o setor da arbitragem… mas por força de uma manifesta “falta de  vontade política” ou por permanentes restrições orçamentais (e profissionalizar os árbitros custa muitíssimo menos do que se esperaria), essa é uma realidade permanentemente adiada. Não podemos querer ser uma das melhores cinco ligas europeias enquanto os árbitros dessa competição continuam a ser amadores, que pedem férias às suas entidades patronais para fazer jogos às segundas, quartas e sextas-feiras, por exemplo.

 

Quais são os grandes desafios da arbitragem?

Apostar mais no recrutamento e formação de jovens árbitros, alimentar os árbitros atuais com formação contínua a vários níveis e, claro está, profissionalizar toda a estrutura da arbitragem.

 

E como avalia o estado do futebol português?

A qualidade do futebol português está à vista. Somos um país com cerca de dez milhões de habitantes que consegue produzir o melhor jogador, o melhor treinador e o melhor árbitro do mundo. A nossa seleção marca presença assídua nas fases finais das grandes competições e a maioria dos seus jogadores são estrelas nos melhores clubes do planeta. Diria que nos falta algum realismo. Mais razão e menos emoção. Podemo-nos comportar como adeptos quando torcemos pelos nossos clubes e vivemos o futebol como espetáculo, mas temos que ser ponderados, responsáveis e equilibrados quando desempenhamos a função de gerir empresas e instituições, muitas delas seculares. Não é possível comprar quando não há dinheiro, investir sem pagar dívidas ou sobreviver acima das possibilidades. Ninguém consegue fazê-lo, não por muito tempo. O futebol profissional deve repensar urgentemente a sua atual situação e encontrar soluções para tornar as competições mais rentáveis e atrativas.


Nome: Duarte Pereira Gomes

Idade: 40 anos

Associação: Lisboa

Profissão: bancário