"Vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade"


A jogadora de 26 anos do Ouriense é personal trainer (PT) e reinventou a sua atividade.

A jogadora de 26 anos do Ouriense é personal trainer (PT) e, depois de ver o ginásio em que trabalha fechar as portas, reinventou a sua atividade e dá aulas online, a partir de casa.

Anita Santos prossegue a sua formação na área do fitness, à distância, e vê as ruas desertas de Fátima, numa altura em que o turismo seria a tábua de salvação para grande parte da atividade económica na região. Vive com o namorado, que é distribuidor e continua a trabalhar todos os dias, estando naturalmente mais exposto ao contágio, o que aumenta a incerteza destes dias. Ainda assim, olha com otimismo para o futuro, mas considera que a “normalidade” que se perspetiva será diferente do que existia antes da pandemia.

Apesar deste período de recolhimento, manténs-te em atividade, como é que tem sido?
Sim, mantenho, dentro do possível. Eu trabalho num ginásio e, no início, achámos que isto iria ser uma coisa que passaria mais rapidamente e decidimos fechar. Começámos a perceber então que isto era algo que ia durar mais algum tempo e passámos a apostar no PT (personal trainer) online e dou algumas aulas online durante o dia. Quando não estou a dar aulas, estou a treinar, ou estou a estudar, ou a fazer as coisas normais da lida da casa.

A adesão tem sido boa?
Tem, não é igual, mas tem. Não mantenho todos os clientes que tinha no presencial no online, mas tenho outros que não tinha e que agora aderiram. Por isso, dentro do possível, temos conseguido manter de alguma forma a atividade.

Quanto tempo, mais ou menos, é que isso ocupa nos teus dias?
Tenho duas, três horitas de manhã, depois mais três ou quatro horas à tarde, depende dos dias, há dias em que tenho mais, outros em que tenho menos. Mas, em média, é mais ou menos isto.

Em termos de treino, como é que tens feito? Como é que tem sido a tua preparação, apesar da tua atividade ser, já por si, um meio para te manteres em forma?
Uns dias vou correr, outros dias faço mais treino cardiovascular, outros mais de força, vou variando. Faço à volta de quatro, cinco treinos semanais, não treino todos os dias, tento gerir da melhor forma a carga e o esforço.

Tens tido algum apoio por parte do Ouriense, têm passado algum tipo de indicações?
Não dão propriamente indicações. Há um documento que tínhamos de preencher. Agora, é facultativo, mas antes de encerrarem o campeonato, era obrigatório. Era para darmos informações sobre o treino que fazíamos semanalmente, a duração, tipo de treino, pesagens, esse tipo de coisas. Mas não é propriamente controlado, ou seja, não me diziam o que tinha de fazer.

Entretanto, terminou a competição e entraram de férias, foi isso?
Sim, neste momento, sim.

Dizias há pouco que uma das coisas que fazias para ocupar o tempo era estudar. Em que área e em que nível te encontras e como tem corrido nesta fase de recolhimento?
Estava a fazer uma formação que, entretanto, foi adiada, mas estamos a ter algumas aulas virtuais. É um curso ligado à minha área, ao fitness, num instituto em Lisboa, o REP.

Como é que tens visto a população na tua zona a reagir a este período de confinamento?
Eu vivo em Fátima, que é uma zona bastante mais movimentada do que Ourém, por exemplo, onde jogo. Esta fase, em condições normais, teria uma grande afluência devido ao turismo, Fátima devia estar cheia. Havia montes de estabelecimentos em Fátima que faturariam no mês de maio para o resto do ano. Este ano, isso não vai acontecer. Ao fim de semana, não se vê praticamente ninguém na rua, durante a semana há mais movimento, é normal, por causa dos trabalhos e afins. Mas está tudo parado, paradíssimo, como deve ser. É uma situação complicada, difícil, mas nada que não tenha solução e não se supere.

 

“HAVIA MONTES DE ESTABELECIMENTOS EM FÁTIMA QUE FATURARIAM NO MÊS DE MAIO PARA O RESTO DO ANO. ESTE ANO, ISSO NÃO VAI ACONTECER.”

 

Já se perspetiva que em maio as coisas possam voltar de forma gradual à “normalidade”, se assim se pode dizer, como é que olhas para o que aí vem? Como vês o futuro?
Eu acho que, mesmo depois de as coisas voltarem à normalidade possível, vai haver ainda uma fase de adaptação. Julgo que as pessoas ainda vão ter algum medo de sair e de estarem juntas. Digo isto na perspetiva do meu ramo de atividade, que é o que me preocupa um pouco mais. Podemos abrir o ginásio, mas daí a que os clientes voltem ao que eram antes, não acredito que seja logo, no imediato. Tivemos de apostar num novo serviço, que também está a correr bem, enquanto não pudermos estar a 100%, vamos continuar a apostar nesta nova realidade, à qual tivemos de nos adaptar.

Estás sozinha em casa ou com família?
Vivo com o meu namorado. Eu estou em casa, mas ele não, continua a trabalhar na distribuição.  Eu saio de casa o menos possível, mesmo a casa dos meus pais já não vou há imenso tempo, evito arriscar no contacto com eles, falamos por videochamada. Como digo, o meu namorado continua o seu trabalho normal, está mais exposto e eu não sei, nem ele sabe, se já foi contaminado ou não, portanto procuro não manter contacto com muitas pessoas. É o mínimo, o indispensável.