“Gostava de ter ganho mais pela Selecção”


Jogador do Benfica promete dar tudo pelo clube.

Como decidiu jogar futsal?
Comecei um pouco tarde, com 14 anos. Nessa altura não havia as condições que existem actualmente, não havia escolinhas para miúdos com quatro ou cinco anos. Nós íamos experimentando as modalidades. Fiz andebol e atletismo e, um dia, um amigo meu que já jogava futsal no Odivelas convidou-me para ir lá treinar.

Nunca ponderou tentar o futebol de 11?
Houve uma altura em que cheguei a tentar jogar futebol 11 no Sporting e no Odivelas, mas como era mais baixinho não tive grande sucesso. Por isso, virei-me para o futsal. Fiquei um ano no Odivelas e depois, com muita pena minha, o meu escalão terminou. Fiquei um ano sem jogar e mais tarde fui fazer testes ao Sporting e acabei por ficar.

Como lidou com o facto de ter jogado em dois grandes rivais (Benfica e Sporting)?
É um grande orgullho. São duas grandes instituições e representei-as com grande carinho. Posso dizer que joguei sempre num alto nível e ganhei muitos títulos em ambos os clubes. Devo-lhes muito. E, claro, é uma grande satisfação chegar a esta idade e ainda estar num clube grande como o Benfica.

Compensa ser jogador de futsal em Portugal?
Compensa se não nos dedicarmos exclusivamente ao futsal. Eu tirei o curso de Direito e conforme o futsal foi crescendo eu também fui procurando outras alternativas fora da modalidade. Continuei a investir nos meus negócios. Mas tenho noção de que sou um dos poucos felizardos do futsal. Obviamente que quem joga no Sporting e no Benfica – e, mesmo assim, nem todos – já ganharam algum bom dinheiro para viver. Mas ninguém enriquece no futsal, é preciso pensar sempre um pouco mais à frente.

Porque nunca jogou fora de Portugal?
Tive muitas propostas para sair, especialmente de Espanha, onde era bom para jogar e ganhar dinheiro, mas sempre fui muito agarrado a Portugal, à minha família e aos meus amigos. Por isso nunca nenhuma oferta me fez achar que compensaria sair de cá. Sempre me mantive em Portugal com muito gosto, não me arrependo de nada.

Enquanto jogador da modalidade, lamenta que o FC Porto não aposte no futsal?
Claro. Nós, os jogadores que andam em competição de alto nível, queremos grandes jogos. Obviamente que um Benfica – FC Porto ou um Sporting – FC Porto seriam muito bons para a modalidade. É uma pena que o futsal não se faça representar por um grande emblema do norte como o FC Porto.

Que diferenças vê entre o futsal quando começou a jogar e o de agora?
Muita diferença, em todos os aspectos. Desde os jogadores a toda a estrutura dos clubes para o futsal. A Federação e a aposta na Selecção também melhoraram muito. Está tudo muito mais profissional. Até a postura dos árbitros. Isto tudo para além dos vencimentos. As diferenças são mesmo muitas.

O que lhe falta conquistar?
A nível de clubes, felizmente, consegui ganhar tudo o que havia para vencer. Sou um dos poucos do País que podem dizer isso. Gostaria de ter ganho mais pela Selecção, e houve alturas em que o podíamos ter conseguido, mas era muito difícil. Faltou-me ganhar um título europeu ou um título mundial.

O que falta à Selecção para vencer uma competição internacional?
Não falta nada, não podemos apontar nada aos jogadores. Mas há grandes selecções, como são os casos de Itália, Espanha, Brasil, que continuam a ter gerações muito fortes. Mas acho que, para um país como o nosso, estar entre as seis melhores selecções do Mundo, só pode ser motivo de orgulho.

Porque decidiu renunciar à Selecção Nacional?
Sinceramente, nunca me tinha passado pela cabeça fazê-lo. Mas já são 37 anos e chegou a altura de me dedicar por completo ao Benfica. Estou muito orgulhoso de tudo o que fiz pela Selecção e por tudo o que lhe dei. Saio em grande. Só posso agradecer a toda a gente que me acompanhou ao longo destes anos. Sempre adorei jogar pela Selecção, fi-lo com um grande prazer.

O que está a pensar fazer depois de deixar o futsal?
Não penso muito na data em que vou deixar de jogar. O acordo que tenho com o Benfica é muito transparente: é completar a época e depois decidir o que é melhor para mim e para o clube. Obviamente que o fim está perto. A nível desportivo, depois de terminar a carreira, gostava de me manter ligado à modalidade. Ainda não sei bem em que funções, mas gostava de devolver ao futsal tudo aquilo que ele me entregou.

Que impressão tem das actividades do Sindicato?
É uma excelente instituição. Com muita pena minha, não está muito ligada ao futsal mas vejo que é um enorme auxílio para os futebolistas quando querem ver os seus direitos defendidos. O Sindicato faz muita falta ao futsal porque também há situações problemáticas na modalidade.


Perfil
Nome: Gonçalo Nunes Borges Ferreira Gomes Alves
D.N.: 01/07/1977
Clubes: Odivelas, Sporting, Grupo Desportivo Olival Basto, Bons Dias e Benfica.
Títulos: 1 UEFA Futsal Cup, 7 Campeonatos Nacionais, 7 Supertaças e 4 Taças de Portugal.
Internacionalizações: 171 (75 golos).