“Os jogadores devem criar o hábito do estudo”


Licenciado em Educação Física dá o exemplo.

Chegou ao Sporting em 2010 após ter ganho a Taça de Portugal pelo Belenenses. Desde então, Pedro Cary tem conquistado vários títulos e chegou às 100 internacionalizações pela Selecção AA.

Licenciado em Educação Física, Cary aconselha os jogadores de futsal e de futebol a não descurarem os estudos.

Quando decidiu ser jogador de futsal? O futebol nunca esteve em primeiro lugar?
Antes de jogar futsal fui praticante de duas modalidades: futebol e ténis. Acabei por não dar primazia a qualquer uma das duas, apesar de ter conseguido praticar as duas em simultâneo desde os cinco anos. Aos 15 anos, por influência de vários amigos, aca­bo por começar a praticar futsal federado.

Que clube representou no futebol de 11?
O Louletano. Comecei pelas escolinhas, com cinco anos, e depois passei para os infantis. Jogava a defesa esquerdo e, muito rara­mente, a médio centro.

Recorda-se do jogo de estreia na primeira divisão de futsal? Como foi esse momento?
Estava no Belenenses, que tinha uma equipa renovada. Fomos jogar ao pavilhão do Instituto D. João V e tínhamos uma boa equi­pa, com jogadores como o Diego Sol, o Vinícius, o Marcelinho, o Paulinho e o Marcão. Vencemos por 9-4 e é curioso porque o trei­nador do Instituto era o Nuno Dias [actual técnico do Sporting] e o guarda-redes era o André Sousa [actualmente no Sporting].

Quais são as principais características que um jogador de futsal deve ter?
Um bom domínio de bola e qualidade na recepção e no passe. Os jogadores de futsal não têm de ser tecnicamente fabulosos. Devem ser, sobretudo, inteligentes. Em termos psicológicos, têm de ter vontade, determinação e espírito de sacrifício, porque são muito poucas as equipas profissionais de futsal em Portugal.

Esteve um ano em Espanha. O que retira dessa experiência?
Consegui conciliar o desporto com o quarto ano de faculdade em Educação Física e Desporto, apesar de ter alguns treinos bidiá­rios. Aprendi a ser autónomo, a ter hábitos diferentes e a crescer como jogador e pessoa. Foi bastante enriquecedor.

Quais são as principais diferenças entre o futsal português e o espanhol?
Em Espanha a cultura desportiva é muito diferente. Joguei no terceiro escalão e os hábitos eram profissionais. Defrontei in­ternacionais por Espanha como o Aicardo, o Navarra e o Aarón. A Espanha consegue ser campeã da Europa em quase todas as modalidades: futebol, futsal, hóquei em patins e basquetebol.

Gostava de voltar a jogar no estrangeiro?
Gostava. É um sonho que ainda mantenho porque considero que tenho alguns anos de futsal pela frente. Sei que não é fácil ter propostas do estrangeiro porque muito dificilmente haverá clu­bes melhores que o Sporting, em todos os aspectos.

Em Portugal jogaria em qualquer clube ou ape­nas admite jogar no Sporting?
Essa é uma questão que não se coloca, porque já estou há seis anos no Sporting. É aqui que me sinto bem e, independentemen­te do meu contrato terminar no final da presente temporada, é minha intenção acabar a carreira no Sporting.

Quais são os atletas que mais admira?
O Pedro Costa, que actualmente joga no Japão. É um jogador no qual sempre me revi e, felizmente, tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente e de ser colega de Selecção. Ao longo da carreira fui conhecendo outros jogadores com características que admiro: Arnaldo Pereira, Ricardinho e João Benedito. Sinto-me um felizardo por poder jogar ao lado deles.

Tem três campeonatos, três Taças de Portugal e três Supertaças. O que falta conquistar?
Os títulos que ainda tenho por disputar até ao fim da carreira. Quem joga no Sporting tem de ter a ambição de conquistar to­das as provas na qual está inserido. A UEFA Futsal Cup e um Campeonato Europeu pela Selecção são dois títulos que gostaria particularmente de conquistar.

Além dos títulos, tem algo mais a cum­prir no futsal?
Felizmente já cheguei às 100 internacionalizações pela Selecção A. É um marco interessante, que me enche de orgulho e a todos os que viram no atleta Pe­dro Cary qualidades para poder singrar no futsal.

É natural de Faro. Sente que falta ao Al­garve uma equipa de futsal na I Divisão?
Além de faltar uma equipa de futsal, nota-se a ausên­cia de uma cultura desportiva na região. O Algarve ca­rece de uma equipa, que poderia abrir novos horizon­tes e patrocínios, mas o certo é que no futsal algarvio não vejo melhorias na vontade e no crer dos jogadores em elevar o nome da modalidade.

O SJPF vai lançar um Programa de Educa­ção e Formação para ajudar os jogadores a prepa­rar o pós-carreira. Como vê este tipo de iniciativa?
É uma iniciativa muito positiva. É fundamental os joga­dores estarem na faculdade no início das suas carreiras e criarem o hábito do estudo.

Compensa ser profissional de futsal?
É uma boa questão. Para quem joga no Sporting e no Benfica compensa. Mas creio que vale a pena fazer sacrifícios pelo futsal.

Há condições para que os clubes da I Divi­são sejam profissionais a médio prazo?
Não me parece. Há muitos clubes a fazer um esfor­ço, como é o caso do Fundão, mas muito dificilmente teremos um campeonato de futsal 100% profissional.

O futsal tem vindo a crescer cá?
Creio que não. Quando estava no Belenenses vivi uma realidade em que existiam mais do que dois clubes a lutar pelo título e agora assistimos a um duelo entre Sporting e Benfica. Há uma grande discrepância entre estas duas equipas e as restantes. Apesar de compe­titivo, julgo que o campeonato está nivelado por baixo.

Qual é a imagem que tem do trabalho de­senvolvido pelo SJPF?
Com muita pena minha, é um trabalho que não é muito visível. Acompanho o que tem sido feito pela televisão. Infelizmente quando se fala no Sindicato associamos logo a situações como salários em atraso. É uma ins­tituição que precisa de uma maior visibilidade, pelas iniciativas positivas que tem desenvolvido. O Sindicato é visto como o “parente pobre do desporto”. Só é ne­cessário quando algo de mal acontece.


Perfil
Nome: Pedro Miguel Fangueiro São Payo Cary
Data de nascimento: 10 de Maio de 1984
Posição: Ala
Clubes que representou: Louletano (formação, futebol), Fontainhas, Melilla (Espanha), Belenenses e Sporting.

Foto: Pedro Benavente/ASF.