Dos Mercenários Económicos à Economia das Tragédias


A leitura atenta do editorial do Dr. Fernando Nobre, sob o título em epígrafe, inserto na AMI Notícias, que se recomenda, serviu de mote a uma reflexão dos problemas que afectam o futebol. Como é tão pequeno o nosso Mundo!

O recurso à analogia funda-se, em primeiro lugar, no respeito que nos merece a obra da AMI e, em particular, a acção pessoal do seu presidente que confesso admiro e cujo exemplo procuro seguir.

Releva, em segundo lugar porque o que acontece na economia e na política global não deixa de ter reflexos profundos no futebol, sobretudo quando este é encarado como uma mera industria. Assim sendo, e mutatis mutandis os "mercenários económicos" responsáveis pela catástrofe humana em vários países subdesenvolvidos, existem no futebol e assumem o papel de "empresários desportivos" conduzindo a sua acção numa lógica meramente pessoal e patrimonial.

Por sua vez as "elites governamentais locais corruptas e incompetentes" desses pobres países, correspondem a muitos dos nossos dirigentes desportivos.

A construção de grandes projectos nesses países subdesenvolvidos - verdadeiros elefantes brancos - tem paralelo na compra de jogadores a preços astronómicos, alguns sem qualquer qualidade, ou nos investimentos em estádios, como foi o Euro 2004.

As dívidas que os países ditos subdesenvolvidos contraem, mais os juros que lhes são cobrados, estrangulam os respectivos orçamentos, tal como sucede com o passivo que os nossos clubes acumulam, levando ao desaparecimento e à falência de alguns históricos - Salgueiros e Farense - ou ao sufoco de outros - Boavista, Estrela Amadora, Belenenses...

É neste caos que, apesar de tudo, se fazem e emergem os grandes negócios, ou seja, se faz a Economia da Tragédia.

Não deixa também de ser sintomático, no futebol, a ascensão meteórica de uns quantos - políticos, agentes desportivos, dirigentes, empresas de construção, marcas desportivas, empresas de comunicação.

È pois neste paradigma de tragédia, de insegurança, de medo, de ruptura, onde impera o deficit, o incumprimento salarial a jogadores, o não pagamento a fornecedores, à segurança social e à administração fiscal, enfim de total irresponsabilidade, que florescem os grandes negócios.

No universo futebol tal como no subjacente à análise do Dr. Fernando Nobre impõe-se uma autêntica e efectiva regulação que obste aos despautérios e aos oportunismos.

Se assim não for acompanho o Dr. Fernando Nobre quando diz que "assim vai o Mundo, cantando e rindo levado para o precipício! Que loucura de ganância"

Eu, se me permite, Dr. Fernando Nobre, diria, assim vai o nosso Futebol, cantando e rindo para o pricipicio! Que loucura de ganância.

Estou, no entanto certo, que uma nova mentalidade vai emergir e frutificar e, face à actual situação, grite bem alto: BASTA.

Mais Opiniões.