Abismo auri-negro
Foi ontem declarada a insolvência do Sport Clube Beira-Mar, Futebol SAD. Foi com muita pena que vimos o clube descer à Segunda Divisão Distrital de Aveiro no final da última época desportiva. Apesar de em campo os jogadores terem sido inexcedíveis, o que lhes valeu o 10.º lugar na Segunda Liga, a formação aveirense não reuniu os pressupostos financeiros necessários para manter a equipa nos campeonatos profissionais (nem no agora denominado Campeonato de Portugal) e teve de (re)começar do zero.
A entrada de investidores no futebol português tem, em vários casos, agravado os problemas e afastado os adeptos dos clubes. Foi o que aconteceu no Beira-Mar. O Estádio Municipal de Aveiro, um dos palcos construídos de raiz para o Campeonato Europeu que Portugal organizou em 2004, deslumbrou-se com iranianos e italianos e apresentava uma assistência muito baixa face aos pergaminhos de um emblema histórico como o Beira-Mar.
A ligação directa dos sócios e adeptos aos clubes é essencial para que estes se mantenham vivos, como pudemos testemunhar numa reportagem que a revista do SJPF irá publicar brevemente sobre o actual momento dos aveirenses. O capitão Pedro Moreira, que acompanhou o clube nesta vertiginosa queda até ao futebol amador, falou-nos sobre o regresso do clube ao velhinho Estádio Mário Duarte, o regresso do clube aos adeptos e, com isso, a reaproximação das gentes de Aveiro ao Beira-Mar.
Pode parecer um paradoxo, mas foi preciso o clube cair nesta situação para as forças vivas da cidade voltarem a dar a mão ao clube. Isso ficou comprovado com os trabalhos de recuperação do Estádio Mário Duarte, abandonado à sua sorte durante anos a fio, e que agora voltou a abrir portas depois dos adeptos se voluntariarem para devolver o clube à terra.
O drama vivido pelo Beira-Mar, infelizmente, já foi visto noutras paragens: Salgueiros, Estrela da Amadora, Campomaiorense, Farense, Chaves, Académico de Viseu… São vários os exemplos de clubes que, tendo quase todos as más gestões como denominador comum, caíram no abismo para recomeçar do nada. Pelo caminho houve muitas vítimas, em especial os jogadores. Temos o dever de evitar que mais se sucedam. Pelo futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (3 de Novembro de 2015).