Rui Costa, o camisola 10


Impõe-se, antes de mais, referir, em jeito de confissão, que foste o meu ídolo, quer pela posição que brilhantemente ocupavas e desempenhavas no rectângulo de jogo, quer, sobretudo, pela forma com que o fizeste. Na verdade, o médio romântico, criativo, inteligente - autêntico "maestro" - sempre me inspirou e reflectiu o meu modelo de futebol. Jogadores como tu, Francescoli, Schuster, Laudrup, Platini ou Maradona fazem parte do meu imaginário e, com pena minha, o teu abandono leva-me a constatar que esse jogador está em "vias de extinção".

Concomitantemente, constata-se que outros valores supremos do futebol português têm vindo a finalizar a sua carreira desportiva, entre outros, Jorge Costa, Vítor Baía e João Pinto.

Dir-se-á, por outras palavras, que as "reservas de ouro" do futebol português, pese embora o despontar de novos valores, estão a decrescer. Ora, falar das tuas qualidades humanas e profissionais seria extremamente fácil mas redundante, já que outros o disseram avalizadamente nos vários aspectos que a análise encerra.

Fácil e redundante seria também porque, como soi dizer-se, "o que é evidente vê-se não se demonstra" e a tua vida é um exemplo paradigmático dessa evidência.

No entanto, a tristeza inerente à partida encerra, correlativamente, um sentimento de alegria numa dupla vertente.

Em primeiro lugar, se é triste ver partir quem muito ainda poderia dar, enriquecendo o futebol nacional e internacional, apraz registar que a tua decisão foi tomada no momento que julgaste oportuno o que quer dizer que, agora como em outras situações, soubeste sair pela "Porta Grande".

Por outro lado, e felizmente, o fim da carreira não configura tão somente uma meta mas também um ponto de partida.

É pois com dupla satisfação que constato a tua integração na estrutura dirigente do futebol, quer por traduzir uma medida defendida por mim enquanto presidente do Sindicato, quer ainda porque a excelência do teu futebol transportada para outras áreas, como dizia e bem Jorge Valdano, são garantia de êxito.

Em conclusão, choro a perda de um dos meus ídolos (Maradona foi outro) mas congratulo-me com o aparecimento de um novo dirigente que, agora como antes, prestigiará o futebol português. Por último, com votos das maiores felicidades, cumpre, em meu nome pessoal e de presidente da Direcção do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, manifestar total disponibilidade para resolver os problemas que afectam o futebol.

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