O lado negro da FIFA


A Comissão de Ética da FIFA puniu o presidente Joseph Blatter e o líder da UEFA, Michel Platini, com oito anos de suspensão. Uma decisão surpreendente. Por um lado, pela dimensão da sanção e, por outro, porque atinge os altos dirigentes em vez dos meros funcionários.

O poder da FIFA desde há muito que aguça o interesse dos vários agentes do futebol e se perpetua, estando nas bocas do Mundo pelos piores motivos. Blatter, por ironia do destino, acaba por ser eleito e denunciado pelo mesmo poder corrupto que o elegeu. Incapaz de fazer qualquer reforma estrutural, limitou-se a garantir a sua continuidade, promoveu e pactuou com gente indesejável para o futebol que não teve escrúpulos em denunciá-lo.

Se é verdade que este clima de suspeição é um duro revés para o futebol e para o desporto, não deixa de ser menos verdade que é uma oportunidade para quem vem a seguir limpar a má imagem e implementar reformas.

Num momento como aquele que vivemos é fundamental que cada um dos stakeholders assuma a sua responsabilidade, seja claro e transparente.

O retorno financeiro que o futebol gera tem de ser distribuído por todos os agentes e não apenas por meia dúzia de amigos que estão sentados à mesma mesa. Exige-se uma mudança de paradigma, mais solidariedade, melhor redistribuição. Os dirigentes devem servir o futebol em vez de se servirem do futebol. É urgente boa governação.

Nessa matéria, a FIFPro, que representa os futebolistas a nível mundial, tem de uma vez por todas exigir que os protagonistas -os jogadores – estejam nos órgãos de governação, fiscalizem a actividade e participem nos resultados financeiros. A FIFPro tem uma oportunidade histórica. Não pode ficar à espera do que acontece e do que os outros dizem. Não se pode comportar como quem critica. Tem de agir, ser exigente, antecipar soluções. Ser a voz activa dos jogadores junto de cada candidato e apresentar as suas reivindicações.

O abalo que este escândalo está a provocar não deixará de ter consequências no plano nacional, ao nível das federações e clubes. O futebol português não será excepção. Os danos dependerão da forma como saibamos preparar-nos para os seus efeitos! Que a força esteja connosco!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (22 de Dezembro de 2015)

Mais Opiniões.