Sérgio Conceição
Poucas coisas são mais fortes do que ataques ao carácter, dignidade e profissionalismo de um homem. Como tal, percebo a emoção das palavras do Sérgio ao afirmar que os pais, apesar de analfabetos, transmitiram-lhe "princípios fantásticos", como referiu, valores dos quais não abdica. Conheço o Sérgio e assino por baixo. É um amigo, homem de carácter, frontal, honesto, que se apaixona pelas causas que defende.
Se recuarmos no tempo e nos lembrarmos da raça de Sérgio Conceição enquanto jogador percebemos de que tipo de pessoa falamos. Um jogador inexcedível na entrega, no profissionalismo, na forma como disputava cada lance. Foi assim no Penafiel, no Leça, no Felgueiras, quando apareceu na I Divisão, no FC Porto, mas também lá fora, na Lázio, no Parma, no Inter, no Standard Liège, no Qadsia ou no PAOK. Foi assim em cada um dos 56 jogos que realizou pela Selecção Nacional. Honrou o país e a profissão de futebolista. Independentemente da cor ou do emblema que tivesse na camisola, o Sérgio deixava tudo em campo como se fosse daquele clube desde pequenino. O Sérgio veste a camisola.
Com a mesma paixão que se entregava ao jogo, Sérgio entrega-se aos amigos e à família. É um amigo, verdadeiro, desinteressado, pai e marido dedicado. De origens humildes, reconheço no Sérgio valores que por vezes parecem perdidos na sociedade. Maradona uma vez disse que ou era branco ou preto, mas nunca cinzento. O Sérgio é assim. Dele sabemos com o que podemos contar, não muda conforme o vento ou a situação.
Como treinador temos um Sérgio igual a si próprio. Um homem apaixonado pelo jogo, dedicado ao máximo, amigo dos seus jogadores. Os resultados que tem tido atestam isso mesmo. Sérgio, por tudo aquilo que fica dito, não merecia…
E depois da semana difícil que teve, Sérgio Conceição, mais do que ninguém, mereceu esta vitória. Um triunfo sobre todos aqueles que ousaram pôr a sua honestidade em causa.
Finalmente, quero parabenizar a Associação Nacional dos Treinadores de Futebol, que ontem celebrou o seu 30.º aniversário. A ANTF tem cumprido a sua missão e, prova disso, é a forma como os treinadores nacionais são hoje respeitados lá fora. A todos, cá e lá, um bem hajam do tamanho do nosso futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (19 de Janeiro de 2016)