Desporto intergeracional


Nos tempos mais recentes, muito se tem falado na afirmação de jovens jogadores portugueses no futebol nacional. Renato Sanches, João Mário e Danilo Pereira, que já fizeram, por motivos diferentes, manchetes de jornais, são apenas alguns dos muitos exemplos da qualidade que existe no futebol português.

Enquanto presidente do Sindicato dos Jogadores, é com satisfação que registo a aposta cada vez mais efectiva dos principais clubes portugueses no talento nacional. O estudo do Sindicato sobre a "utilização de jogadores portugueses e estrangeiros, reportado à 1.ª volta do campeonato", revela que mais de um terço dos jogadores utilizados tem menos de 23 anos. Um facto digno de registo e que coincide com o momento alto das nossas Seleções jovens.

Em ano de Campeonato da Europa e de Jogos Olímpicos, torna-se imperioso dar minutos de competição aos jovens jogadores portugueses para afirmarem a sua qualidade e o seu valor, que lhes permitam criar condições para uma participação europeia e olímpica das quais nos possamos orgulhar.

Importa no entanto ressalvar que esta é uma aposta que não deve ficar por aqui. Deve ser reforçada e o investimento na formação deve ser redobrado. O investimento na sua educação é o que melhore garante o seu futuro e o do futebol português.

Infelizmente pouco se tem falado do talento dos mais velhos, dos mais carenciados, dos desempregados, dos retirados, dos jogadores anónimos, que a seu tempo também emprestaram o seu talento, e de que maneira, ao desporto e ao futebol português.

Está na hora, numa lógica de solidariedade, de estabelecer um pacto intergeracional, onde mais novos e mais velhos coexistam como parte de um todo, onde ninguém seja deixado para trás e onde quem mais pode ajude quem mais precise.

Não chega estar de acordo com a "política de afectos" que o Presidente da República, e bem, reclama. É preciso, como ele o faz, praticá-la e o futebol não deve ser excepção.

O futuro do desporto depende de deixarmos de olhar para o nosso umbigo, depende de conseguirmos estabelecer pontes entre gerações. Este, salvo o devido respeito, é o principal desafio, o maior legado para o país e o desporto. Felizmente há bons exemplos. Mas são precisos mais, muitos mais.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de Março de 2016)

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