Como parar este "Jogo Duplo"?


A recuperar do abalo causado pela operação "Matrioskas", o futebol português é confrontado com nova investida da criminalidade organizada. Desta vez, a investigação da Polícia Judiciária procura identificar os responsáveis pela adulteração de resultados desportivos em jogos da 2.ª Liga. O "match fixing" é um flagelo à escala global. O futebol português não está imune e comporta factores de risco que devem ser cuidadosamente analisados.

Do lado dos jogadores, o incumprimento salarial e a falta de meios de subsistência aumenta a receptividade para a abordagem dos "intermediários" destas organizações criminosas. Do lado dos clubes, as dificuldades financeiras e a dependência do investimento externo para a "sobrevivência diária" propiciam a infiltração dos criminosos e o recurso à fraude desportiva.

O "mercado negro" de jogo e apostas tem ditado as regras e controlado os esquemas fraudulentos, não havendo um modelo de controlo e fiscalização capaz de travar a investida. Definir e uniformizar regras de licenciamento dos clubes para a competir e fiscalizar a sua actividade ao longo da época é dever dos agentes que regulam a actividade desportiva.

Sem clarificação e uniformização das regras, "ab initio", o futebol português continuará a saque. Tendo no horizonte a próxima época desportiva, devem ser encorajadas as boas práticas desportivas, assim como deve ser implementado um modelo de boa governação que, aliado a regulamentação desportiva intransigente e a um sistema investigatório coordenado, permita acabar com o sentimento de impunidade existente. 

A FIFA, a Interpol e a FIFPro têm colaborado com as instituições desportivas nacionais (o SJPF esteve presente numa acção de formação, que decorreu em Lisboa e envolveu 16 países, entre os dias 22 a 24 de Abril) para operacionalizar o "modelo dos três R": Reconhecer; Resistir e Reportar o "match fixing".

Esta política de "tolerância zero" visa sinalizar práticas ilícitas e munir os agentes desportivos de ferramentas para resistir e punir exemplarmente os infractores, após denúncia. Cabe aos Estados e a cada uma das organizações com responsabilidade dar um passo em frente.

O SJPF dará a sua resposta, apostando na educação dos atletas, através do projecto "Anti Match Fixing - Deixa-te de Joguinhos."

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (17 de Maio de 2016)

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