Valorizar o praticante


Terminaram os Jogos Olímpicos e, se a participação portuguesa se saldou pela conquista de apenas uma medalha, o bronze de Telma Monteiro no judo, a verdade é que houve muitos resultados positivos, sobretudo para um país que investe tão pouco no desporto, quer na formação quer nas condições que proporciona a quem se dispõe a fazer inúmeros sacrifícios para se bater com os melhores.

Ainda assim, os atletas que deram o melhor de si e projectaram globalmente o país, têm sido achincalhados na praça pública. Nem é preciso estar aqui a relembrar o ideal de Pierre de Coubertin, que toda a gente conhece de cor e salteado, mas estar nos Jogos ou conseguir uma marca pessoal inédita nunca pode ser visto como um fracasso.

Acresce que no desporto há muitos a competir mas, normalmente, só um a vencer. É normal e não diminui quem, dando o máximo ou estando num dia menos bom, não o consegue – e ninguém sofre mais com isso do que os próprios atletas.

Concordo, que esta é uma boa altura para discutir a política desportiva nacional. É urgente fazê-lo. A forma como se apoia o longo trajecto olímpico de cada atleta. É absolutamente essencial voltar a colocar o praticante no centro da política desportiva, apostar na sua formação integral, permitindo, por exemplo, que a sua preparação se desenvolva em harmonia com os outros aspectos da sua vida. É preciso dar-lhe condições para o exercício da sua modalidade e apoiá-lo regularmente – não apenas nas vésperas da competição ou após um sucesso.

Infelizmente, os últimos anos caracterizaram-se pela ausência dessa política dirigida aos praticantes e ao país desportivo. É urgente mudar.

Como dizia recentemente, são os atletas que alimentam os sonhos dos nossos filhos, que elevam o nome do desporto, do futebol, de Portugal. São eles os principais responsáveis pelas vitórias. Saibamos honrá-los, sobretudo nos momentos em que o nosso apoio é mais importante.

Esperemos que o recente triunfo no Europeu de futebol não sirva para os adeptos acharem que agora somos os maiores do Mundo, elevando a fasquia para um nível que um país de 10 milhões de habitantes e um mercado reduzido não pode ter, a não ser pontualmente.

Cultura desportiva precisa-se a todos os níveis! Urgentemente!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (23 de Agosto de 2016)

Mais Opiniões.