Tolerância zero
Os resultados combinados ("match fixing") assumem uma dimensão global e ameaçam a integridade das competições. Em Portugal, o fenómeno exige séria reflexão e coragem na abordagem.
Por um lado, o incumprimento salarial e a falta de meios de subsistência aumentam a receptividade dos jogadores, quando abordados pelos ‘intermediários’ destas organizações criminosas. Por outro, a "asfixia" financeira dos clubes torna-os dependentes daquelas organizações e dos seus esquemas fraudulentos.
Sem repensar os requisitos para aceder à competição, os mecanismos de controlo financeiro ou a idoneidade dos investidores, será difícil concretizar uma política que combata eficazmente o "match fixing".
A proposta de alteração à lei que rege a corrupção na actividade desportiva, promovida pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em colaboração com a Unidade Nacional de Combate à Corrupção, da Direcção Nacional da Polícia Judiciária, aplaude-se e constitui um inequívoco sinal da mudança que o desporto e o futebol exigem. Fernando Gomes marca pontos no que à transparência e credibilidade do desporto diz respeito.
A equiparação entre a moldura penal aplicável à corrupção no desporto e a moldura prevista para este crime na lei geral, o agravamento das penas aplicáveis ou a introdução da figura do "agente delator", são algumas das medidas indispensáveis para que o desporto deixe de consagrar um ambiente favorável à proliferação deste tipo de criminalidade.
Não existem fórmulas "perfeitas" para erradicar tais práticas. Para além de um enquadramento legal adequado, é necessário desenvolver uma política de prevenção eficaz e convocar todos os agentes para esta "batalha".
O Sindicato e a Federação estão a desenvolver um projeto – Anti Match-Fixing "Deixa-te de Joguinhos" - que, entre outros intuitos, visa esclarecer os agentes desportivos sobre a natureza do fenómeno, os riscos associados e as várias formas de actuação.
A relação de confiança que temos com os jogadores pode e deve ser potenciada, a favor da verdade desportiva, na defesa da integridade das competições.
"Reconhecer" as abordagens criminosas, saber "Resistir" e ter os instrumentos para "Reportar" às autoridades competentes fazem parte de um processo gradual, indispensável para a dignidade do desporto e das competições.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (11 de Outubro de 2016)