O 1º de Maio, o jogador de futebol e o seu silêncio...


A associação histórica do 1.º de Maio à conquista de direitos laborais não impede que a efeméride seja aproveitada para invocar outros direitos dos trabalhadores, concretamente do jogador profissional de futebol.

Na verdade, a dignidade do jogador só é integralmente defendida se for tratado como autêntico cidadão e, como tal, titular de relevantes direitos fundamentais. Constata-se, porém, que após 33 anos de democracia, no futebol subsistem autênticas restrições ao exercício dos mais elementares direitos de cidadania, como seja o da liberdade de expressão.

Assim, sem prejuízo, como é óbvio, do respeito dos interesses da respectiva entidade patronal, o jogador como qualquer cidadão pode e deve emitir livremente as suas opiniões.

Ora, o que impera é o silêncio compulsivo fundado no livre arbítrio de dirigentes e não no cumprimento de deveres emergentes do contrato de trabalho.

E o mais estranho é que muitos destes dirigentes, nomeadamente políticos, empresários, gestores, advogados, emergiram do 25 de Abril, pelo que deveriam defender e não preterir as conquistas decorrentes da "Revolução dos Cravos".

Neste contexto, quem trata assim os verdadeiros protagonistas do futebol não poderá estranhar a falta de credibilidade que este tem, ora no dirigismo, ora na arbitragem, ora no espectáculo e na indústria que lhe está associada.

Dir-se-á que a culpa é também dos jogadores que acatando servilmente essas imposições não assumem o dever de contestação conferido a qualquer cidadão.

Sem intuitos, porém, de desculpabilização é inquestionável que o jogador é o elo mais fraco da relação laboral, da qual depende económico-familiarsocialmente. Todavia, este facto não pode preterir a exigência de uma responsabilidade acrescida na denúncia e na conjugação de esforços para erradicar estes comportamentos. Em suma, o problema existe porque os jogadores não defendem, como devem, os seus direitos em situações em que arbitrariamente lhes são impostos, mas sobretudo porque ainda existem atitudes ditatoriais que era suposto já terem passado à história, com a agravante de serem tomadas como se essa fosse a normalidade.

O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol jamais aceitará estas anomalias, tudo fazendo para as combater. É obvio que outros direitos formalmente consagrados não são respeitados, surgindo à cabeça aquele que, por definição e natureza, está intrinsecamente ligado ao contrato de trabalho, ou seja, o de receber atempadamente o salário, com as consequências sócioprofissionais e familiares daí emergentes. Para tanto, reitera-se o empenho permanente na dignificação do jogador profissional de futebol, acompanhadoo e defendendo-o intransigentemente na salvaguarda dos seus direitos, ora promovendo acções autónomas, ora interpelando outras entidades para o cumprimento das obrigações que lhes são imputadas.

Assim, a voz do SJPF é em Maio a ressonância que ao longo de todo o ano proclama.

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