Entre muros e escadas


Trump anunciou a construção de um muro na fronteira com o México e proibiu a concessão de vistos a turistas e imigrantes oriundos de sete países. Uma promessa eleitoral que se tornou o "porta estandarte" de uma política velha num mundo novo.

O desporto e o futebol em particular são veículo para a circulação de pessoas num mundo global, o que deve fazer-nos refletir sobre os desafios que se avizinham e os problemas que todos os países, mais ou menos "murados", irão enfrentar nas próximas décadas.

Em Portugal, o SEF tem encontrado no futebol uma rede, mais ou menos organizada, de irregularidades. Vistos inadequados para o exercício da atividade desportiva, falsificação de documentos, contratos de trabalho de fachada para facilitar a conclusão do procedimento, representantes legais que desaparecem ao primeiro sinal de alarme, entre tantas outras práticas irregulares.

Será legítimo, a propósito destes comportamentos, deixar de procurar soluções adequadas, condenando todos?

Entre o muro americano e as escadas que, por vezes, se tentam construir para território português, e deste para a Europa, é preciso refletir sobre a visão política, os mecanismos de fiscalização e, sobretudo, o bem-estar e segurança daqueles que procuram a sorte num novo país, tantas vezes ignorados pelos seus cocidadãos.

Esta época tem registado inúmeros casos de jogadores abandonados à sorte e com a justiça à perna, depois de alguém lhes ter prometido a glória futebolística e a escada para entrada no mundo do futebol.

Merece o nosso maior repúdio a atitude daqueles que vivem à custa de esquemas para trazer jogadores dos seus países de origem, na maioria jovens, lançando cada um deles como peças num tabuleiro em busca do negócio de milhões que mude a sua vida.

Construir um muro entre fronteiras não será, certamente, solução. Nesta matéria preferimos construir pontes e escadas e nessa perspetiva promovemos parcerias com as autoridades e instituições desportivas, a nível nacional e internacional, defendemos uma fiscalização mais apertada, sem preconceitos ou discriminações, garantindo condições de humanidade para os cidadãos e jogadores que fazem parte do nosso futebol, independentemente da sua proveniência.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (31 de janeiro de 2017)

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