Avanços e retrocessos


O Parlamento aprovou, por unanimidade, a alteração da lei contra a viciação de resultados, que criminaliza a corrupção e outras práticas ilícitas que afetam a verdade desportiva, a lealdade e a correção da competição ou do resultado, acolhendo as propostas apresentadas pela FPF e às quais, desde a primeira hora, o Sindicato se associou.

Estou certo de que está dado o passo em frente para combater o fenómeno. Paralelamente será necessário um trabalho de prevenção, a montante, que permita aos agentes desportivos, e em especial aos praticantes, conhecer as ameaças, as regras em vigor e saber como reportar, de forma objetiva e segura, as abordagens de que são alvo, ou que chegam ao seu conhecimento.

Se conseguirmos aliar às sanções disciplinares e criminais aplicadas aos infratores um sistema de monitorização e denúncia eficaz, daremos outro grande passo para alertar consciências e erradicar o sentimento de impunidade que, por vezes, impera entre os agentes desportivos, quando falamos de resultados combinados ou, de forma mais abrangente, de corrupção associada ao desporto.

Estamos no caminho certo e o projeto "Deixa-te de Joguinhos", desenvolvido pelo SJPF e pela FPF, contribuirá para a educação e formação de que os jogadores precisam para adquirir as ferramentas necessárias à sua própria proteção. Se na matéria dos resultados combinados vivemos um período de progresso, registo com preocupação os retrocessos no relacionamento entre jogadores, treinadores e dirigentes com os árbitros em Portugal.

Semanalmente somos confrontados com casos de violência, verbal e física, para com os árbitros, associada a um discurso populista sobre "os problemas da arbitragem", debatidos fervorosamente em dia de derrota e esquecidos quando se ganha ou toca aos adversários.

Este ‘fado’ antigo no futebol português, fruto da cultura desportiva demagógica e incendiária, deve acabar. A integração das novas tecnologias, embora importante para a modalidade, não resolverá miraculosamente os problemas. "Jogamos o mesmo jogo" e se não iniciarmos um debate sério sobre os problemas da arbitragem nunca chegaremos ao patamar que queremos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (14 de março de 2017)

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