Mais justiça e menos justiceiros!


A semana que passou ficou marcada por novos episódios de violência dentro e fora das quatro linhas. É notória a tensão que se vive desde o principal escalão do futebol português até aos escalões de formação. Para um país campeão da Europa, a imagem atual e, em particular, o desprezo por princípios básicos na relação em comunidade é absolutamente inaceitável.

Mais importante do que condenar as condutas violentas é desencadear ações que façam a diferença. Congratulo a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto por convocar a família de futebol neste momento de tensão, dando a partir de cima um exemplo de diálogo e concertação, sem os quais não há desporto.

O futebol tem uma responsabilidade acrescida pela dimensão social, não podendo compactuar com condutas violentas e com um estado de permanente guerrilha, onde se torna difícil, se não impossível, distinguir o essencial do acessório. Muitos dos problemas que na prática afetam o desporto continuam, convenientemente, fora da ordem do dia.

Destaco o papel da justiça desportiva, sem a qual não é possível reprimir condutas desta natureza. O quadro sancionatório existe e a intolerância para com as condutas antidesportivas tem-se refletido no agravamento das sanções aplicáveis.

Ainda assim, a realização da justiça tropeça num obstáculo decisivo: o sentimento de impunidade. Os destinatários da regulamentação desportiva têm de sentir que, mais do que o agravamento das sanções, esta é aplicada de forma célere, através de procedimentos transparentes e com base no caso concreto, de tal modo que no final possamos concluir que a justiça também é cega no desporto.

Não faltam justiceiros no nosso futebol, dedicados à instrumentalização da justiça, o que dificulta a pacificação de conflitos que todos pretendemos. O combate à violência deve ser feito no terreno, todos os dias e, como tal, a grande aposta do Sindicato, no que aos jogadores diz respeito é a sua formação integral numa cultura de cidadania desportiva que influencie as próximas gerações.

Na relação com os parceiros pretendemos dinamizar a campanha "Em campo jogamos o mesmo jogo", devolvendo aos verdadeiros protagonistas a oportunidade de diálogo que tantas vezes tem faltado.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (11 de abril de 2017)

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